"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

domingo, 25 de março de 2012

10 anos é muito tempo #33








COMET GAIN
Réalistes
[Kill Rock Stars, 2002]





Se hoje, e em particular nos states, o saudosismo da "era" C86 é uma realidade indesmentível, durante cerca de duas décadas o carregar da bandeira da "causa" coube quase em exclusivo aos londrinos Comet Gain. Colectivo de formação pouco estável, no qual o mentor David Feck tem sido o único membro constante, não assenta apenas nas limitações que a catalogação indie tout court poderia sugerir. Mais do que isso, os Comet Gain são uma espécie de mods retardados, com predilecção por uma data de sonoridades de outras eras, o que deixa adivinhar uma veia coleccionista. Garage, punk, northern soul, riot grrrl, jangle pop, são os mais evidentes ingredientes do cocktail de bom-gosto que costumam ser os seus discos.

Depois de uns bons dez anos a pregar aos peixes, a banda começou a fazer-se notar com maior determinação no circuito indie mais atento. A responsabilidade por esta subida de nível cabe por inteiro a Réalistes, o quarto álbum da discografia e o primeiro a integrar o guitarrista Jon Slade, com currículo nos saudosos Huggy Bear. Sem suprir em absoluto alguma rugosidade que caracteriza as suas edições, os Comet Gain apresentam-se aqui com o disco mais polido à data, o que deixa sobressair a pop festiva das canções. A dar o mote, a abertura faz-se com o petardo "garageiro" de "The Kids At The Club", orgia de teclados ébrios e guitarras em desalinho cujo título, eventualmente, relembra as festas da tal "brigada do anoraque" de meados de oitentas. A mesma que é descaradamente citada em "Why I Tried To Look So Bad", pop-punk em despique vocal de Feck e Rachel Evans com dose de ingenuidade semelhante à de uns Talulah Gosh. A co-vocalista rende ainda mais em solitário, como bem atestam "Carry On Living" e "Don't Fall In Love If You Want To Die In Piece", baladas lo-fi dignas de uma Lolita confrontada com as primeiras mágoas do foro afectivo. Se este par temas permitem respirar mais fundo, outros, como o festim de sopros soul de "Labour", ou o ritmo frenético de "My Defiance", não dão qual concessão à preguiça e convidam à dança desenfreada. Neste último saliente-se a prestação nas seis cordas de Jon Slade, uma mais-valia presente ao longo de todo o disco.

Uma palavra ainda para as "estrelas" externas aos Comet Gain convocadas para Réalistes. É o caso de Kathleen Hanna (Bikini Kill, Le Tigre), que liberta um travo de rebeldia feminina nos guinchos vocodorizados do punkóide  e ruidoso"Ripped-Up Suite". Já Alan McGee, uma espécie de alma-gémea de David Feck, está presente apenas em espírito na versão de "She Never Understood" (dos "seus" Biff Bang Pow!), executada com competência e reverência.


"Why I Try To Look So Bad"


"My Defiance"


"Don't Fall In Love If You Want To Die In Peace"

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