"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Discos pe(r)didos #61








PERNICE BROTHERS
The World Won't End
[Ashmont, 2011]




Iniciado nas lides musicais como membro dos Scud Mountain Boys, banda pioneira do chamado alt-country, Joe Pernice, mudou radicalmente de azimutes quando formou os Pernice Brothers. Com esta nova banda, que justifica o nome por também incluir o irmão Bob, igualmente transferido dos SMB, leva já década e meia de dedicação a uma pop de recorte clássico com travo agridoce. Nesta empreitada, e apesar de o reconhecimento não extravasar uns quantos devotos, nos quais me incluo, merece figurar no panteão dos grandes artesãos de canções da América actual.

Depois da estreia auspiciosa com o delicioso Overcome By Happiness (1998), ninguém poderia prever ser Joe Pernice capaz de se superar ao segundo disco. Pelo caminho ficou um par de discos, um em nome próprio, outro como Chappaquiddick Skyline, apenas porque a obsessão pela perfeição do nosso escritor de canções não os considerou ao nível de puder ostentar a chancela Pernice Brothers. Sem desprimor para essas obras laterais, é imperativo afirmar que valeu a pena a espera, pois The World Won't End resulta como um dos mais louváveis compêndios pop, facção happy/sad, que o novo século gerou até à data. 

Envolto numa toada de tristeza enternecedora, The World Won't End não abre mão de uma certa dose de ironia, só possível graças à capacidade de Joe Pernice em conjugar as palavras. A título de exemplo, atente-se em "The Ballad Of Bjorn Borg", que usa a conhecida megalomania do ex-tenista sueco como analogia para o alheamento relativamente ao próximo comum em muitos casais. Ou então na ultra-refinada "Working Girls (Sunlight Shines)", que consegue incutir leveza num tema que fala de uma jovem que considera o suicídio como hipótese. Aqui também há que ter em conta a voz de Pernice, calorosa e afável, tal como o trabalho da banda, irrepreensível na criação das melodias mais luminosas e carregadas de sacarina. No mesmo comprimento de onda nos restantes temas, The World Won't End vai discorrendo os sentimentos mais indesejáveis sem grandes parcimónia. Tais como o remorso ("Our Time Has Passed"), a amargura ("7:30"), a descrença ("She Heightened Everything"), a depressão ("Cronulla Breakdown"), ou novamente o vislumbre do suicídio ("Bryte Side"). Na outra face da moeda, temas como "Let That Show" e "Shaken Baby", enaltecem, respectivamente, valores como a amizade e o amor incondicional.

Muitas vezes percorrido por um sentir soft-rock, por via do uso frequente de refinados arranjos e da elegância formal, The World Won't End firma-se indubitavelmente do lado do bom-gosto pela simplicidade dos processos. Sem qualquer tipo de adereço supérfluo, e com uma espécie de jangle-pop de arestas limadas, os Pernice Brothers privilegiam a eficácia melódica das canções com assinalável contenção, em desfavor das exibições de exagerado virtuosismo.


"Working Girls (Sunlight Shines)"


"7:30"


"Let That Show"

1 comentário:

O Puto disse...

Por tua culpa, comprei o álbum. Antes disso, apenas conhecia algumas músicas da banda.