"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

sábado, 23 de junho de 2007

O DISCO DO DESASSEGO

BIG STAR
Third/Sister Lovers (PVC, 1978; Reedição Ryko, 1992)

Depois de nos dois primeiros dois discos, inspirados pela música dos Beatles e dos Kinks, terem criado autênticas odes à celebração da juventude, lançando as bases daquilo que se convencionou designar de power pop, tudo levava a crer o terceiro álbum iria ser o do estabelecimento definitivo dos Big Star como uma das grandes bandas da década de 1970 (em termos comerciais, entenda-se).
Amputados de Chris Bell, que partilhava com Alex Chilton os créditos da composição nos registos anteriores, os Big Star entraram em estúdio em 1974 apostados em gravar o seu terceiro disco destinado a edição no ano seguinte e tudo parecia correr de feição. Mas os demónios da alma que tinham levado à saída de Bell pareciam também ter-se apoderado de Alex Chilton, o que teve forte repercussão no resultado final de Third/Sister Lovers.
"Kizza Me" e "Thank You Friends", os temas de entrada no disco, ainda trazem alguns ecos do fulgor juvenil de Radio City, embora logo aí se note na voz de Chilton um ar de desencanto até então desconhecido, logo confirmado de seguida no negríssimo "Big Black Car". De aí em diante Third é um tocante exercício de catarse, atingido o clímax nos temas "Holocaust" e "Kangaroo", na década seguinte popularizados junto da comunidade indie pelas versões dos This Mortal Coil. Third tem ainda uma sentida versão de "Femme Fatale" dos Velvet Underground, que é a prova de que por esses dias as influências da banda eram outras.
Apesar de todo o arrojo ao nível dos arranjos (um nítido passo em frente) e da sublime prestação vocal de Alex Chilton, quem não gostou do despojamento de Third foi a editora da banda, que se recusou a editá-lo. Três anos após a data inicialmente prevista e do fim dos Big Star, era finalmente lançado aquele que será provavelmente o maior disco esquecido de sempre.
Ao ouvir hoje a música dos R.E.M., The Posies, Primal Scream dos primórdios, Teenage Fanclub, The Replacements, Jeff Buckley, e até dos Foo Fighters da primeira safra, percebe-se que os Big Star não foram esquecidos por todos. Antes assim...
Thank you, friends. Wouldn´t be here if it wasn't for you.

3 comentários:

Shumway disse...

Grande disco.
Umma banda azarada e cheia de "fricções" internas.
Restam-nos três documentos de culto.

Joe disse...

Olha que ele há coisas do demo!...
Já tem acontecido ver aqui um post, e depois "responder" com outro no meu tasco. Anteontem coloquei lá um post com a versão dos This Mortam Coil para o Kangaroo, em que naturalmente faço uma brevísima menção a este álbum, mas desta vez foi sem reparar que tinhas escrito isto. Tinha estado a ouvir o It'll end in tears, meio por acaso.

Este disco é arrepiante... E já que falas no Chris Bell, descobri há pouco tempo o único disco dele (I am the Cosmos), que é um verdadeiro mimo. É lá que vem o original do You and Your sister, que a Kim e a Tanya cantam no Blood, dos TMC.

Abraço!

M.A. disse...

Coicidências felizes :)
Nem imaginas o tempo que eu andei à procura deste disco! Um dia, sem estar à espera, acabei por tropeçar nele.
Quanto ao disco do Chris Bell, já o ouvi várias vezes mas ainda não tive coragem de o comprar ao preço que o vi à venda. E de facto You and Your Sister é o melhor tema do "Blood"

Abraço