Magik Markers + Pumice @ Museu Nacional de Arte Contemporânea, 19/04/2008Quando os vi pela primeira vez, num concerto memorável há coisa de três anos na ZdB, os Magik Markers (MM) eram um trio praticante de um certo noise rock da velha guarda em que a experimentação tinha rédea larga.
Neste regresso, surgem reduzidos a um duo, depois da saída da baixista Leah Quimby em 2003 , e trazem na bagagem Boss, o elogiado registo do ano passado que marca o encontro dos MM com o formato canção, muito na linha dos gurus Sonic Youth da "fase pop" (Goo, Dirty). Imutável permanece uma certa propensão para o improviso.
Talvez por força das limitações impostas pelo formato duo, nesta espécie de matinée para trintões patrocinada pela Filho Único, as canções surgem nitidamente transfiguradas, como que tentando contornar o vácuo criado pela ausência de um baixo. Assim, os temas mais arrastados, como "Circle" a abrir a sessão, surgem com as partes instrumentais esticadas até ao infinito em exercícios de pura abstracção. Nestes segmentos, o protagonismo da performance bizarra da frontwoman Elisa Ambrogio prende a atenção do público. Por contraponto, os temas mais enérgicos ("Body Rot", por exemplo) são servidos a uma velocidade vertiginosa, com a voz quase imperceptível. No arrepiante "Bad Dream/Hartford's Beat Suite" (com o baterista Pete Nolan na guitarra e um elemento da assistência nos sininhos), os MM optam - e bem - por ser fiéis ao original para criarem o melhor momento de toda a actuação. Para encerrar com chave de ouro, nada melhor do que esse docinho chamado "Taste".
Uma prestação competente e informal, quase em família, em que senti apenas a falta do assombroso "Last Of The Lemach Line", e que fica ainda marcada por um pequeno insólito da enorme placa que constitui a "parede falsa" atrás do palco a ameaçar abater-se sobre banda depois de ter sido usada como meio de percussão pela vocalista/guitarrista. O amplificador junto à mesma acabou por evitar a queda mas não evitou a estupefacção no público.
Antes dos MM, passou pelo "palco" Pumice, uma espécie de "mini-one man band" (com bombo, tarola, guitarra electro-acústica, fitas gravadas de distorção, e uma excelente voz) que é o alter ego do neo-zelandês Stefan Neville. Música fracturada, submersa no caldeirão do americana, mas com curiosos desvios que vão desde o pioneirismo DIY dos Swell Maps até à pop sonhadora do contingente da conterrânea Flying Nun. Uma bela descoberta que irá merecer aprofundamento.