"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Going blank again #19

SOUNDPOOL

Origem: Nova Iorque (US)
Período de actividade: 2005-
Influências: Slowdive, Lush, Blonde Redhead, Stereolab
A ouvir: Dichotomies + Dreamland (Aloft, 2008)

MySpace

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Ao vivo #16














Animal Collective + Atlas Sound @ Lux Frágil, 28/05/2008

Desilusão, decepção, frustração - três palavras que exprimem o meu sentimento depois do concerto dos Animal Collective (AC) de ontem à noite. Com um início demasiado Panda Bear para o meu gosto, só ao quarto tema tive uma ligeira esperança de que a coisa "descolasse", quando Avey Tare pegou na guitarra e se aproximou do microfone. Foi sol de pouca dura, já que, ao fim de pouco tempo, o agora trio caiu nos mesmos devaneios inconsequentes. Compreende-se que haja uma opção por dar maior destaque ao último Strawberry Jam, nitidamente inferior aos dois álbuns anteriores, mas custa-me a entender que, mesmo assim, tenham deixado de fora do alinhamento o momento maior daquele disco. Falo obviamente de "For Reverend Green".
Depois de um concerto longo - demasiado longo - o encore (com "Grass" e "Who Could Win A Rabbit" acabaria por ser uma bêncão. Tivesse havido "Banshee Beat" e estariam quase perdoados de tão penosa prestação.
Em suma, algo que se esperava inebriante e acabou por ser entediante. Mas, uma boa dose da culpa poderá ser atribuída às altas expectativas criadas por um concerto mágico, lá para os lados de Cacilhas, há coisa de dois anos e meio.

Antes dos AC, e depois da interminável espera (mau hábito já habitual em algumas salas de concertos), passou pelo palco do Lux Atlas Sound, o projecto pessoal de Bradford Cox, frontman do Deerhunter. Passou e quase nem se deu por ele, já que Cox, sozinho em palco, optou por passar o breve concerto sentado no chão, tornando-se invisível para uma boa parte do público. Não retirando qualquer brilho à canções de sonho que conhecemos dos discos, esta estratégia poderá não ter sido a melhor, uma vez que não conseguiu prender a atenção da assistência que, na sua maioria, se comportou como se estivesse a ouvir música gravada.

Para o saldo francamente negativo da noite, muito terá contribuído o local das ocorrências: uma sala quente, abafada, com uma acústica sofrível e evidentes "barreiras arquitectónicas" à realização de concertos em condições decentes. Ainda para mais, apinhada de gente que ainda não percebeu que, para que duas pessoas que se desloquem em sentidos contrários se possam cruzar, é necessário que uma delas ceda a passagem. A menos que uma delas passe por cima... e, ás vezes, é o que apetece fazer...
Quanto ao preço das bebidas... bem... aos frequentadores daquele antro deveria ser vedado o direito de comentar o preço dos combustíveis...

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Daqui a pouco...

... o colectivo animal regressa à capital. Se as expectativas para o prato principal são grandes, maiores são para a ave rara que o antecede.

Atlas Sound "Quarantined" [Kranky, 2008]*

* A partir de Andy Warhol's Blow Job

terça-feira, 27 de maio de 2008

The deer hunter

No que toca a discos medíocres que, estranhamente, enchem páginas de jornais, o ano corrente tem sido pródigo. Exemplos (a lista é extensa, por isso, citam-se apenas os casos mais gritantes): La Ciccone, Miss Escarlate, Moby, Goldfrapp, Hot Chip...
Mas sosseguem os interessados em algo mais do que aquilo que a grande indústria tem para oferecer (para além de algumas viagens aos seus súbditos da imprensa), pois, ao contrário daquilo que já li, 2008 tem sido um ano rico em matéria de edições marcantes. Com a procissão ainda no adro, e enquanto se aguardam os novos de Silver Jews, My Morning Jacket, e Wolf Parade, são já precisos mais do que os dedos de uma mão para contar os DISCOS - assim mesmo, com maiúsculas - que realmente deixam mossa. A saber: Why?, Spiritualized, Atlas Sound, Fuck Buttons, No Age, Bon Iver. Detenha-mo-nos por breve instantes em For Emma, Forever Ago, o registo de estreia deste último.

