"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Discos pe(r)didos #58








THE WENDYS
Gobbledygook
[Factory, 1991]




Nos alvores da década de 1990, não se sabe por pressentir a bancarrota iminente, se por remorso de ter enjeitado a contratação dos Stone Roses anos antes, Tony Wilson fez da Factory uma editora rendida à onda baggy. O gesto traduziu-se na contratação de um pequeno número de bandas a operar no cruzamento da pop com a dança, aparentemente sem qualquer critério que não fosse lucrar com a tendência que então agitava o Reino Unido. 

Do conjunto, não hesito em apontar os escoceses The Wendys como os únicos dignos de nota de destaque. Poucos meses após a formação, já a procissão baggy tinha passado o adro, o quarteto de Edimburgo lançava o primeiro álbum, merecedor de aclamação crítica mas, para o mal das necessidades económicas da editora, muito aquém das expectativas em termos de mercado. Talvez derivado das origens da banda, Gobbledygook distingue-se do grosso da produção da altura inscrita na mesma tendência mormente pelo sublinhado que põe na composição de canções pop escorreitas, deixando o frenesim dançante num segundo plano. A própria voz de Jonathan Renton privilegia o timbre melódico, em detrimento do tom sarcástico, como quem solta invectivas panfletárias, que era comum entre os seus pares. Por exemplo em "Pulling My Fingers Off", tem a suavidade mellow de um Tim Burgess (The Charlatans), também ele menos dado a efusividades que a maioria, enquanto que em "I Want You And I Want Your Friend" está próxima da expressividade dos épico-líricos pop de meados de oitentas.

Não se pense com isto que Gobbledygook é um disco mais apontado ao sentimento que aos prazeres da dança. Antes pelo contrário, convida a dançar sim, mas de uma forma contida, cool, sem o espalhafato galhofeiro de uns Happy Mondays. À semelhança destes, os Wendys resgatam as guitarras lânguidas de uns Stones da melhor safra, que libertam sensualmente sobre os baixos pulsantes e as batidas sincopadas. Neste último ponto revisitam-se estéticas post-punk, nomeadamente o ritmo esquizofrénico de uns The Fall em "Halfblind", inclusive relembrado em certas tonalidades da voz. Neste tema, e também nos groovíssimos "Removal" e "Halfpie" há um certo sentir afro que, arrisco dizer, com a contenção típica dos Wendys, antecipa em décadas os ritmos tão louvados dos hiper-mega-sobrevalorizados Vampire Weekend.

O inevitável destino da Factory, de todos conhecido, redundou na falência decretada em 1992, a punir anos de má gestão. Os Wendys viram-se assim sem editora, entregues à sua sorte, num cenário em que as guitarras vindas do outro lado do Atlântico falavam mais alto. Só voltaram a lançar um álbum, perante a indiferença generalizada, em 1999, pouco antes de porem um ponto final na carreira. Ficou assim por cumprir a profecia anunciada na derradeira faixa do seu excelente disco de estreia: "The Sun's Going To Shine For Me Soon".


"Pulling My Fingers Off"


"I Want You And I Want Your Friend"


"The Sun's Going To Shine For Me Soon"

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