MERCURY REV
Deserter's Songs [V2, 1998]
Foi editado, faz hoje dez anos, um dos discos fundamentais na definição do meu gosto musical. Antes de Deserter's Songs, já os Mercury Rev tinham feito correr muita tinta com os seus primeiros registos, marcados por um psicadelismo de propensão sónica e com uma boa dose de loucura à mistura.
Depois da aclamação inicial, sem qualquer vínculo contratual, a banda viu-se na eminência de entregar a alma ao Criador. Este período de inseguranças e incertezas é, de resto, sintetizado na última frase de "Holes", a faixa que abre o álbum: "bands, those funny little plans, that never work quite right". Em boa hora seriam resgatados pela nova editora de Richard Branson, promotora do disco que constitui seguramente uma das mais radicais reinvenções do universo pop/rock.
Em termos teóricos, Deserter's Songs corresponde à transladação imaginada de uns Pink Floyd da primeira safra - a chamada "fase Syd Barrett" - para o vastidão do great wide open americano. Na prática, estamos perante algo mais do que um mero disco pop, uma espécie de conto de fadas, nocturno e outonal, que convida a olhar o firmamento. Imutável em relação ao passado, mantém-se o assumir do risco, o gosto pela experimentação, mais evidente a cada nova audição desta obra incontornável.
No aspecto técnico, Deserter's Songs demarca-se da "concorrência" pela panóplia de ferramentas de que os seus autores se socorrem: flautas, saxofones, teclados vários, serra tocada com arco, secções de cordas luxuriantes, vocoders, coros celestiais, e tudo o que se possa imaginar para criar um ambiente, no mínimo, idílico. Já o conteúdo lírico, assinala o início da deriva metafísica que tem marcado todos os registos dos Mercury Rev de então para cá.
Os primeiros frutos do caminho desbravado por Deserter's Songs não se fizeram esperar: logo no ano seguinte, os Flaming Lips, velhos companheiros de estrada, punham fim a década e meia de desventuras e semi-obscuridade com o fulgurante The Soft Bulletin; meses depois, os Grandaddy pariam The Sophtware Slump, completando assim a Santíssima Trindade daquilo a que alguém chamou de New Cosmic Americana.
Coincidência ou não, os Mercury Rev regressam hoje às edições discográficas, não com um, mas com dois álbuns: Snowflake Midnight em formato físico, e Strange Attractor para download gratuito.
Correndo o risco de me estar a repetir, gostava que ficassem a saber que devo aos Mercury Rev aquele que é o melhor concerto da minha vida, com hipotética reedição já dentro de dois meses. É precisamente ao vivo que as estranhas ambiências criadas no vídeo abaixo fazem todo o sentido...
Depois da aclamação inicial, sem qualquer vínculo contratual, a banda viu-se na eminência de entregar a alma ao Criador. Este período de inseguranças e incertezas é, de resto, sintetizado na última frase de "Holes", a faixa que abre o álbum: "bands, those funny little plans, that never work quite right". Em boa hora seriam resgatados pela nova editora de Richard Branson, promotora do disco que constitui seguramente uma das mais radicais reinvenções do universo pop/rock.
Em termos teóricos, Deserter's Songs corresponde à transladação imaginada de uns Pink Floyd da primeira safra - a chamada "fase Syd Barrett" - para o vastidão do great wide open americano. Na prática, estamos perante algo mais do que um mero disco pop, uma espécie de conto de fadas, nocturno e outonal, que convida a olhar o firmamento. Imutável em relação ao passado, mantém-se o assumir do risco, o gosto pela experimentação, mais evidente a cada nova audição desta obra incontornável.
No aspecto técnico, Deserter's Songs demarca-se da "concorrência" pela panóplia de ferramentas de que os seus autores se socorrem: flautas, saxofones, teclados vários, serra tocada com arco, secções de cordas luxuriantes, vocoders, coros celestiais, e tudo o que se possa imaginar para criar um ambiente, no mínimo, idílico. Já o conteúdo lírico, assinala o início da deriva metafísica que tem marcado todos os registos dos Mercury Rev de então para cá.
Os primeiros frutos do caminho desbravado por Deserter's Songs não se fizeram esperar: logo no ano seguinte, os Flaming Lips, velhos companheiros de estrada, punham fim a década e meia de desventuras e semi-obscuridade com o fulgurante The Soft Bulletin; meses depois, os Grandaddy pariam The Sophtware Slump, completando assim a Santíssima Trindade daquilo a que alguém chamou de New Cosmic Americana.
Coincidência ou não, os Mercury Rev regressam hoje às edições discográficas, não com um, mas com dois álbuns: Snowflake Midnight em formato físico, e Strange Attractor para download gratuito.
Correndo o risco de me estar a repetir, gostava que ficassem a saber que devo aos Mercury Rev aquele que é o melhor concerto da minha vida, com hipotética reedição já dentro de dois meses. É precisamente ao vivo que as estranhas ambiências criadas no vídeo abaixo fazem todo o sentido...
"Opus 40"
5 comentários:
fanático que sou pelo 1º registo, quando ouvi este "second coming" não queria acreditar que eram a mesma banda. tentei várias vezes ouvi-lo mas não dá mesmo. Por vezes as drogas fazem toda a diferença...
São gostos...
Pela parte que me toca, gosto de ambas as facetas, cada uma à sua maneira.
Mesmo que não gostes, tens de admitir que o Donahue é melhor vocalista do que o 1.º.
canta melhor mas o anterior tinha mais carisma:-))
Gosto muito do "Yerself Is Steam", mas prefiro o "Deserter's Songs", talvez porque o ouvi mais vezes. Ignorei por completo o "Secret Migration", pois pareceu-me um abuso da fórmula dos dois discos anteriores, mas espero redimir-me com os dois discos novos e com o concerto que se aproxima. Abraço!
É um disco muito bonito, e um grupo cujo género musical acho algo indefinível, o que é sempre bom pois confere-lhes uma identidade única. Ouço sempre com um prazer renovado. O concerto próximo abre-me o apetite, mas coincide com um aniversário na família...
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