Bon Iver (corruptela do francês bon hiver) é o nom de guerre de Justin Vernon, um jovem músico originário do Wisconsin. Após a dissolução da banda que mantinha com amigos de longa data, em finais de 2006, Vernon decide "hibernar" por algum tempo na cabana de caça que o pai possui num local inóspito daquele estado norte-americano. Esporadicamente, o pai visita-o para lhe levar alguns mantimentos, ainda assim escassos, pelo que, a alimentação durante aquele período de isolamento é feita à base carne de alguns veados, caçados pelo próprio. A partir das memórias de um amor passado, a tal Emma do título (o nome é fictício, garante o músico), as agruras do Inverno passado na cabana haveriam de render uma série de canções, belas e frágeis, improváveis para um cruel caçador de veados. Construídos apenas com voz (e que Voz!) e guitarra, a que foram adicionados alguns (poucos) sopros e uma bateria rarefeita, os nove temas que compõem For Emma... conheceram uma primeira edição limitada a 500 exemplares em meados do ano passado. A recepção foi tal que, logo de seguida, a independente Jagjaguwar se dispôs a fazer chegar o disco aos quatro cantos dos states. Através de um acordo de distribuição celebrado com a britânica 4AD, só muito recentemente For Emma... conheceu distribuição europeia.
No seu intimismo e na sua simplicidade, as canções de Bon Iver podem fazer lembrar Elliott Smith, Will Oldham, Sam Beam (Iron & Wine), ou até o dramatismo de um Micah P. Hinson. Porém, toda e qualquer comparação pecará sempre por defeito, pois este conjunto de canções, prenhes de uma espiritualidade que vai beber à soul, é único na forma como desnuda a alma do seu criador. Por vezes, ouvir For Emma... pode ser sentido como um acto de voyeurismo.
Muito provavelmente, estaremos perante o disco de uma vida. Ou de muitas vidas...

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Mais um coelho na cartola












De Glasgow, na Escócia, espécie de pátria adoptiva do género, chegam estes Frightened Rabbit (FR), mais um valioso contributo para a revitalização do indie pop da "velha escola".
Com os camaradas de editora The Twilight Sad têm partilhado palcos e também algumas semelhanças estéticas. Mas, ao contrário destes, as canções dos FR não resvalam para um certo dramatismo épico, pautando-se antes por uma simplicidade quase naïf que, a espaços, nos remete para os também escoceses The Vaselines.
Pelo menos, é destes ingredientes que se faz The Midnight Organ Fight, o recém-editado segundo longa-duração, por estes dias objecto de culto nesta humilde tasquinha.

Frightened Rabbit no MySpace

domingo, 25 de maio de 2008

Modfather goes fifty

John William Weller, conhecido simplesmente por Paul Weller, é um talento precoce, iniciado nas lides musicais ainda em plena adolescência.
Já com vários anos de palco, a estreia em disco dos The Jam - a banda que liderava e de que o pai era agente - aconteceria apenas em 1977, ano de ebulição punk. Inevitavelmente ligados àquele movimento, os The Jam preferiam citar as bandas mod da década anterior (The Kinks, The Who, The Small Faces) como influência maior, algo que geraria um movimento revivalista do qual eram líderes e que valeria a Weller a respeitosa alcunha de Modfather. Os anos que se seguiram foram marcados por uma intensa actividade, com seis álbuns de estúdio e um impressionante registo de dezoito singles consecutivos no Top 40 britânico, com a particularidade de alguns apenas se encontrarem disponíveis via importação. O seu legado marcaria algumas das bandas mais emblemáticas das décadas seguintes: The Smiths, Blur, ou Arctic Monkeys, só para citar algumas.
Em 1982, em pleno pico de popularidade, e incapaz de impor um novo rumo musical aos restantes membros, Weller dissolve os The Jam. Surge no ano seguinte à frente dos Style Council, praticantes de uma pop sofisticada com profundas marcas soul, R&B e até jazz, géneros de que Weller confessava ser apreciador, mas em que se mantinham as letras de cariz sócio-político que caracterizavam a banda anterior. Com relativo sucesso de ambos os lados do Atlântico, esta nova aventura foi mal recebida pelos fãs mais fundamentalistas dos The Jam. Com uma discografia algo irregular, os Style Council estiveram, no entanto, na génese da cena pop/jazz que marcaria a segunda metade dos 80s: Sade, Everything but the Girl, Swing out Sister, Matt Bianco...
Na década de 1990, Paul Weller iniciou uma carreira a solo que mantém até aos dias de hoje. Pelo meio, desempenhou ainda o papel de figura tutelar da vaga britpop de meados de noventa. Com muitos altos e alguns baixos, continua a ser um dos artistas mais respeitados no Reino Unido.
Paul Weller sopra hoje cinquenta velas. Cantemos-lhe os parabéns:

The Jam "That's Entertainment" [Polydor, 1981]

A police car and a screaming siren -
A pnuematic drill and ripped up concrete -
A baby waiting and stray dog howling -
The screech of brakes and lamplights blinking -

that's entertainment.

