"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quarta-feira, 27 de junho de 2007

EM ESCUTA #16

EARLY DAY MINERS
Offshore (Secretly Canadian, 2006)

Os Early Day Miners (EDM) são um combo oriundo do estado norte-americano do Indiana que vagueia livremente por entre as diversas correntes contemporâneas da música dita alternativa (post-rock, sadcore, americana, space-rock) sem, no entanto, se deter em nenhuma delas. Embora de formação não estanque, os diversos músicos participantes nos cinco discos já editados pelos EDM gravitam à volta de um trio nuclear no qual pontifica Dan Burton.
O meu primeiro contacto com Offshore deu-se em finais do Verão passado, pouco tempo após a sua edição. Confesso que as primeiras audições não foram suficientemente convincentes, pelo que ficou em banho-maria até esta segunda oportunidade que se tem vindo a revelar mais do que merecida.
Com produção a cargo de John McEntire (o senhor Tortoise), Offshore é um disco de ambiências cinemáticas no qual, apesar de toda a saturação ao nível instrumental, parece pairar uma sensação de quietude reconfortante.
A porta de entrada dá-se com "Land Of Pale Saints" longo instrumental onde a bateria maquinal e as nunaces sobrepostas das guitarras criam um efeito hipnótico. Sem que nos demos de conta, após nove minutos, entramos em "Deserter" onde a voz surge pela primeira vez: primeiro a de Dan Burton, depois a de Amber Webber (Black Mountain, e agora também nos Lightning Dust). O dueto entre ambos cria um momento pacificador, com o espírito dos saudosos Blue Nile a pairar lá no alto.
O método da "fusão" entre canções é de novo transposto para "Sans Revival", canto dolente de redenção interpretado apenas por Burton. Mas o grande momento de Offshore é mesmo o assombroso "Return Of The Native", com Amber Webber a chamar a si o protagonismo que lhe está vedado nos Black Mountain. Somos então guiados pelos acordes da guitarra até "Silent Tents", mais um instrumental. E o círculo fecha-se em "Hymn Beneath The Palisades", o sexto e derradeiro tema, que após diversos crescendos abortados nos conduz à casa da partida.
Fica então a sugestão para aqueles dias mais sombrios, ou até chuvosos, que a época estival também tem: a música destes EDM poderá ser companhia bastante aprazível.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

I REALLY LIKE LOBSTERS

São apenas dois mas valem por muitos!
Ontem, meio por acaso, assisti a mais uma prestação dos Lobster ao vivo. Depois da meia dúzia já lhes perdi a conta, mas garanto que nunca são demais.
Com a boa disposição que lhes é característica, esta dupla de miúdos não se sente intimidada perante nenhum tipo de público. Dá gosto ver o prazer que sentem naquilo que fazem, sem qualquer tipo de pretensiosismo, coisa rara nestes meios.
A habitual comparação ao som Lightning Bolt, não só não os embaraça, como lhes dá uma aura de contemporaniedade pouco comum por cá.
Além de ter disfrutado de uma bela meia hora de música, fiquei ainda a saber que os Lobster têm disco pronto com edição agendada para Setembro.
Resta-nos esperar que num país sob o signo do Gato e da Doninha - ambos bichos de mau odor - haja espaço, por muito exíguo que seja, para o perfume da Lagosta...


EVERYTHING IS OLD

€ 27,00 + o eurozito da praxe cobrado por aquela cadeia de lojas com nome idêntico ao de uma companhia de ar condicionado.
Foi este o preço que paguei pelo bilhete do concerto dos Arctic Monkeys de 18 de Julho próximo, promovido pela recém criada Everything is New. Lembrando os preços já praticados por estes senhores no festival de Algés, é a isto que eu chamo uma entrada a matar!
Mas em que país é que esta gente pensa que vive?

