"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O mistério da Santíssima Trindade
















Há precisamente dois anos, os Girls aterravam nestes ouvidos. Traziam na bagagem um debute singelamente intitulado Album que, apesar de tão pouco "googlável" como o nome da banda, acabou por constituir um daqueles pequenos fenómenos que crescem de boca em boca. Vinha recheado com um naipe de canções intemporais que, embora toscas, não enjeitavam desejos de grandiosidade. O autor, Christopher Owens, expiava demónios e aliviava dramas passados, porém com uma ironia que o esquivava do ridículo da auto-comiseração. E isso, é preciso que se diga meus senhores, é proeza ao alcance de poucos depois do jovem Morrissey... Depois veio Broken Dreams Club (2010), um EP de canções mais cuidadas, e com ele o alarme: parece que agora o "nosso" Chris quer ser  levado a sério...

A propósito do novíssimo Father, Son, Holy Ghost, gravado com uma sumptuosidade só possível em estúdios de alta qualidade, Owens veio afirmar que, no passado, os Girls eram lo-fi apenas porque não tinham acesso a melhores condições de gravação. Esse rapaz, se bem se lembram, era o mesmo que há escassos 24 meses declarava o seu amor pelos Guided by Voices e nós acreditávamos... A "mentira" seria desculpável se o novo disco fosse um disco convincente, o que, decididamente, não é. Tal como o antecessor, olha pelo retrovisor mas deixa a evidência de ir beber às fontes erradas. "Die", por exemplo, vive num limbo de indefinição entre o hard-rock bafiento de setentas e o glam retardado. É apenas um dos vários temas pródigo em solos de guitarras que cospem "azeite" em seu redor. Igualmente ricos em teor de gorduras, a maioria dos temas mais calmos (em número considerável) deixam na boca o amargo sabor do tenebroso soft-rock da mesma altura. No começo do já bem conhecido "Vomit" ainda há um assomo do Jason Pierce afectado que assombrava Album, mas este cedo dá lugar a uma variação daquele híbrido viscoso que na segunda metade de oitentas disputava as ondas hertzianas com o raçudo hair-metal. Bem esprimido, Father... ainda rende uma par de canções dignas de nota: uma delas é "Alex", contaminada por laivos power-pop que não ficariam mal nos Teenage Fanclub "maduros"; a outra é "Saying I Love You", um docinho que tresanda a fifties e - mais importante - recupera o Owens pateta que outrora nos seduziu. Duas em onze possíveis é muito pouco vindo de quem já nos deu tanto, mas nada que me impeça de vaticinar para Father... um futuro risonho. É que, não sei se já repararam, estes são tempos muito dados ao branqueamento de atrocidades musicais que, por decreto, não deveriam sequer ser mencionadas...


"Saying I Love You" [True Panther, 2011]

2 comentários:

Filipe disse...

Sou suspeito porque gosto bastante dos Girls e também deste novo álbum, mas a Magic também é muito boa para acrescentares a essa lista. :p

M.A. disse...

Não é das piores, de facto. Eu também gostei bastante dos primeiros Girls, pelo menos a este ponto http://april-skies.blogspot.com/2009/12/e-foi-assim-2009.html. Daí a desilusão.