A smash of glass and the rumble of boots -
An electric train and a ripped up 'phone booth -
Paint splattered walls and the cry of a tomcat -
Lights going out and a kick in the balls -

that's entertainment.

Days of speed and slow time Mondays -
Pissing down with rain on a boring Wednesday -
Watching the news and not eating your tea -
A freezing cold flat and damp on the walls -

that's entertainment.

Waking up at 6 a.m. on a cool warm morning -
Opening the windows and breathing in petrol -
An amateur band rehearsing in a nearby yard -
Watching the tele and thinking about your holidays -

that's entertainment.
Waking up from bad dreams and smoking cigarettes -
Cuddling a warm girl and smelling stale perfume -
A hot summers' day and sticky black tarmac -
Feeding ducks in the park and wishing you were faraway -

that's entertainment.

Two lovers kissing amongst the scream of midnight -
Two lovers missing the tranquility of solitude -
Getting a cab and travelling on buses -
Reading the grafitti about slashed seat affairs -

that's entertainment.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Explosão cromática

Originário do Michigan, o estado dos Grandes Lagos, este power trio responde pelo nome de Awesome Color (AC): filhos bastardos do psicadelismo de Roky Erickson, mas que, não renegam a energia punk. Ou, por outras palavras, putos a quem o rock'n'roll corre nas veias.
Logo após terminarem uma série de datas como banda suporte dos Dinosaur Jr., os AC aprestam-se para entrar em digressão pela Europa, na qual o rectângulo tem direito a duas datas: 3 de Junho na Invicta (Passos Manuel) e, um dia depois, na capital (Lounge). Na bagagem trazem Electric Aborigines, o segundo longa-duração, tal como a estreia homónima lançado pela Ecstatic Peace de Thurston Moore. A iniciativa desta dupla descarga de electricidade parte da incansável Team Judas, gente que, na sombra, tem proporcionado alguns momentos únicos em solo luso.
Deixo-vos uma singela demonstração daquilo que não deverão perder. Há mais amostras aqui.

"Free Man" [Ecstatic Peace, 2006]

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Going blank again #18

ASOBI SEKSU

Origem: Nova Iorque (US)
Período de actividade: 2002-
Influências: Lush, My Bloody Valentine, Saint Etienne, Stereolab, Slowdive
A ouvir: Citrus [Friendly Fire, 2006]

MySpace

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Duetos #3

Kim Althea Gordon e Kimberly Ann Deal fazem das suas...

Sonic Youth (w/ Kim Deal) "Little Trouble Girl" [DGC, 1995]

terça-feira, 20 de maio de 2008

Juventude inquieta

There are nights when I think Sal Paradise was right.
Boys and Girls in America have such a sad time together.
Sucking off each other at the demonstrations
Making sure their makeup’s straight
Crushing one another with colossal expectations.
Dependent, undisciplined, and sleeping late.

She was a really cool kisser and she wasn’t all that strict of a Christian.
She was a damn good dancer but she wasn’t all that great of a girlfriend.
She likes the warm feeling but she’s tired of all the dehydration.
Most nights are crystal clear
But tonight it’s like it’s stuck between stations
On the radio.

Caso não houvesse outros motivos, a menção ao personagem da obra mestra de Jack Kerouac, logo na primeira linha, seria razão de sobra para que se desse outra atenção aquele que é, por ora, o último álbum dos nova-iorquinos The Hold Steady.
Filiado na família classic rock, com influências díspares que vão de Springsteen à cena eighties de Minneapolis (The Replacements, Hüsker Dü), passando pelas guitarras ruidosas dos Dinosaur Jr., Boys And Girls In America (2006 na América, 2007 na Europa) é um pujante retrato da juventude americana. Ou melhor, um retrato da juventude actual de qualquer país ocidental: os copos, as drogas, os engates, os anseios, as alegrias e as angústias, são todos ingredientes da escrita ímpar de Craig Finn.
Por feliz coincidência, Boys And Girls... traz selo de uma casa que hoje alberga também Paul Westerberg e os Lemonheads de Evan Dando, gente com muitas afinidades com o líder dos Hold Steady.
Aclamado por uma larga extensão da crítica, Boys And Girls... continua ignorado por uma boa fatia do público. É pena, pois é seguramente um dos discos mais viciantes do último par de anos.

"Stuck Between Stations" [Vagrant, 2007]

P.S.: Hoje mesmo, foi tornado público o primeiro avanço daquele que será o sucessor de Boys And Girls In America. Aqui.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Em escuta #29

Hoje, excepcionalmente, em dose dupla para tecer algumas considerações sobre dois discos que têm feito correr muita tinta.

