"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quinta-feira, 1 de março de 2012

Kid pre-A
















Tempos houve, antes dos proveitos retirados do sucesso dos Franz Ferdinand ou dos Arctic Monkeys, em que a Domino Records era casa quase certa de toda a música pop mais desafiadora que se fazia no Reino Unido. Nesse tempos em que o risco e a aventura eram uma prioridade, uma das contratações da editora londrina foram os Hood, colectivo de Leeds que, desde 1991, gira há volta dos irmãos Chris e Richard Adams. Praticantes de uma música de cariz reflexivo, em que a electrónica e os instrumentos analógicos convivem sem diatribes, os Hood estiveram na base, juntamente com os Talk Talk, os Bark Psychosis, ou os Disco Inferno, daquilo a que um dia Simon Reynolds chamou post-rock, muito antes de o "rótulo" ficar quase exclusivamente colado a uma certa forma de fazer rock instrumental progressivamente mais enfadonho. Ouvintes atentos devem ter sido os Radiohead, que de há uma meia dúzia a esta parte andam a vender a fórmula às massas, abertas à "esquisitice" desde que praticada pelas suas vacas sagradas.

Se a "provocação" da última frase vos espicaçou a curiosidade, recomendo-vos vivamente Recollected, a caixa de seis CD que a Domino acaba de lançar numa edição limitadíssima. No pacote podem encontrar a totalidade da obra dos Hood desde o início da ligação a editora, nomeadamente os quatro álbuns, uma compilação com os temas dos singles e dos EPs, e um disco com as raríssimas Hood Tapes. De fora, por razões óbvios, ficou o par de álbuns prévio lançado pela excelsa Slumberland. Do todo, destaca-se a obra-prima Cold House (2001), também merecedora de reedição isolada em vinil. Ponto de encontro de discretas pinceladas de guitarra e piano com a electrónica glitch, e com algumas derivações jazzísticas, Cold House é um disco granuloso, introspectivo e com um algum apelo pastoral que, grosso modo, resulta como uma espécie de Arab Strap depois de uma (suave) injecção de ritmo. À voz de Chris Adams, normalmente próxima de uma cadência spoken word, juntam-se Doseone e Why?, dois terços dos seminais cLOUDDEAD. São eles os responsáveis pelos "rappanços" alienados num trio de temas, contributo decisivo para o pendor esquizóide do conjunto.


"They Removed All Trace That Anything Had Ever Happened Here" [Domino, 2001]


"Useless" [Domino, 1997]

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