Mercury Rev @ Aula Magna da UL, 29/11/2008Responsáveis pelo concerto da minha vida há meia dúzia de anos, os
Mercury Rev voltaram no passado sábado a entrar para o quadro de honra da minha extensa
gigografia, desta vez por motivos bem diferentes. Se o histórico espectáculo do Paradise Garage se caracterizou pelo realce dado à beleza das canções, apresentadas na sua versão mais despida, o
show da corrente digressão é uma super-produção que dá primazia ao lado cénico inerente a essas mesma canções, prenhes de misticismo e espiritualidade.
Por conseguinte, a banda surge em palco envolta num imenso manto de fumo, ao som de "Lorelei" dos Cocteau Twins. Ao fundo, onde antes tinham sido projectadas imagens alusivas a filmes, a discos, e a livros da preferência da banda, surgem agora, em contínuo, imagens de motivos naturais, científicos e cosmológicos. Com este enquadramento, e adornados por um jogo de luzes sumptuoso, os temas sucedem-se ininterruptamente, entrando na maioria das vezes em devaneios instrumentais que realçam as capacidades técnicas do quinteto de músicos.
Jonathan Donahue, no seu estilo
hiper teatralizado, é o mestre de cerimónias. Perante este cenário, por momentos, esquecemos o niilismo que caracterizava os Mercury Rev dos primórdios.
Embora estivessem a promover um novo e belo disco que uma boa parte dos
media ignorou (vá-se lá saber porquê!), os Mercury Rev têm plena consciência da relevância do clássico
Deserter's Songs (um dos melhores e mais importantes discos das últimas duas décadas, para que conste), o qual é brindado com a parte de leão do alinhamento que rondou a hora e meia de duração, com
encore incluído.
No final, deveras emocionado, sai renovada a minha fé no lado mais grandioso da música popular, algo abalada desde que uma trupe de quebequianos desatou a compor hinos apropriados para consumo em cerimónias religiosas de seitas evangélicas.
Como nota negativa, não poderia deixar de destacar as deficientes condições da sala, que nos fazem questionar o habitual preço elevado dos bilhetes dos concertos que lá se realizam: desconfortável, com uma acústica que deixa muito a desejar e, de forma indirecta, algo inibidora das emoções de um público, na generalidade, demasiado contido.
Alinhamento: "Snowflake In A Hotworld" "Holes" "Black Forest (Lorelei)" "The Funny Bird""You're My Queen""People Are So Unpredictable""Diamonds""Tonite It Shows""Tides of the Moon""Dream of A Young Girl As A Flower""Opus 40""Once In A Lifetime" (versão quase irreconhecível do tema dos Talking Heads)"Godess On A Hiway" "The Dark Is Rising" "Senses On Fire"