PORTISHEAD
Third
[Island, 2008]

Quando foram notados, há quase década e meia, com o excelente Dummy, dois factores terão sido determinantes para o bom acolhimento daquele disco de estreia em regime downtempo: a ressaca da rave culture, e uma das muitas crises que o rock atravessava, no declínio dos movimentos grunge e shoegazing. Seguiu-se um segundo disco homónimo, pintado a tons mais negros, que não ultrapassava a mediania. Com tão parco currículo, para a construção do mito, muito terá contribuído o longo período de silêncio que se seguiu. Pondo fim ao hiato de onze anos, os Portishead regressam agora para gáudio dos muitos devotos.

Quando oiço a introdução de "Silence", sacada a um filme brasileiro, povo pródigo em tiradas de filosofia de pacotilha, tenho de admitir que me vem à memória um tema dos intratáveis Enapá 2000 (aquele cujo título tem quatro letras, começa por P e acaba por A). O referido intro dá o toque de exotismo, e dá também o mote para os primeiros sons, tingidos de samba que evolui para uma descarga proto-industrial na linha do conhecido "Machine Gun". Nada de particularmente entusiasmante, portanto. Este primeiro tema termina abruptamente, dando lugar a "Hunter", cabaret negro muito na linha do segundo álbum, numa transposição que não deixa de criar alguma estranheza.
Algo do pior de Third vem logo de seguida, com uma sucessão de três temas que remetem para aquele período em que os conterrâneos Massive Attack começaram a descair para o enfadonho. Ao sexto tema ("We Carry On"), surge o primeiro momento de brilho: início electrónico tenso, cortado a posteriori por uma guitarra eléctrica em progressão, num crescendo de tirar a respiração. Com a voz de de Beth Gibbons a pairar lá no alto, está criada uma das melhores canções da carreira dos Portishead. Melhor mesmo, só o derradeiro "Threads", num ambiente sinistro capaz de nos transportar mentalmente até Twin Peaks.
Sempre me pareceu que a voz de Beth Gibbons, herdeira das divas folk britânicas, soava melhor em ambientes mais arejados, como tão bem soube realçar Paul Webb (vulgo Rustin Man) no mui recomendável Out Of Season (2002). Em Third, tal acontece apenas em duas ocasiões: no curto trecho folk lo-fi de "Deep Water", e em 2/3 de "Small". O segmento intermédio deste último é um devaneio kraut digno de uns Clinic.
Não posso deixar de admitir que o formato EP, hoje de novo em voga, talvez fosse o mais adequado para este regresso algo frouxo, pois quatro temas dignos em onze possíveis é muito pouco para justificar o elogio exacerbado que tenho lido um pouco por todo o lado.

THE LAST SHADOW PUPPETS
The Age Of The Understatement
[Domino, 2008]

Num país em que a quase inexistente imprensa musical é feita por velhos jarretas, que pouca ou nenhuma afinidade têm com as linguagens rock, era de supor que uma banda tão jovem como os Arctic Monkeys fosse vista com alguma desconfiança. Para cúmulo, os congéneres bifes traziam-nos nas palmas e das mãos, e já se sabe que o orgulho portuga dificilmente admite recomendações vindas de um povo com meio século de cultura pop-rock.
Quando foi tornado público que o frontman Alex Turner tinha na calha um projecto orquestral com o companion de route Miles Kane (The Rascals), mudou-se radicalmente o texto. É que também se soube que os arranjos ficavam a cargo de Owen Pallett, senhor por detrás daquela coisa chamada Final Fantasy, viabilizada no tempo em que todos os que tivessem estado a menos de 500 metros dos Arcade Fire tinham direito aos quinze minutos de fama.

Em proveito próprio, The Age Of The Understatement é menos grandioso do que se esperava, e até bastante contido nos seus 34 minutos de duração. Nos momentos mais imponentes (o tema-título, "Separate And Ever Deadly", "Only The Truth"), o recurso ao adjectivo militarista talvez não seja desajustado. Como mais-valia, é imperativo destacar a boa conjugação das vozes dos dois rapazes, ora cantando em simultâneo, ora à vez. Os melhores temas ("The Chamber", "My Mistakes Are Made For You") vêm revestidos de um charme vintage que lhes confere alguma aura de perenidade.
Notando-se a ausência da ironia amarga que caracteriza as letras dos Monkeys, temas como "I Don't Like You Anymore" ou "The Time Has Come Again" não deixam de seguir a veia mais negra que marcou Favourite Worst Nightmare, o álbum do ano passado.
Presumindo tratar-se de um projecto one off, relativamente conseguido, The Last Shadow Puppets não deixa de ficar a perder na comparação com o a banda do seu mentor mais mediático. Nada mais do que uma curiosa excentricidade a que os rapazes têm todo o direito.

