"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

No cinema da esquina


















Foto: Cat Stevens

O embrião dos Still Corners remonta a 2007, quando Greg Hughes, um cinéfilo devoto das bandas sonoras clássicas, se mudou para Londres e aí gravou um EP sob essa denominação. A banda propriamente dita só começou a tomar forma quando Hughes encontrou a cantora Tessa Murray. Para enquadrar a coisa já no mito em construção, ou no lugar-comum cinematográfico, dependendo da perspectiva, conta-se que esse encontro, absolutamente fortuito, ocorreu sob um denso nevoeiro numa estação de caminhos-de-ferro deserta. No ano passado, já como quarteto, os Still Corners libertaram o tema "Endless Summer", canção de uma beleza atmosférica em que Phil Spector e Ennio Morricone parecem ter-se reunido para musicar um película nouvelle vague. Ao dito, que evoca também os girl groups de sessentas, não falta sequer a mais surripiada batida de sempre. Com o burburinho criado por essa blogosfera fora, as editoras acotovelaram-se para os contratar.

O concurso pelos Still Corners foi ganho pela norte-americana Sub Pop Records que, há poucos dias, lançou Creatures Of An Hour, o esperado álbum debute. Infelizmente, e como em muitos casos de expectativas desmesuradas, o disco no todo está longe do nível daquele tema (incluído na dezena que compõe o alinhamento). Contudo, penso que isso não será impedimento à aclamação popular dos Still Corners, seguindo a lógica dos sucessos recentes dos Beach House e das Warpaint. E fala-se destes nomes porque, com eles, Creatures... partilha, respectivamente, o ambiente cinemático e a doçura angelical. No entanto, e salvas as devidas distâncias, penso que será mais adequado estabelecer comparações com o filme negro do segundo Portishead, na música, e as polifonias de Liz Fraser, na voz. Antes que me chamem louco, ou que algum louco fanático me excomungue, vou reduzir a coisa a uns "The xx de câmara" encabeçados por Julee Cruise.

Deixando de lado as sempre redutoras comparações, reconheçamos a Creatures... os devidos méritos, tanto na qualidade dos arranjos e na envolvência das texturas, como no encanto da voz, a um mesmo familiar e misteriosa. Não sendo qualidade, apenas característica, bastar-lhe-á o cariz "bonitinho" para que, a breve trecho ou, na pior das hipóteses, depois de a banda aterrar no cartaz de um festival do burgo, seja venerado por milhares de tugas. Vai uma aposta?

"Cuckoo" [Sub Pop, 2011]

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