"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

10 anos é muito tempo #32








FUGAZI
The Argument
[Dischord, 2001]




Depois de um percurso impoluto de aproximadamente 15 anos, nos quais construíram uma base sólida de adeptos, assente tanto nas ideias sócio-políticas como postura absolutamente independente, os Fugazi silenciaram-se em 2001. Para desespero dessa horda de devotos, ainda hoje não é claro que a banda esteja apenas num longo hiato, ou que tenha efectivamente terminado. Sendo válida a última hipótese, arriscaria afirmar, sob pena de fatwa por parte dos adeptos da ira berrada dos primórdios, que se despediram, musicalmente falando,  com o mais coeso, ambicioso, e conseguido dos seus seis álbuns.

Efectivamente, The Argument é um passo firme e consciente rumo a uma maior complexidade que não conhece amarras estilísticas, com a banda a conter a urgência em favor de uma linguagem sobejamente mais melodiosa. Quando se penetra nas estruturas intrincadas de cada tema, é impossível não pensar nos compinchas Unwound, também por esta altura a experimentar com derivações quase proggy. Este é também o disco em que, mais do que a catalogação post-hardcore, o rótulo post-punk assenta melhor aos Fugazi. As evidências surgem avulsas na veia experimentalista dominante e, mais especificamente, nas contaminações da música jamaicana em "Cashout" e "Oh", no ritmo nervoso de "Life And Limb", e nas pausas abruptas que sublinham cada "stop!" de "Epic Problem", este reminiscente do groove marcial corroído pelo gume das guitarras de uns Gang of Four. A paleta de instrumentos alarga-se também para lá da trindade rock, com o violoncelo do breve intro de abertura, ou o piano subtil  que surge em "Strangelight". 

Apesar dos riscos corridos na operação estética, The Argument não só abriu os Fugazi a novos públicos, como foi capaz de preservar a fidelidade cega dos seguidores de longa data, estes que, certamente, cresceram com a própria banda. Em boa verdade, diga-se que, tanto em matéria de ideário de rejeição em relação à norma vigente, como em raiva destilada pelas vozes alternadas de Ian MacKaye e Guy Picciotto (o baixista Joe Lally dá também um ar da sua graça no óptimo "The Kill"), os adeptos mais antigos ficam, apesar da evidente contenção, bem servidos. Em termos de agressão pura, não podíamos ainda deixar de referir o assalto sónico da dupla bateria e das guitarras contundentes de "Ex-Spectator".


"Epic Problem"


"Life And Limb"


"Ex-Spectator"

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