"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Xerifes de Nottingham

















Fazendo orelhas moucas ao buzz hiperbólico do "a América isto, o Canadá aquilo" que nos tentam impingir, aqui no April Skies há muito que defendemos que, embora num nível mais subterrâneo, a produção musical britânica dos últimos anos tem sido relativamente mais estimulante que aquela que vem do outro lado do Atlântico. Não podemos falar propriamente de uma era dourada como aquela do post-punk, mas é imperioso reconhecer, pelo menos no largo espectro da chamada música urbana, os benefícios trazidos pelo advento do dubstep e a sua propagação. Basta atentar nas muitas ramificações da electrónica recente, ou até no universo hip-hop, no qual os criadores britânicos parecem apostados em evitar os clichés do país dos progenitores da coisa.

De estética algo difusa para arrumar apenas num género estanque, a dupla Sleaford Mods arrisca-se a ser a próxima coqueluche a chegar de terras de Sua Majestade, pese embora já tenha alguns anitos no activo. Pelo menos desde 2007, têm editado álbuns com alguma regularidade, com títulos como Austerity Dogs (2013) ou Wank (2012), que sugerem sobeja irreverência. Com base no formato dupla e nas fotos promocionais, já alguém lhes chamou "os Pet Shop Boys do bairro social", descrição que tem algum cabimento também pelo cariz working class que nos parece genuíno, naquele estilo rufia que é tipicamente brit. O mestre de cerimónias é o trintão Jason Williamson, um rapper pouco convencional capaz de debitar slogans com a mesma prolificidade de uns Half Man Half Biscuit. A principal particularidade do discurso afiado, porém, é o uso desbragado do vernáculo, num cerrado sotaque de Nottingham. Os alvos da acidez podem variar, e para além do obrigatório comentário sócio-político, qual velho jarreta, Williamson dispara em todas das direcções, inclusive junto do mundo do showbizz e da actual geração dos gadgets. Estas crónicas de costumes corroídas de sarcasmo têm o devido acompanhamento nos samples, simplistas mas certeiros, de Andrew Fearn, algo que faz a ponte com o alegado passado rock, mod, e até rave, da dupla. À falta de qualquer descrição cabal - porque ela não existe - para este produto tão peculiar, vamos resumir os Sleaford Mods como um híbrido tão desempoeirado e fresco como muitos do período post-punk, devidamente recontextualizado para o presente. Depois de toda esta prosa, que vos poderá levar a questionar para que precisa o século XXI do seu Shaun Ryder, sugiro que os oiçam e tirem as vossas conclusões, sob pena de estarem a perder a maior pedrada no charco da monotonia instalada detectada desde há uns bons anos. Caso a falta de actualidade vos cause algum prurido, apanhem a boleia do novo Divide And Exit, adiado mas prestes a estourar nos próximos dias.

 
"Tied Up In Nottz" [Harbinger Sound, 2014]

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