domingo, 24 de junho de 2007

PAVEMENT MEETS THE BEATLES

Depois de um começo com alguma indefinição entre as cenas baggy e shoegazing, os Blur souberam reinventar-se como os dignos recuperadores da cultura mod para o fim de século, tornando-se uma das maiores bandas do Reino Unido.
Em 1997, cansados das "guerras" do brit pop alimentadas por uma certa imprensa tablóide, dá-se nova metamorfose no som da banda londrina com a edição do seu álbum homónimo, o quinto na sua carreira.
Para a definição da sonoridade daquele que é muitas vezes considerado "o disco americano dos Blur" muito terá contribuído a amizade de Damon Albarn com Stephen Malkmus, líder dos incontornáveis Pavement. Os primeiros sinais dessa mudança, com evidentes aproximações ao som da referida banda ianque, foram logo dados por "Beetlebum", o fulgurante single de avanço para o álbum. Com uma notável performance de Graham Coxon na guitarra e a voz de Damon Albarn a fazer lembrar um Sir Paul dos tempos do White Album, "Beetlebum" teve ainda o condão de pôr os Blur a soar mais Beatles do que os Oasis alguma vez conseguiram.
Fazendo justiça à importância histórica de "Beetlebum", os fãs elegeram-no o melhor single de sempre da carreira dos Blur através de uma votação on line realizada no sítio
Blur Talk.
A título de curiosidade, aqui ficam os "dez mais":

1. Beetlebum
2. The Universal
3. Coffee & TV
4. Popscene
5. For Tomorrow
6. To The End
7. End Of A Century
8. Song 2
9. Tender
10. Chemical World

sábado, 23 de junho de 2007

O DISCO DO DESASSEGO

BIG STAR
Third/Sister Lovers (PVC, 1978; Reedição Ryko, 1992)

Depois de nos dois primeiros dois discos, inspirados pela música dos Beatles e dos Kinks, terem criado autênticas odes à celebração da juventude, lançando as bases daquilo que se convencionou designar de power pop, tudo levava a crer o terceiro álbum iria ser o do estabelecimento definitivo dos Big Star como uma das grandes bandas da década de 1970 (em termos comerciais, entenda-se).
Amputados de Chris Bell, que partilhava com Alex Chilton os créditos da composição nos registos anteriores, os Big Star entraram em estúdio em 1974 apostados em gravar o seu terceiro disco destinado a edição no ano seguinte e tudo parecia correr de feição. Mas os demónios da alma que tinham levado à saída de Bell pareciam também ter-se apoderado de Alex Chilton, o que teve forte repercussão no resultado final de Third/Sister Lovers.
"Kizza Me" e "Thank You Friends", os temas de entrada no disco, ainda trazem alguns ecos do fulgor juvenil de Radio City, embora logo aí se note na voz de Chilton um ar de desencanto até então desconhecido, logo confirmado de seguida no negríssimo "Big Black Car". De aí em diante Third é um tocante exercício de catarse, atingido o clímax nos temas "Holocaust" e "Kangaroo", na década seguinte popularizados junto da comunidade indie pelas versões dos This Mortal Coil. Third tem ainda uma sentida versão de "Femme Fatale" dos Velvet Underground, que é a prova de que por esses dias as influências da banda eram outras.
Apesar de todo o arrojo ao nível dos arranjos (um nítido passo em frente) e da sublime prestação vocal de Alex Chilton, quem não gostou do despojamento de Third foi a editora da banda, que se recusou a editá-lo. Três anos após a data inicialmente prevista e do fim dos Big Star, era finalmente lançado aquele que será provavelmente o maior disco esquecido de sempre.
Ao ouvir hoje a música dos R.E.M., The Posies, Primal Scream dos primórdios, Teenage Fanclub, The Replacements, Jeff Buckley, e até dos Foo Fighters da primeira safra, percebe-se que os Big Star não foram esquecidos por todos. Antes assim...
Thank you, friends. Wouldn´t be here if it wasn't for you.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

SINGLES BAR #10


YO LA TENGO
Sugarcube (Matador, 1997)

Whatever you want from me
Whatever you want I'll do
Try to squeeze a drop of blood
From a sugarcube