domingo, 18 de maio de 2008

Ch-ch-changes


  1. 'Heroes'
  2. Ziggy Stardust
  3. Fame
  4. Starman
  5. Space Oddity
  6. Ashes To Ashes
  7. Rebel Rebel
  8. Changes
  9. Life On Mars?
  10. Let's Dance

A lista supra foi publicada no número mais recente da Uncut. À semelhança do que já aconteceu com outros artistas (Paul Weller, John Lennon, The Smiths, The Beatles), a revista britânica apresenta uma lista ordenada daqueles que são, na opinião de uma série de músicos (e não só), as trinta melhores canções daquele a quem chamam o Camaleão. Entre os "votantes" conta-se gente tão ilustre como Robert Wyatt, Johnny Marr, Siouxsie Sioux, Alex Kapranos, Tony Visconti, Ricky Gervais, ou Alex Turner, ou gente tão insuportável como Keith Richards ou Dave Grohl. Discutível, como qualquer lista do género, os trinta temas escolhidos retratam de forma satisfatória uma carreira que leva já quatro décadas.
Não pretendendo abraçar a árdua tarefa de elaborar a minha lista pessoal, posso, no entanto, confessar-vos algumas certezas: do meu top ten não fariam parte o hard rock para motoqueiros de "Rebel Rebel", nem tão pouco o funk plástico de "Let's Dance"; em contrapartida, temas como "Rock'n'Roll Suicide" ou "The Man Who Sold The World" teriam lugar entre os primeiros. Quanto ao número um, por muito bom - e bom é dizer pouco - que "'Heroes'" possa ser, desceria um lugar, cedendo o trono a este:

David Bowie "Life On Mars?" [EMI, 1971/1973]

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Going blank again #17

BLACK REBEL MOTORCYCLE CLUB

Origem: San Francisco, Califórnia (US)
Período de actividade: 1998-
Influências: Spacemen 3, The Jesus and Mary Chain, The Velvet Underground, Ride
A ouvir: B.R.M.C. (Virgin, 2001)

MySpace

Suffering jukebox

Devido ao envolvimento de Stephen Malkmus e Bob Nastanovich, foram durante muito tempo olhados como um projecto paralelo de membros dos Pavement. Só por alturas do clássico American Water (1998), com que chegaram a um público mais alargado, ficou assente que os Silver Jews eram o projecto de um único homem, à volta do qual circulavam inúmeros colaboradores ilustres. Esse homem chamava-se - e chama-se - David Berman, apenas um dos maiores poetas vivos da canção americana. Seguiram-se Bright Flight (2001) e Tanglewood Numbers (2005) que, sem atingir a mestria daquele, não terão desiludido ninguém. Consta até que o culto tenha crescido.
Para este ano, Berman prometeu um disco diferente de todos os outros. Lookout Mountain, Lookout Sea chega dentro de um mês mas já foi escutado cá por casa. Estou pois, em condições de garantir que o criador não faltou à sua palavra: sem operar uma revolução profunda, Lookout... será certamente o mais variado, em termos rítmicos, de todos os discos dos Silver Jews, evidenciando também um maior apego às raízes. Nota-se ainda uma crecente importância do papel de Cassie Berman, esposa de David, no seio do projecto. Quanto à poética de Berman, essa continua a vaguear pelos recantos de uma América que pertence aos deserdados da vida. A autoria da magnífica imagem da capa pertence a Stephen Bush, pintor australiano.
Enquanto Lookout... não chega, proponho-vos uma recordação sob a forma de um vídeo que, mesmo não sendo oficial (desconheço que os haja), vale bem uns quantos visionamentos. I LOVE YOU TO THE MAX!

"Punks In The Beerlight" [Drag City, 2005]

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Punk sem idade
















São dois jovens com passado ligado ao hardcore: Randy Randall (voz/guitarra) e Dean Spunt (voz/bateria). Em conjunto respondem pelo nome de No Age. Weirdo Rippers, o disco do ano passado que reunia os primeiros EPs, resgatou-os à obscuridade.
Com o recém lançado Nouns este duo de Los Angeles toma a dianteira das novas apostas da histórica Sub Pop, com algum avanço sobre os simpáticos Fleet Foxes e, sobretudo, sobre a paródia dos neo-zelandeses The Flight of the Conchords.
Com uma guitarra, uma bateria, muitos pedais de efeitos, e uma atitude punk (no sentido lato), criam temas curtos em que citam os Black Flag, os Pavement dos primórdios, ou os My Bloody Valentine de Isn't Anything. Com estes condimentos, têm tudo para ser uma das grandes revelações do ano.

