"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

segunda-feira, 11 de junho de 2007

DISCOS PE(R)DIDOS #11

SHELLAC
At Action Park (Touch and Go, 1994)

Depois da formação flutuante dos Big Black e do projecto one-off Rapeman, Steve Albini parece ter encontrado em Bob Weston (baixista) e Todd Trainer (baterista) os parceiros ideiais para dar continuidade à demolição do edifício do rock'n'roll, de tal forma que a formação dos Shellac prossegue inalterável até aos dias de hoje. Dada a precisão irrepreensível demostrada pelo trio neste seu primeiro álbum, é fácil perceber o porquê de tão longa união.
At Action Park é, apesar da importância dos projectos anteriores, um passo em frente na carreira de Albini, pelo menos ao nível da execução instrumental. As letras, essas continuam corroídas daquele sentimento anti-social, vagamente nerdish, vagamente sexista, que por alturas de Songs About Fucking já tinham valido o epíteto de misantropo ao seu autor. Não são para se levar muito a sério e, por vezes, até têm uma certa piada.
Os claros sinais de evolução tornam-se logo visíveis na abertura com "My Black Ass", onde o baixo pulsante presta a devida vénia aos Wire dos primórdios. Após um final abrupto, entramos em "Pull The Cup" com o arranhar (literalmente) das cordas da guitarra, depois entra a bateria, logo a seguir o baixo e, apesar da ausência de palavras, temos talvez a canção mais digna desse nome que os Shellac alguma vez fizeram. Por sua vez o groove minimalista de "The Admiral" só perde a sua vocação dançante nas palavras cuspidas por Albini.
O trio de canções que se segue ("Crow", "Song Of The Minerals" e "A Minute") dá uma ideia do que poderia ter sido In Utero dos Nirvana sem a operação de cosmética levada a cabo por Scott Litt.
Por seu turno, o desacelerado "The Idea Of North", com voz de Bob Weston, pega na herança deixada pelo seminal Spiderland dos Slint e estabelece a ponte com a emergente cena post rock norte-americana. O metalizado "Dog And Pony Show" parece recolher frutos da experiência de estúdio de Albini com os Helmet poucos anos antes, enquanto os vocais do petardo "Boche's Dick" evocam a memória do incontornável Jello Biafra.
A fechar com chave de ouro, em registo jam, os vários andamentos de "Il Porno Star" fazem a súmula do que ficou para trás.
Com todas as suas referências, tanto do passado, como contemporâneas, At Action Park demonstra uma clareza de ideias única, tornando-se um documento fundamental para melhor apreender a facção mais leftfield da música popular norte-americana do último quarto de século, seja isso math rock, post hardcore, noise rock, ou... simplesmente... rock!
NOTA: A recordação deste "clássico" vem a propósito da edição de Excellent Italian Greyhound, disco que quebra um silêncio de sete anos por parte dos Shellac e que, espera-se, esteja um dia destes disponível aqui na terrinha.

5 comentários:

eduardo disse...

O novo dos Shellac andava no blog das Bolachas Gratis. Infelizmente o disco desilude um pouco.
O meu preferido é o "10.000 Hz", as faixas de abertura dão cabo de mim...

Shumway disse...

É isso, puro rock.
Talvez não seja o meu favorito (inclino para o "10.000 Hz"), mas tem uma canção ("The Admiral") que sempre me fascinou.

Abraço

M.A. disse...

Também gosto muito do "1000 Hurts" ("Prayer to God" é mesmo o meu tema preferido dos Shellac), mas prefeiro. Do novo já li umas críticas que, embora não fossem muito entusiasmadas, também não eram más. Mas vou ouvir para tirar as minhas conclusões.

Já agora: "10.000 Hz" não é um disco daquele duo francês chato como a potassa? Apenas uma diferença de comprimento de onda, portanto :)

M.A. disse...

(No final da 1ª frase queria dizer que prefiro este)

eduardo disse...

é tudo uma questão de zeros... :-)