Extraído de I Can Hear The Heart Beating As One, a sua obra maior, "Sugarcube" é a melhor prova de gratidão dos Yo La Tengo (YLT) pela música dos Beach Boys que, entre outras, os inspira há mais de duas décadas. Mesmo tendo em conta que esse álbum inclui uma (óptima) versão de "Little Honda", original da banda californiana.
Belo e pueril como só o melhor indie pop consegue ser, com a voz suave de Ira Kaplan em contraponto ao feedback das guitarras, "Sugarcube" é harmoniosa, solarenga, ingenuidade feita obra de arte.
Para servir de complemento, "Sugarcube" foi ainda alvo de um excelente vídeo dirigido por Phil Morrison onde se parodiam de forma bem divertida os clichés do rock'n'roll.
Entre tantas grandes canções que os YLT compuseram ao longo dos anos, esta destaca-se das demais pela perfeição. Terá concerteza a aprovação de Brian Wilson. E o Verão é já amanhã...
Vídeo de "Sugarcube"

terça-feira, 19 de junho de 2007

NAÇÃO SÓNICA version 2.0

Depois de Dirty e Goo terem já recebido igual tratamento, os Sonic Youth deixam o melhor para o final, que é como quem diz, a deluxe edition de Daydream Nation, a obra seminal da banda nova-iorquina datada de 1988.
A reedição desta obra obrigatória em versão revista e aumentada já viu a luz do dia nos Estados Unidos, estando a edição europeia agendada para o próximo dia 2 de Julho. O primeiro de dois discos apresenta o álbum original devidamente remasterizado e acrescido de uma demo version de "Eric's Trip", enquanto o segundo, para além da versão ao vivo de Daydream Nation, oferece quatro covers que, apesar de bem conhecidas dos mais indefectíveis, são hoje difíceis de encontrar nas suas edições originais: "Within You, Without You" (The Beatles), "Computer Age" (Neil Young), "Electricity" (Captain Beefheart) e "Touch Me I'm Sick" (Mudhoney). Estou mesmo a ver que, em breve, vou ter mais um disco em duplicado na minha colecção...
Aqueles que, como eu, pretendem deslocar-se a Paredes de Coura em Agosto próximo, fiquem ainda a saber que o concerto agendado para o dia 15, ao contrário da maioria das datas da corrente digressão, não será, infelizmente, um Sonic Youth performing Daydream Nation.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

MUSAS INDIE #4

Num futuro próximo, quando chegar o revival dos anos noventa, e se houver justiça, ela irá concerteza ser recordada:


JULIANA HATFIELD

A BÍBLIA DE GREEN

No seguimento do comentário de um estimado camarada bloguista a propósito de um post recente, esclareço que não tenho qualquer animosidade contida em relação aos Arcade Fire. Quem me conhece sabe que fui um entusiasta da banda canadiana desde que Funeral me chegou aos ouvidos, já lá vão dois anos e meio. No entanto, e como ninguém é perfeito, acho que Neon Bible é mesmo muito fraco (eu fiz um esforço para gostar, acreditem). E também acho que só mereceu tamanho destaque por vir de onde vem.

Segundo um post publicado pelo grande Simon Reynolds, Green Gartside, o galês que há quase trinta anos dirige de forma intermitente os desígnios dos Scritti Politti (ainda no ano passado, perante a indiferença geral, editaram o mui recomendável White Bread, Black Beer), traduz de forma perfeita a minha opinião acerca de Neon Bible. Passo a citar:

People who enjoy this album may think I'm cloth-eared and unperceptive, and I accept it's the result of my personal shortcomings, but what I hear in Arcade Fire is an agglomeration of mannerisms, cliches and devices. I find it solidly unattractive, texturally nasty, a bit harmonically and melodically dull, bombastic and melodramatic, and the rhythms are pedestrian. It's monotonous in its textures and in the old-fashioned, nasty, clunky 80s rhythms and eighth-note basslines. It isn't, as people are suggesting, richly rewarding and inventive. The melodies stick too closely to the chord changes. Win Butler's voice uses certain stylistic devices - it goes wobbly and shouty, then whispery - and I guess people like wobbly and shouty going to whispery, they think it signifies real feeling. It's some people's idea of unmediated emotion. I can imagine Jeremy Clarkson liking it; it's for people in cars. It's rather flat and unlovely. The album and the response to it represent a bunch of beliefs about expression and truth that I don't share. The battle against unreconstructed rock music continues.

NOTA: A citação transcrita acima faz parte de uma série de entrevistas levadas a cabo pelo jornalista Paul Lester para o jornal The Guardian. Na peça que podem ler na íntegra aqui, diversas personalidades do mundo da música são convidadas a fazer a sua apreciação de um disco que consideram sobrevalorizado. E digo-lhes que é, no mínimo, hilariante... principalmente quando são abordados discos que temos em boa conta.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

NA PELE DO LOBO

Em posts recentes, já aqui tinha referido a propensão de muitos músicos canadianos para se desmultiplicarem em diversos projectos. Neste particular, os Wolf Parade serão mesmo o caso mais paradigmático. Depois das aventuras do membro fundador Spencer Krug nos Frog Eyes, Sunset Rubdown e Swan Lake (Beast Moans é obrigatório), chegou a vez de Dan Boeckner, a outra figura proeminente da "matilha", que, juntamente com a namorada Alexei Perry, dá corpo aos Handsome Furs.
Segundo reza o sítio oficial da Sub Pop, Plague Park é um disco de tonalidades negras inspirado por noites em branco e dietas de black metal escandinavo (!).
E eu quero muito ter este disco... já!

quinta-feira, 14 de junho de 2007

FITAS #3

ZODIAC (EUA, 2007)
David Fincher
(c/ Jake Gyllenhaal, Mark Ruffalo, Robert Downey Jr.)

Não se pode dizer que David Fincher seja um dos realizadores mais prolíficos. Entre o desapontante Panic Room e este regresso à boa forma em Zodiac decorreram já cinco anos. No entanto, cada um dos seus filmes constitui um acontecimento que não deixa nenhum cinéfilo indiferente. No actual cinema este estatuto só encontra paralelo em Alejandro González Iñárritu, outro dos poucos que ainda conseguem criar grandes películas que chegam às massas. Se dúvidas houvesse sobre as credenciais de Fincher, bastaria atentar o nível do elenco de Zodiac que, além do trio de principais, integra ainda os notáveis secundários Brian Cox, Chloë Sevigny, Elias Koteas e Philip Baker Hall. Não é para todos!

Marcando o regresso de Fincher à temática do serial killer depois de Se7en, o filme que o trouxe para a ribalta, muitos esperariam mais um espectáculo de violência estilizada (não esquecer que Fincher provém do mundo dos videoclips) que está longe de acontecer. Em vez disso, a violência visual propriamente dita só aparece num par de cenas ainda no primeiro segmento de Zodiac. Mas nem por isso o filme deixa de ser igualmente perturbador, retratando a procura paralela e infrutífera de três homens pela identidade do assassino (auto-intitulado de Zodiac) que em finais da década de 1960 e inícios da década de 1970 aterrorizou a Bay Area californiana. Esses três personagens reais retirados do livro de Robert Graysmith são o reputado jornalista Ted Avery (representado pelo grande Robert Downey Jr.), o seu jovem colega cartoonista (o próprio Graysmith na melhor interpretação de sempre de Jake Gyllenhaal) e um inspector da polícia (Mark Ruffalo).

Se alguns poderão acusar Zodiac de ser demasiado longo (perto das três horas), eu diria que nem por um momento me senti aborrecido durante a projecção do filme. Diria até que esse prolongamento da acção ajuda a adensar a sensação de impotência dos três personagens perante o assassino, bem como a crescente obsessão de cada um deles pelo mesmo (com formas reacção bem distintas).

E se, como afirmei, não temos em Zodiac o espectáculo de violência de Se7en, em compensação temos uma magnífica reconstituição da época do auge da contra-cultura nos EUA, quer seja nos edifícios, nas ruas e, principalmente, nos carros. Um regalo para a vista proporcionado por uma excelente fotografia.

Não tivesse acontecido Fight Club e estaríamos perante o melhor filme de David Fincher...

quarta-feira, 13 de junho de 2007

RELÂMPAGO NA MONTANHA NEGRA

Igualmente provenientes do Canadá são os Black Mountain e, tal como os Pornographers, são uma banda em que os elementos espalham talento por diversos projectos paralelos (Pink Mountaintops, Blood Meridian, para citar apenas alguns). O mais recente são os Lightning Dust, união de esforços de Amber Webber e Josh Wells onde o psicadelismo folk da banda-mãe suprimido do elemento stoner ganha uma maior carga dramática. O álbum homónimo de estreia é editado pela Jagjaguwar na próxima semana.
Lightning Dust no MySpace

NOVA PORNOGRAFIA

Alegrem-se todos os devotos da mais fabulosa banda viva daquele país gelado a norte dos States (os Wolf Parade com um só disco ainda não entram nestas contas), pois os New Pornographers têm álbum pronto para ser editado no próximo mês de Agosto, Challengers de seu nome. Deste sucessor do tratado de "power pop sinfónico" Twin Cinema, a banda canadiana deu já a conhecer "My Rights Versus Yours" que podem ouvir aqui. Depois de meia dúzia de audições concluo que os dotes de compositor de Carl Newman continuam intactos. Venha o disco!

segunda-feira, 11 de junho de 2007

DISCOS PE(R)DIDOS #11

SHELLAC
At Action Park (Touch and Go, 1994)

Depois da formação flutuante dos Big Black e do projecto one-off Rapeman, Steve Albini parece ter encontrado em Bob Weston (baixista) e Todd Trainer (baterista) os parceiros ideiais para dar continuidade à demolição do edifício do rock'n'roll, de tal forma que a formação dos Shellac prossegue inalterável até aos dias de hoje. Dada a precisão irrepreensível demostrada pelo trio neste seu primeiro álbum, é fácil perceber o porquê de tão longa união.
At Action Park é, apesar da importância dos projectos anteriores, um passo em frente na carreira de Albini, pelo menos ao nível da execução instrumental. As letras, essas continuam corroídas daquele sentimento anti-social, vagamente nerdish, vagamente sexista, que por alturas de Songs About Fucking já tinham valido o epíteto de misantropo ao seu autor. Não são para se levar muito a sério e, por vezes, até têm uma certa piada.
Os claros sinais de evolução tornam-se logo visíveis na abertura com "My Black Ass", onde o baixo pulsante presta a devida vénia aos Wire dos primórdios. Após um final abrupto, entramos em "Pull The Cup" com o arranhar (literalmente) das cordas da guitarra, depois entra a bateria, logo a seguir o baixo e, apesar da ausência de palavras, temos talvez a canção mais digna desse nome que os Shellac alguma vez fizeram. Por sua vez o groove minimalista de "The Admiral" só perde a sua vocação dançante nas palavras cuspidas por Albini.
O trio de canções que se segue ("Crow", "Song Of The Minerals" e "A Minute") dá uma ideia do que poderia ter sido In Utero dos Nirvana sem a operação de cosmética levada a cabo por Scott Litt.
Por seu turno, o desacelerado "The Idea Of North", com voz de Bob Weston, pega na herança deixada pelo seminal Spiderland dos Slint e estabelece a ponte com a emergente cena post rock norte-americana. O metalizado "Dog And Pony Show" parece recolher frutos da experiência de estúdio de Albini com os Helmet poucos anos antes, enquanto os vocais do petardo "Boche's Dick" evocam a memória do incontornável Jello Biafra.
A fechar com chave de ouro, em registo jam, os vários andamentos de "Il Porno Star" fazem a súmula do que ficou para trás.
Com todas as suas referências, tanto do passado, como contemporâneas, At Action Park demonstra uma clareza de ideias única, tornando-se um documento fundamental para melhor apreender a facção mais leftfield da música popular norte-americana do último quarto de século, seja isso math rock, post hardcore, noise rock, ou... simplesmente... rock!
NOTA: A recordação deste "clássico" vem a propósito da edição de Excellent Italian Greyhound, disco que quebra um silêncio de sete anos por parte dos Shellac e que, espera-se, esteja um dia destes disponível aqui na terrinha.

DOR-DE-CORNO COMPACTADA

THE AFGHAN WHIGS
Unbreakable: A Retrospective 1990-2006 (Rhino, 2007)

E se os Pumpkins foram durante um breve trecho um segredo bem guardado da geração grunge, os Afghan Whigs foram-no (muito injustamente) ao longo de toda a carreira terminada em 2001, após cinco álbuns indispensáveis.
Para quem sempre quis conhecer o rock tingido de soul em que Greg Dulli exorcisava os demónios da alma (com histórias de mulheres, álcool, prisões e quartos de hotéis rasca), e nunca soube por onde começar, a situação fica agora facilitada com a edição desta retrospectiva bem abrangente da carreira da banda de Cincinnati.
Não se trata de uma compilação de êxitos porque os Afghan Whigs nunca os tiveram, mas serve perfeitamente os seus intentos de introdução à música de uma das bandas mais injustiçadas da década passada.
Como aliciante para os convertidos que já têm os álbuns todos, nos quais orgulhosamente me incluo, os Whigs oferecem dois temas inéditos gravados no ano passado (daí o 2006 do subtítulo).
E fiquem já agora a saber que existem rumores de uma reunião. Vamos esperar para ver...

domingo, 10 de junho de 2007

WHEN WE WERE YOUNG

Primeiro com Gish, em 1991, conseguiram a mistura improvável da pompa de algum rock setentista e a sensibildade do shoegazing. Por estes dias, eram o segredo mais bem guardado da geração grunge. Dois anos mais tarde, e apesar dos primeiros sinais de megalomania, Siamese Dream era tão perfeito que não havia como não o venerar. Ainda haveria Pisces Iscariot, a colecção de b-sides e raridades com canções melhores que as dos álbuns oficiais da maioria dos seus pares. E os Smashing Pumpkins tornavam-se nessa altura, senão a banda, uma das minhas bandas favoritas.
No passo seguinte, a ambição de Billy Corgan ganha contornos gigantescos nas duas horas de Mellon Collie And The Infinite Sadness que, tivesse havido alguma contenção e algum critério, teria dado um óptimo album simples.
A partir daí, a carreira da banda seria um contínuo desfilar de alguns dos clichés do rock de estádio, com incursões pelos terrenos do synth pop e do gótico. Tudo muito sintético e desinteressante. Seria assim até 2000, ano em que as crescentes convulsões no seio da banda ditaram o seu fim.
Depois de alguns falhanços rotundos, Corgan pega no fiel companheiro Jimmy Chamberlin e numa parelha de desconhecidos para anunciar o regresso dos Pumpkins, com disco novo e tudo! Para o promover, parece que passaram ontem por Portugal. Pelo que me foi dado a ver por um determinado canal da televisão por cabo, como seria de esperar, a pantomima continua. Mas a nova baixista, uma tal de Ginger Reyes, até é gira...

sexta-feira, 8 de junho de 2007

EM ESCUTA #15

ELECTRELANE
No Shouts No Calls (Too Pure, 2007)

Não é muito comum um disco complexo, experimental e basicamente instrumental conquistar a ovação em uníssono da grande nação indie. Não é muito comum, mas aconteceu com Axes, disco lançado em 2005 pelas Electrelane, fruto da segunda reunião do quarteto feminino de Brighton com o mago do estúdio Steve Albini despois de The Power Out um ano antes.
Face a estas premissas, é natural que os inúmeros acólitos estivessem de olhos postos nas Electrelane aguardando No Shouts No Calls com grande expectativa.
Talvez ciente do perigo de cair na repetição, a banda opta agora por conferir um maior cunho pop ao seu som tão característico sem, de forma alguma, provocar qualquer descaracterização. A somar às mudanças sónicas operadas, as vozes marcam presença na esmagadora maioria dos temas, com Verity Susman a demonstrar um notório crescimento enquanto cantora e letrista. Os primeiros sinais desta maior acessibildade são logo dados na entrada com "The Greater Times" e confirmados logo de seguida em "To The East", o encantador single de avanço de No Shouts que deveria (e merecia) ser um hit radiofónico se ainda houvesse algum critério nas playlists das rádios.
Mesmo sendo a maior utilização da voz a "novidade" mais evidente de No Shouts, os momentos mais desafiantes encontramo-los em temas instrumentais (ou quase): primeiro em "Between The Wolf And The Dog", ainda assim com um discreto recurso à voz, e mais adiante em "Five", dois temas em que os riffs insidiosos e a bateria galopante provocam um estado de transe no ouvinte, da primeira à última nota. Além de contrastarem com a candura dominante no disco, estes dois temas estão também a milhas de distância do universo Stereolab com que as Electrelane são frequentemente conotadas.
Em suma, pode dizer-se que Axes tem aqui um digno sucessor que, sem surpreender sobremaneira, não irá concerteza alienar a base sólida de fãs e poderá até trazer novas conquistas ao mundo das Electrelane.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

NÃO SOU O ÚNICO

Pergunta de um leitor da Uncut a Jim Reid dos Jesus and Mary Chain:
How do you guys feel about bands like Black Rebel Motorcycle Club, who are clearly influenced by you?
Resposta do notável cidadão de Glasgow:
I like Black Rebel Motorcycle Club and I feel sorry for them because I don't think they sound that much like the Mary Chain that it really ought to be a talking point. Personally, I think they sound more like Spacemen 3 than the Mary Chain. They've got great songs.
Pelos vistos, já não sou o único a pensar desta forma...

terça-feira, 5 de junho de 2007

CUIDADO, MUITO CUIDADO!

Pois é, parece que a dupla chunga mais sobrevalorizada da última meia dúzia de anos está de regresso. E pela amostra, conseguiram descer ainda mais baixo na escala do bom gosto. Os AC/DC que se cuidem!
Mesmo assim, tenho cá o palpite que irão em breve ser destaque daquele suplemento com nome de letra grega. Mas isto é só um palpite...

segunda-feira, 4 de junho de 2007

AO VIVO # 1

LOW
Santiago Alquimista, 02/06/2007

Ao fim de catorze anos, e na condição de sobreviventes do movimento slowcore dos anos 1990, os Low aterraram finalmente em Portugal. E em boa hora o fizeram, digo-lhes.
Recorrendo apenas a uma guitarra e a um baixo vintage, e a uma bateria diminuta, os Low conseguiram no passado sábado criar uma envolvência ao alcance de poucos, num espectáculo que se prolongou por quase duas horas (com dois regressos ao palco incluídos).
Com poucas visitas ao passado mais distante ("Over The Ocean" foi das excepções, já perto do final e depois de muito pedido), e com uma excelente escolha para arranque materializada no atestado de devoção à música que é "Death Of A Salesman", a banda do Minesotta haveria de percorrer a maioria dos temas do recente Drums And Guns, do qual, depois do ligeiro cepticismo inicial, vou gostando cada vez mais. Os apontamentos electrónicos presentes no disco são completamente suprimidos na transposição das canções para o palco. Em compensação, as canções ganham uma outra grandeza, mercê do trabalho da guitarra (e dos pedais) de Alan Sparhawk. O excelentes "Murderer" e "Take Your Time" terão sido talvez o melhores exemplos desta transformação benéfica.
Como seria de esperar, o aclamado The Great Destroyer teve também forte representação no set dos Low, com alguns dos momentos de maior júbilo na assistência em "When I Go Deaf" e "Pissing" (talvez a melhor canção de sempre dos Low, digo eu). Não houve "Monkey", mas não tem importância...
Os dois discos precedentes tiveram direito a dois temas cada um, com "Canada" (de Trust) a proporcionar outro dos grandes momentos da noite.
Numa noite perfeita, de grandes canções, Alan Sparhawk conseguiu ainda assim ser a estrela. É que o homem, além do vozeirão e da mestria nas seis cordas, é ainda um excelente comunicador: com simpatia, humildade e bom-humor.