No Age no MySpace

terça-feira, 13 de maio de 2008

Pop insular

Nascidos das cinzas dos finados The Unicorns, os canadianos Islands revelavam em Return To The Sea (2006) um amadurecimento da fórmula criada por aqueles: uma amálgama a puxar para a bizarria de sons das mais diversas proveniências.
Um par de anos volvidos, estão de regresso com Arm's Way, disco que chega dentro de uma semana com chancela da Rough Trade, e primeiro após o abandono de Jamie Thompson, braço-direito de Nick Thorburn na feitura das canções bem-humoradas dos Islands. A julgar pelos temas já revelados, Arm's Way promete mais um passo evolutivo, com o aprimorar da referida fórmula.
Para aperitivo, deixo-vos um tema bem simpático que, não obstante adoptar para título o comparativo de superioridade de um conhecido "hino corta-pulsos" juvenil, promete fazer mossa nos dias solarengos que se aproximam.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Erva & Cogumelos Alucinogénios




















A avidez pela novidade que grassa pela blogosfera (e aqui faço mea culpa) terá feito com que o novo álbum dos Supergrass tenha passado despercebido a muita boa gente.
Sem ser genial - como também não o eram os anteriores -, Diamond Hoo Ha é um disco de rock meio tolo, descomplexado e bem esgalhado, capaz de de motivar alguns pulos no meio da sala de casa. Estamos pois, perante uma prova cabal de que o pretensiosismo, a dar para o sorumbático, não é característica comum a todos os nativos de Oxford.
Sem me desviar muito da temática inicial, e assinalando a habitual romaria do imenso rebanho de fervorosos ao centro do País a fim de prestar homenagem à gentil senhora que, em parceria com o Dr. Portas, nos livrou da maré negra, proponho-vos uma viagem ao passado:

"Mary" [Parlophone, 1999]

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Singles Bar #20



















THE GO-BETWEENS
Cattle And Cane
[Rough Trade, 1983]

I recall a schoolboy coming home
Through fields of cane
To a house of tin and timber
And in the sky
A rain of falling cinders
From time to time
The waste memory-wastes
I recall a boy in bigger pants
Like everyone
Just waiting for a chance
His father’s watch
He left it in the showers
From time to time
The waste memory-wastes

Ainda sob o efeito do post de anteontem, a ida e a vinda dos afazeres laborais de hoje fizeram-se ao som daquela que foi a melhor banda nascida no país que é conhecido pelos cangurus, a prosperidade económica, os nadadores ultra-sónicos, e a Nicole Kidman.
De entre as dezenas de pérolas produzidas pelos Go-Betweens, uma sobressai entre aos demais. Falo-vos obviamente de "Cattle And Cane", single de promoção ao álbum Before Hollywood, paradigma da perfeição através da simplicidade: toda a melodia é sustentada por três acordes de baixo repetidos em espiral, com guitarra e a bateria minimalista a servirem apenas de adorno. Para a atmosfera melancólica - sem cair na tristeza profunda -, contribui uma letra sobre remorso e arrenpendimento, meio cantada, meio falada por Grant McLennan. O som surge limpo, como que gravado no vazio.
Em 2001, "Cattle And Cane" foi eleita, por um painel de várias dezenas de personalidades da indústria musical, uma das dez melhores canções australianas de sempre. Se é verdade que as injustiças do passado não têm grande remédio, a distinção sempre é uma pequena compensação pela indiferença a que a banda de Brisbane foi votada pelo grande público.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Going blank again #16

MAPS

Origem: Northampton (UK)
Período de actividade: 2005-
Influências: My Bloody Valentine, The Radio Dept., Sigur Rós, Boards of Canada
A ouvir: We Can Create (Mute, 2007)

My Space

quarta-feira, 7 de maio de 2008

O Evangelho segundo São Roberto

















Na parceria de décadas dentro dos Go-Betweens (G-B), Robert Forster sempre foi visto como o contraponto boémio para a pacatez romântica de Grant McLennan. No período que se seguiu à morte súbita do segundo, fez ontem dois anos, quando preparavam aquele que seria o décimo álbum de originais dos G-B, Forster admitiu que poderia nunca mais gravar qualquer música.
Felizmente, regressa agora em regime essencialmente acústico com The Evangelist, aquele que é o seu melhor álbum a solo. Ao longo dos dez temas desta elegia arrebatadora, o espírito de McLennan paira a cada nota, a cada palavra, como se um convívio tão longo tivesse já criado uma espécie de fusão simbiótica entre dois estilos diferentes de composição. Essa presença chega quase a ser física nos temas para os quais chegou a contribuir ("Demon Days", "Let Your Light In, Babe" e "It Ain't Easy"), fazendo a memória recuar até 1988, ano da edição do essencial 16 Lovers Lane. Se bem que todos os discos dos G-B (talvez exclua Talulah) sejam essenciais.
Como essencial é The Evangelist, mais uma prova cabal de que os grandes discos não necessitam de seguir os ditames da moda. Oiçam-no aqui.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Good cover versions #7









MORRISSEY
"That's Entertainment" (HMV, 1991)
[Original: The Jam (1980)]

Senhor de uma certa arrogância (mais um eufemismo), na sua fase mais representativa, Morrissey raramente confessou influências vindas de dentro do meio musical. E quando o fazia, era para citar uma qualquer cantora semi-obscura dos sixties...
Para os mais perspicazes, era indisfarçável um certo paralelismo entre os retratos amargos do quotidiano britânico que povoavam muitos dos temas dos Smiths e as canções com que, poucos anos antes, um jovem, de seu nome Paul Weller, despertara consciências numa Inglaterra pós-punk.
Um pouco timidamente (esta versão é um b-side de Sing Your Life), em 1991, Morrissey dá finalmente a mão à palmatória. A escolha não poderia ser mais acertada, pois "That's Entertainment" não só é a melhor canção dos The Jam (e eles têm muitas e muito boas), como o mais valioso testemunho da condição da classe operária criado por um súbdito de Sua Majestade. Melhor mesmo que "Working Class Hero"...
O tom seco e interventivo usado por Weller no original, é substituído na recriação de Morrissey por um certo ar de desencanto. Único senão desta versão é a perda da ironia mordaz que caracteriza o original. Ainda assim, vale bem a pena. Quanto mais não seja como justa homenagem.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

The youngest was the most loved

Como já terão reparado os mais assíduos deste tasco, há já muito tempo que não me sentia atacado pelo chamado "Síndroma Alta Fidelidade" (Joe dixit).
O rapaz que motiva esta nova investida do vírus foi já alvo de semelhante tratamento enquanto parte integrante de um determinado combo. Mas se naquela ocasião se tratava de um top ten de todas as canções de uma banda singular, hoje proponho-vos uma lista daqueles que são, na minha opinião, os dez melhores singles da carreira a solo de Steven Patrick Morrissey.
Hoje uma figura pouco mais risível, tempos houve em que este cromo lançava música em quantidade e qualidade capazes de ombrear com a banda de origem. Não será por acaso que, aqui há uns anos, a antiga editora do rapaz tenha dedicado duas belas caixas com réplicas em CD dos singles editados nos anos que se seguiram ao desquite. Este vosso escriba é o orgulhoso proprietário de um exemplar da primeira, mas ainda não perdeu a esperança de deitar a mão à segunda...
Não surpreenderá pois que, nos 10+, os primeiros anos pós-Smiths levem a parte de leão:

10. "The More You Ignore Me, The Closer I Get" [1994]
09. "Tomorrow" [1992]
08. "Irish Blood, English Heart" [2004]
07. "Interlude" (w/ Siouxsie) [1994]
06. "We Hate It When Our Friends Become Successful" [1992]
05. "Suedehead" [1988]
04. "The Last Of The Famous International Playboys" [1989]
03. "My Love Life" [1991]
02. "Everyday Is Like Sunday" [1988]

Talvez por causa de uma guitarra muito marriana e de uma das melhores performances vocais de Moz, a escolha para o lugar do topo recai sobre um tema que julgo não ser dos mais imediatos. O dito conta ainda com um pequeno mas significativo contributo da voz única de Mary Margaret O'Hara (lembram-se?). No vídeo promocional, com o deserto do Nevada em pano de fundo, o protagonista dança de forma meio abichanada:

"November Spawned A Monster" [HMV, 1990]

