Apesar de "pop" e "juventude" serem conceitos praticamente indissociáveis, não estão fáceis as coisas para quem faz dessa combinação uma forma de vida. Talvez derivado da permanência no activo, e do consequente envelhecimento, de quem habitualmente escreve sobre e divulga música, fica a sensação que a inanidade primordial caiu em desuso, e tudo o que merece atenção tem de ter uma certa profundidade. Há, porém, bolsas de resistência, como vamos detectando na Escócia, quanto mais não seja pela longa tradição das highlands na devoção à causa pop. Foi de lá que, no final de 2012, recebemos os PAWS com o álbum Cokefloat!, um disco com a irreverência própria da tenra idade do trio que recuperava aquela forma de fazer as coisas à maneira dos alvores de noventas, isto é, com igual comprometimento entre o chinfrim e a estrutura de canção pop. Foi um trabalho que passou despercebido à maioria, mas não a uma minoria irredutível que ainda busca algo para além do que lhe tentam impingir.
Um ano e meio volvido, os PAWS estão de volta ao local do crime com Youth Culture Forever, segundo álbum com um título que não deixa dúvidas quanto aos propósitos do trio de Glasgow. