"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Ao vivo #70
















Bonnie 'Prince' Billy @ Teatro Maria Matos, 24/10/2011

Em qualquer uma das suas encarnações, Will Oldham é há muito um valor seguro junto de um nicho específico de público. Os discos como Bonnie 'Prince' Billy, o seu eu mais produtivo, sucedem-se com frequência assinalável, e ainda que sejam progressivamente ouvidos por menos gente (falo por mim e por mais uns quantos, obviamente), cada nova vinda ao rectângulo acontece em salas progressivamente maiores. Não é de espantar pois que, há várias semanas, o espectáculo do Maria Matos estivesse esgotado.

A escolha do cenário para o concerto de ontem não poderia ter sido mais feliz, pois além das excelentes condições de acústica, as dimensões apropriadas do palco permitem que Oldham e a sua banda, com o generoso número de cinco elementos, melhor possam explorar a musicalidade e a riqueza textural das canções, que muitas vezes não se adivinha na fragilidade das versões gravadas. Ao longo de mais de duas horas, incluindo os dois encores, percorre-se todo um vasto cancioneiro de década e meia de carreira. Na maioria dos casos, os temas surgem travestidos relativamente à sua gravação original, como se os músicos estivessem a presentear o público com uma versão única e irrepetível. Numa primeira fase, privilegiam-se temas mais ritmados, tingidos de uma country hillbilly que convida a bater o pé. Na fase intermédia, a introspecção abate-se sobre o palco como um manto negro. Apesar da duração da função, a voz de fácil trato de Oldham não dá qualquer sinal de fraqueza. Antes pelo contrário, mantém intacta uma assinalável expressividade que o próprio faz questão de sublinhar com os habituais gestos teatrais. A coadjuvá-lo, outras duas grandes vozes: Angel Olsen e Emmett Kelly. A dela é daquela beleza estranha muitas vezes associada à folk britânica, a dele mais genérica, mas compensada pela mestria nas funções de guitarrista, função essa que o consagra como uma das estrelas da noite.

Em clima de desanuviamento, a parte final do "tempo regulamentar" é de novo em tom de festa. É aqui que o mestre de cerimónia que o fato envergado por Oldham faz supor se liberta, dialogando com desenvoltura e algum humor nos intervalos das canções. Cabendo-me a mim decidir, terminaria o concerto por aqui, francamente em alta. Mas, como já atrás referi, houve regresso para duplo encore, o que além de ser causador de algum cansaço, parece-me não ter acrescentado nada de novo a um concerto previamente estruturado na alternância anteriormente descrita. Peço apenas que considerem este senão como pormenor de diminuta importância num dos melhores concertos a que Lisboa pôde assistir nos tempos mais recentes.

1 comentário:

Gravilha disse...

a meu ver os discos foram-se tornando cada vez menos interessantes, prova de que o domínio técnico não é o principal para se conseguirem bons discos. a coerência, a logevidade, a qualidade da "carreira" e os meios de divulgação cada vez mais democráticos explicarão, porventura, o tamanho progressivamente maior das salas. vi-o há uns anos (2003) no festival do porto com o Matt Sweeney. já não estava na melhor fase, mas valeu bem a pena.