sábado, 3 de maio de 2008

I got a hurricane inside my veins

Com seis álbuns (e uma dezena de EPs) nos dezoito anos que leva à frente dos Spiritualized, Jason "Spaceman" Pierce não será certamente o tipo mais prolífico deste mundo, particularmente desde a edição da obra-prima Ladies And Gentlemen We Are Floating In Space (1997). Contudo, os cinco anos de silêncio desde Amazing Grace têm uma justificação: em 2005, já com o novo Songs In A&E em preparação, Pierce foi internado de urgência devido a uma pneumonia bilateral. Segundo se conta, durante o período de convalescença, foram duas as ocasiões em que esteve naquela linha ténue que separa a vida da morte. Em artigo publicado no último número da Uncut, o músico garante que o título do novo disco - as iniciais devem ler-se Accident & Emergency - nada tem a ver com essa experiência, sendo antes uma alusão ao modo como habitualmente compõe. Como se depreende nas linhas que se seguem, o grave episódio terá sido mais marcante do que aquilo que Pierce afirma.
Composto por doze canções (de redenção) e seis breves interlúdios (intitulados "Harmony" e o respectivo número de ordem), Songs In A&E chega às lojas lá mais para o fim do mês. No entanto, este vosso escriba já teve o privilégio de o ouvir e pode afiançar-vos que é o mais depurado e humano de todos os discos dos Spiritualized. Salvas as devidas distâncias, comparações a 13, dos Blur, fazem algum sentido.
É certo que não faltam as secções de cordas, os coros gospel, os metais opulentos, e até uma queda para o lado experimental. No entanto, é tudo servido em doses bem medidas, com a voz vulnerável de Pierce a pairar acima de toda a instrumentação. O melhor exemplo deste estado de coisas é "Sitting On Fire": a voz, por vezes a definhar, parece arrancada do leito de um moribundo. Em matéria de beleza, nenhum outro tema superará "Don't Hold Me Close", uma balada que não destoaria em Loaded, dos Velvet, cantada em dueto com Rachel Korine (esposa do realizador Harmony, para quem Pierce compôs parte da banda sonora de Mister Lonely, filme a estrear no Verão). Igualmente tocante é "Goodnight Goodnight", a faixa de encerramento, com a citação de um tema de Daniel Johnston nos últimos instantes. A referência, conta Pierce no referido artigo, é uma forma de agradecimento pelo estímulo dado pelo norte-americano no seu regresso à música depois da doença.
A destoar da atmosfera de serenidade que caracteriza Songs In A&E, lá pelo meio encontramos dois momentos de maior tensão: "Yeah Yeah", descendente do mesmo Dylan eléctrico que serve de inspiração a Nick Cave, e "You Lie You Cheat", garage rock sujo na linha do disco anterior.
Sendo ainda precoce qualquer tipo de vaticínio em relação aos melhores de 2008, afirmo sem hesitações estar perante um dos mais sérios candidatos ao lugar cimeiro.
Como cartão de visita, via Pitchfork, um magistral vídeo filmado na Islândia a fazer lembrar uma cena de um determinado filme de Michel Gondry...

"Soul On Fire" (Sanctuary, 2008)

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Going blank again #15













ENGINEERS

Origem: Londres (UK)
Período de actividade: 2003-
Influências: Spiritualized, Cocteau Twins, Ride, Talk Talk
A ouvir: Engineers (Echo, 2005)

MySpace

20 anos de pop subterrânea

No dia 1 de Abril de 1988, em Seattle, Bruce Pavitt e Jonathan Poneman abandonavam em definitivo os seus empregos e davam vida a uma nova editora: a Sub Pop Records. Nesse dia, não passaria pela cabeça dos dois amigos que, poucos anos depois, ficariam intimamente ligados aquela que foi, para o bem e para o mal, a última grande revolução no universo rock. Durante um breve período, os olhares de todo o mundo desviavam-se para o noroeste dos Estados Unidos.
Com o declínio da chamada cena grunge (seja lá o que isso for), a editora passaria por uma ligeira crise. Já no decorrer do novo século, a Sub Pop surge revitalizada com um dos mais vastos e eclécticos catálogos da cena independente.
Com o propósito de assinalar esta data redonda, no fim-de-semana de 12 e 13 de Julho, a Sub Pop promove em Seattle um festival de aniversário . O line up integra, obviamente, muitos dos nomes do catálogo actual (Wolf Parade, The Ruby Suns, Low, No Age, Iron and Wine, Pissed Jeans, Mudhoney), mas também aparições únicas de glórias passadas (Green River, Beachwood Sparks).
A milhares de quilómetros de distância, há também motivos para sorrisos de satisfação: a Sub Pop tem prevista para breve uma campanha de reedições históricas. Nela se incluem o clássico Superfuzz Bigmuff dos Mudhoney (deluxe edition de 32 faixas de um EP originalmente com seis!) e alguns dos singles, a anunciar, da série Sub Pop Singles Club. Esta iniciativa, deveras original, consistia num serviço de subscrição, tal-qual uma revista, em que os assinantes recebiam mensalmente singles de diferentes bandas.
Para recordar, captado ao vivo, um tema que integrava a edição inaugural da série:

Nirvana "Love Buzz" [Live @ Tijuana (México), 17/02/1990]