No que toca a discos medíocres que, estranhamente, enchem páginas de jornais, o ano corrente tem sido pródigo. Exemplos (a lista é extensa, por isso, citam-se apenas os casos mais gritantes): La Ciccone, Miss Escarlate, Moby, Goldfrapp, Hot Chip...
Mas sosseguem os interessados em algo mais do que aquilo que a grande indústria tem para oferecer (para além de algumas viagens aos seus súbditos da imprensa), pois, ao contrário daquilo que já li, 2008 tem sido um ano rico em matéria de edições marcantes. Com a procissão ainda no adro, e enquanto se aguardam os novos de Silver Jews, My Morning Jacket, e Wolf Parade, são já precisos mais do que os dedos de uma mão para contar os DISCOS - assim mesmo, com maiúsculas - que realmente deixam mossa. A saber: Why?, Spiritualized, Atlas Sound, Fuck Buttons, No Age, Bon Iver. Detenha-mo-nos por breve instantes em For Emma, Forever Ago, o registo de estreia deste último.
Bon Iver (corruptela do francês bon hiver) é o nom de guerre de Justin Vernon, um jovem músico originário do Wisconsin. Após a dissolução da banda que mantinha com amigos de longa data, em finais de 2006, Vernon decide "hibernar" por algum tempo na cabana de caça que o pai possui num local inóspito daquele estado norte-americano. Esporadicamente, o pai visita-o para lhe levar alguns mantimentos, ainda assim escassos, pelo que, a alimentação durante aquele período de isolamento é feita à base carne de alguns veados, caçados pelo próprio. A partir das memórias de um amor passado, a tal Emma do título (o nome é fictício, garante o músico), as agruras do Inverno passado na cabana haveriam de render uma série de canções, belas e frágeis, improváveis para um cruel caçador de veados. Construídos apenas com voz (e que Voz!) e guitarra, a que foram adicionados alguns (poucos) sopros e uma bateria rarefeita, os nove temas que compõem For Emma... conheceram uma primeira edição limitada a 500 exemplares em meados do ano passado. A recepção foi tal que, logo de seguida, a independente Jagjaguwar se dispôs a fazer chegar o disco aos quatro cantos dos states. Através de um acordo de distribuição celebrado com a britânica 4AD, só muito recentemente For Emma... conheceu distribuição europeia.
No seu intimismo e na sua simplicidade, as canções de Bon Iver podem fazer lembrar Elliott Smith, Will Oldham, Sam Beam (Iron & Wine), ou até o dramatismo de um Micah P. Hinson. Porém, toda e qualquer comparação pecará sempre por defeito, pois este conjunto de canções, prenhes de uma espiritualidade que vai beber à soul, é único na forma como desnuda a alma do seu criador. Por vezes, ouvir For Emma... pode ser sentido como um acto de voyeurismo.
Muito provavelmente, estaremos perante o disco de uma vida. Ou de muitas vidas...
Mas sosseguem os interessados em algo mais do que aquilo que a grande indústria tem para oferecer (para além de algumas viagens aos seus súbditos da imprensa), pois, ao contrário daquilo que já li, 2008 tem sido um ano rico em matéria de edições marcantes. Com a procissão ainda no adro, e enquanto se aguardam os novos de Silver Jews, My Morning Jacket, e Wolf Parade, são já precisos mais do que os dedos de uma mão para contar os DISCOS - assim mesmo, com maiúsculas - que realmente deixam mossa. A saber: Why?, Spiritualized, Atlas Sound, Fuck Buttons, No Age, Bon Iver. Detenha-mo-nos por breve instantes em For Emma, Forever Ago, o registo de estreia deste último.
Bon Iver (corruptela do francês bon hiver) é o nom de guerre de Justin Vernon, um jovem músico originário do Wisconsin. Após a dissolução da banda que mantinha com amigos de longa data, em finais de 2006, Vernon decide "hibernar" por algum tempo na cabana de caça que o pai possui num local inóspito daquele estado norte-americano. Esporadicamente, o pai visita-o para lhe levar alguns mantimentos, ainda assim escassos, pelo que, a alimentação durante aquele período de isolamento é feita à base carne de alguns veados, caçados pelo próprio. A partir das memórias de um amor passado, a tal Emma do título (o nome é fictício, garante o músico), as agruras do Inverno passado na cabana haveriam de render uma série de canções, belas e frágeis, improváveis para um cruel caçador de veados. Construídos apenas com voz (e que Voz!) e guitarra, a que foram adicionados alguns (poucos) sopros e uma bateria rarefeita, os nove temas que compõem For Emma... conheceram uma primeira edição limitada a 500 exemplares em meados do ano passado. A recepção foi tal que, logo de seguida, a independente Jagjaguwar se dispôs a fazer chegar o disco aos quatro cantos dos states. Através de um acordo de distribuição celebrado com a britânica 4AD, só muito recentemente For Emma... conheceu distribuição europeia.
No seu intimismo e na sua simplicidade, as canções de Bon Iver podem fazer lembrar Elliott Smith, Will Oldham, Sam Beam (Iron & Wine), ou até o dramatismo de um Micah P. Hinson. Porém, toda e qualquer comparação pecará sempre por defeito, pois este conjunto de canções, prenhes de uma espiritualidade que vai beber à soul, é único na forma como desnuda a alma do seu criador. Por vezes, ouvir For Emma... pode ser sentido como um acto de voyeurismo.
Muito provavelmente, estaremos perante o disco de uma vida. Ou de muitas vidas...
6 comentários:
fabuloso, realmente... um dos discos deste ano (e do ano passado, quando saiu em edição de autor limitadíssima!...).
abraço.
concordo quase em absoluto com a short list de 2008 (retiraria os spiritualized e incluiria uns quantos outros - pete and the pirates à cabeça); quanto ao disco do bon iver é absolutamente arrebatador.
cheers,
Tens toda a razão, Pedro. Pete & The Pirates também tinha lugar nesta short-list. Eu é que me esqueci...
Cheers
Muito, muito bom.
Seguramente TOP10 de 2008.
Abraço
Falta aí que ainda está para vir o novo dos The Hold Steady...e por falar dos moços, acabei de ouvir a Stuck Between Stations na Radar. Finalmente abriram os olhos.
O For Emma...é também muito apreciado por cá.
Já gostei bastante de algumas coisas (Mountain Goats e este, assim de repente), mas continuo à procura de um DISCO, como dizes, em 2008. Mas esperanças elevadas para algumas coisas que aí vêm.
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