"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Ao vivo #80
















Megafaun + Alto! @ MusicBox, 24/02/2012

Dos Megafaun não tinha propriamente um conhecimento profundo. Sabia, por exemplo, que são o trio (ao vivo um quarteto, com a adição de um baixista) composto pelos antigos companheiros de banda de um tal Justin "Bon Iver" Vernon. Em termos musicais o contacto resumia-se a umas audições superficiais do último álbum (homónimo, do ano passado), um disco percorrido por uma indie-folk com alguns apontamentos de sons acidentais.

Alguma curiosidade despertada por esse trabalho, somada de uma certa "fome de palcos", foi o suficiente para me fazer acorrer ao concerto da passada sexta-feira, com uma moldura humana acima do expectável. Aos primeiros sons há alguma surpresa, com a banda a demonstrar um cariz técnico que não era tão evidente no disco citado. Nesta fase inicial, os longos delírios instrumentais, com atenção a cada pormenor, são entrecortados pelas partes cantadas, às vezes a três vozes, de uma melancolia planante. Na parte intermédia do concerto, a banda deriva para territórios mais conservadores, tanto de uma country fiel às raízes, como de um southern rock que, no melhor, faz lembrar os My Morning Jacket e, no pior, os Eagles. Daí a banda retoma a faceta com que abriu a noite, reganhando um público progressivamente desligado e deixando fluir a beleza das harmonias vocais intercaladas pelo primor técnico.

Se o final do concerto propriamente dito foi em estado de graça, melhor foi aquela espécie de encore que os Megafaun tinham reservado. Primeiro com o impagável baterista a assumir o protagonismo num autêntico número de variedades que incluiu um "Fuck you, I won't do what you tell me" do qual poucos souberam extrair a ironia implícita. E depois quando caminharam para o meio da assistência, qual band of gypsies, entoando um repetitivo "Come on ease your mind" a que o público respondeu em coro. Lá no alto, vislumbravam-se os olhares de preocupação do staff da casa perante um dos momentos mais punk a que Lisboa assistiu recentemente. A banda, indiferente a tal reprovação, e possuída pelo entusiasmo de tão tardio horário, como foi feita referência, parecia querer perpetuar a coisa pela noite dentro. Caso tal tivesse acontecido, só sairia enriquecida a vida nocturna do agora tão concorrido Cais do Sodré.

Mais insólita do que a prestação dos cabeças de cartaz foi a escolha da banda da primeira parte, os portugueses Alto! que, ao que parece, devem ter alguns amigos nos lugares certos que tratam destes favores. Em antagonismo com o que se seguiria, são praticantes de um garage-rock devedor dos MC5, Blues Explosion, e quejandos, muito em voga por cá, como no passado já fiz referência. Pobremente personalizados, são também uma mescla de outros sons sessentistas, como os indesejáveis The Doors, trazidos a lume pelo irritante órgão que, no começo, até ameaça aproximações a uns Television Personalities (era bom, era...). 

Se muitas vezes já denunciei a falta de atitude em palco de muitas bandas nacionais, no caso em apreço tenho de confessar a falta de pachorra para o excesso dela. Em particular do vocalista que, ao longo da contenda e em jeito ensaiado, desfila um rol de clichés do rock "físico": ele enrola o cabo do microfone à volta do pescoço, ele solta palavrões forçados, ele põe a mão na genitália, ele parece estar num ginásio para patetas... E por falar em patetices, o que dizer daquele salto para o meio do público, de microfone em punho, ainda o número de circo mal tinha começado? Claro está que não faltou o grupinho de seguidores próximos, que lá à frente se agitava com o frenesim de quem assiste ao nascimento do rock'n'roll...

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