MUSAS INDIE #3

Por contraponto à "senhora despentada" do post de ontem, aqui fica a razão principal para a existência desta rubrica:

HOPE SANDOVAL

domingo, 3 de junho de 2007

(A)VERSÕES #2

PATTI SMITH
Twelve (Columbia, 2007)

Que a carreira de Patti Smith já conheceu melhores dias é um facto que nem os razoáveis - mas inconsequentes - discos recentes conseguem desmentir. Outro facto mais ou menos do domínio público é a sua aptidão para versões de canções de outros: "Gloria" de Van Morrison continua a ser um marco na sua já longa carreira, e a revisão de "When Doves Cry" de Prince, incluída como brinde na compilação de há cinco anos, é digna dos maiores encómios.
Neste contexto, não suspreende que, chegados a 2007, Smith opte por fazer um disco inteiro de versões (doze ao todo). Assim como também não suspreendem as doze canções escolhidas, ou seja, doze clássicos: Dylan, Hendrix, Stones, Neil Young, Stevie Wonder, The Doors, The Beatles...
E se, na revisão destes temas já com algumas décadas, o estilo característico de Smith, meio cantado, meio falado, não dá para passar além da mediania, em "Everybody Wants To Rule The World" (Tears for Fears) e "Smells Like Teen Spirit", as duas escolhas "mais recentes", o resultado chega mesmo a ser desastroso, com "a madrinha do punk" a subverter por completo o espírito das canções em causa. Ainda assim, perante a falta de chama generalizada, admito que "White Rabbit" é muito bom, mesmo não acrescentando nada de novo ao (excelente!) original dos Jefferson Airplane.
Mas o que mais me irrita em Twelve (e em edições mais recentes de muitos músicos veteranos) é mesmo aquela aura espiritulista que percorre todas as canções, talvez numa tentativa de remissão pelas asneiras do passado. E o que é que eu tenho a ver com isso?!

sábado, 2 de junho de 2007

LAY ME LOW

Mais logo, no Santiago Alquimista.

sexta-feira, 1 de junho de 2007

DISCOS PE(R)DIDOS #10

CHAPTERHOUSE
Whirlpool (Dedicated, 1991)

Apesar de a sua formação remontar a 1987, o primeiro álbum dos Chapterhouse chegaria apenas quatro anos mais tarde, já com o comboio do shoegazing a iniciar a trajectória descendente. Talvez por isso, à data, as reacções da crítica especializada, sempre ávida de novas tendências, foram pouco mais do que frias. Contudo, Whirlpool até vendeu em quantidades apreciáveis e é hoje, passados dezasseis anos, alvo de um culto considerável.
Apesar de confessos admiradores dos Spacemen 3, nesta fase da sua carreira os Chapterhouse exibiam uma estética bem distinta da dos seus heróis dopados de Rugby, optando antes pela filiação naquilo a que se resolveu chamar dream pop. A presença de três guitarristas na banda permitia construir tapetes sonoros onde as vozes de Andrew Sheriff e Stephen Patman se fundiam de forma quase imperceptível.
Mas o que torna Whirlpool único é mesmo o jogo de contrastes entre luz e sombra que se desenvolve ao longo do disco após a entrada de rompante com "Breather". Do lado luminoso temos "Pearl" (com a participação vocal de Rachel Goswell dos Slowdive e digno de figurar em qualquer antologia do género), "Treasure" ou "Something More", enquanto que "Autosleeper" e "April" são negros, densos e hipnóticos. Por seu turno, "Falling Down" chega mesmo a flirtar com a cena baggy, igualmente significativa naqueles tempos.
Depois de vários anos fora de catálogo, Whirlpool foi reeditado no ano passado pela estimável Cherry Red, numa edição onde, para além dos nove temas originais com som remasterizado, encontramos sete temas extra retirados dos primeiros EPs da banda, no que constitui um documento fundamental para traçar o retrato de uma era (curta mas gloriosa).
A título de curiosidade, refira-se que uma das grandes glórias da curta carreira dos Chapterhouse foi mesmo terem tocado a seguir aos Nirvana na edição de 1991 do Festival de Reading (cidade natal da banda), algo que seria impensável poucos meses depois.