"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Ouvir/sentir
















Inegavelmente menos citados que os My Bloody Valentine, os Seefeel foram responsáveis por levar a fantasmagoria quase em estado líquido gerada por aqueles no incontornável Loveless (1991) a um estádio de maior depuramento. Com recurso às programações electrónicas e às guitarras tratadas, criaram paisagens sonoras de uma placidez a meio caminho entre os ambientes bucólicos dos Boards of Canada e as atmosferas plúmbeas do contingente shoegazer. Para melhor entendimento, recomenda-se a escuta de Quique (1993), a obra magna revitalizada com a edição redux de 2007.
No ano passado, movidos por um renovado interesse de público e imprensa, os Seefeel regressaram aos palcos, tendo, inclusive, sido anunciados (e cancelados) como uma das propostas da última edição do Primavera Sound. No que a música gravada diz respeito, a reunião já rendeu os primeiros frutos, com o lançamento (ontem) de Faults, um EP de quatro faixas em formato 10" que vem interromper um silêncio de 14 anos. Na nova formação, à dupla omnipresente Mark Clifford e Sarah Peacock, juantam-se Iida Kazuhisa (antiga baterista dos Boredoms) e Shigeru Ishihara (baixista e DJ ligado às correntes mais abrasivas da música electrónica). A primeira é responsável pela abertura dos Seefeel aos ritmos e às cadências quebradas do kraut, e o último imprime alguma rugosidade à matriz originalmente imaculada. Quanto à voz de Peacock, deixou de ser mero adereço. Emerge agora da densidade das texturas e ganha vida material.
Atentos às tendências musicais da última década e meia, em particular da facção electrónica, os Seefeel de Faults perderam em carácter lisérgico o que ganharam em abstraccionismo. No entanto, a linguagem que utilizam continua a apelar a todos os sentidos.


"Faults" [Warp, 2010]

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