GANG GANG DANCE _ Eye Contact [4AD, 2011]
Em relação aos GGD, tenho de admitir que nunca me senti particularmente seduzido pelas colagens surrealistas dos primórdios. E que também não foi a mudança estética do anterior e mui celebrado Saint Dymphna que me fez render ao colectivo nova-iorquino. Já o novo álbum (o quinto) é outra loiça... Caracterizado pela solidez e intersecção entre temas, Eye Contact é o estado actual da pop, num mundo acelerado e miscigenado culturalmente, materializado num disco. Para o melting pot concorrem melodias arabizantes, propulsões rítmicas dançantes, funk electrificado e abastardado, pedaços de velhas canções napolitanas, batidas tribalistas, revisões das "danças" de noventas, e o que mais vier à cabeça dos GGD. Sobre a unidade dos diferentes elementos, pairam os sintetizadores em estado líquido, em perfeita fusão com o exotismo da voz de Lizzi Bougatsos, uma espécie de Liz Fraser rendida ao esplendor multicolor dos ritmos. [8,5]
IMPLODES _ Black Earth [Kranky, 2011]
Banda pouco dada à luz intensa, estes debutantes de Chicago vivem num mundo gelado e obscurecido. Amigos do ruído e das atmosferas densas, resgatam heranças noise e da psicadelia. Escondidas sob as camadas de reverberação, as guitarras e a voz debatem-se para se erguer nas trevas. Nos melhores momentos, que compõem quase metade do disco, os Implodes conseguem os seus intentos, ao criar um ambiente de um frio glaciar que seduz por via de um hipnotismo soturno. No resto, que são os temas que ali parecem estar para encher, falta-lhes engenho para criar algo mais que descargas de distorção arrastadas. Talvez, um futuro próximo, traga maior clarividência de ideias. [6]
GIRLS NAMES _ Dead To Me [Tough Love / Slumberland, 2011]
Poderiam vir da costa oeste dos states, mas não, estes Girls Names são uma daquelas bandas que muito esporadicamente são geradas na conturbada Irlanda do Norte. E digo que poderiam porque têm todas as marcas identitárias do noise-pop - derivado dos seminais Black Tambourine - que por estes dias germina livremente por aquelas paragens. Há falta de traços distintivos, porém, exibem um invulgar sentido melódico que se manifesta em canções escorreitas, divididas entre um sol tímido e uma cave obscurecida, ou a meio caminho entre a exultação surfy e a seriedade introspectiva. A isto adiciona-se um alarmante travo vintage, e está lançada a hipótese de como soariam os Crystal Stilts se convivessem mais horas com a luz do dia. [7,5]
LET'S WRESTLE _ Nursing Home [Merge, 2011]
Sem grande alarido, os Let's Wrestle lá são firmando como um dos valores seguros da "nova" música britânica, ao ponto de já terem assegurado transferência para uma das maiores independentes do outro lado do Atlântico. Esta proeza é tão mais notável se tivermos em conta que são uma banda que não encaixa em qualquer das tendências que presentemente movem as massas. O seu maior trunfo talvez seja o conhecimento que têm, como poucos, dos truques com que cose uma boa canção rock, facção punky galhofeira, matéria que amiúde afloram nas letras. Por conseguinte, Nursing Home é, sem grande novidade, mais um disco pejado de temas de guitarras picadinhas e voz de puto reguila, que não aspiram a mais do que alimentar o espírito lúdico de banda e público, Desta feita, como bónus, oferecem um trio de temas em ritmo mais refreado, os quais, mais não são do que tiradas de um apurado sentido de humor, progressivamente de uma subtileza mais refinada. Aos comandos esteve Steve Albini que, pasme-se!, conseguiu fazer deste o registo mais alinhado com a "alta fidelidade" dos londrinos. À memória vem idêntico trabalho desenvolvido com os Wedding Present em Seamonters (1991), embora, claro, no caso dos Let's Wrestle sem o rigor sombrio daqueles. [7,5]
THURSTON MOORE _ Demolished Thoughts [Ecstatic Peace / Matador, 2011]
Não deixa de ser curioso constatar que, tal como o velho compincha J Mascis, outro embaixador da guitarra enquanto máquina fazedora de ruído, também o cabecilha dos Sonic Youth enverede pela via acústica na mais recente aventura em solitário. Mas, se aquele apostava sobretudo na nudez da canção, sublinhada pela quase solidão da guitarra, Thurston Moore investe mais na elaboração de um ambiente (soturno), deixando muitas vezes que longos devaneios instrumentais preencham a ausência das palavras. A acompanhar a guitarra, há um enchimento por via dos sintetizadores, da harpa, ou do violino, com este último a realçar o pendor melancólico que percorre o disco. Produzido por Beck, Demolished Thoughts acusa a imponência da sonoridade luxuriante dos trabalhos mais introspectivos do wunderkind. Por acaso, ou talvez não, remete para Sea Change (2002), o exercício de expiação da dor-de-corno perpetrado pelo rapaz encarregue da produção. Desconhecem-se é quaisquer desavenças no lar do casal Gordon-Moore... [7]