"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Descida ao Inferno















Na bolsa de valores musicais as cotações são variáveis. O que hoje não vale um chavo, pode amanhã ter o valor do metal dourado, e muitos clássicos instantâneos tornam-se esquecíveis ao fim de um lustro. Neste contínuo de reapreciação e reavaliação, a outrora mal-amada década de 1990 (no fim de contas, a "minha" década!) já é ponderada com o distanciamento suficiente a permitir a descoberta de inúmeros tesouros perdidos. Não é, portanto, de espantar que essa era seja agora intensamente explorada pelo quase único ganha-pão actual da indústria musical: a reedição.

É neste contexto de redescoberta que me apraz registar a recuperação dos britânicos Disco Inferno, banda que, no lapso de tempo compreendido entre 1991 e 1995 esteve particularmente activa na facção mais desafiadora do rock de então. Tal como os Bark Psychosis, para os quais cedo perderam um dos membros fundadores, estiveram na génese daquilo que ficou rotulado de post-rock. Aqui o conceito não deve ser entendido como a fórmula instrumental já algo gasta que passou para o senso comum, mas antes como algo que, partindo de uma matriz rock, não conheciam amarras à aventura e à experimentação, tal como "definido" um dia por Simon Reynolds. E, no período acima referido, os Disco Inferno muito contribuíram para lançar novos desafios ao "género moribundo", com dois álbuns e uma mão cheia de EPs, qualquer um deles merecedor de figurar nas colecções de discos que não se limitam aos frutos de cada estação.

São os quinze temas constantes dos EPs que surgem agora reunidos na compilação singelamente intitulada The 5 EPs, uma dádiva tendo em conta que há muito se encontravam fora de circulação. Será esta a porta de entrada ideal para neófitos no mundo dos Disco Inferno, uma banda que, como poucas, soube integrar o sampler em contexto rock. É surpreendente, tal a mestria com que as peças são combinadas, saber que a base de qualquer uma destas quinze canções (sim, o termo faz todo o sentido) se baseia na sequenciação de sons de proveniências várias: rádios antigas e exóticas, jingles publicitários, coros infantis, vidros estilhaçados, pedaços de músicas alheia, e o que mais vier à rede. Mas a música dos Disco Inferno não rejeita o elemento orgânico, materializado nas cascatas delicadas das guitarras, presumivelmente apreendidas do "mestre" Vini Reilly. Organizado cronologicamente, The 5 EPs é bem demonstrativo da rápida evolução sonora da banda ao longo do tempo, da contemplação de paisagens do começo, às colagens frenéticas da fase derradeira. Fica um par de amostras, um de cada fase. No último, penso que facilmente vão identificar a proveniência da batida ostensiva, apesar enquadrada num carrosel multicor com uma década de avanço em relação a uns tais The Go! Team.


"Summer's Last Sound" [Cheree, 1992]


"It's A Kid's World" [Rough Trade, 1994]

Sem comentários: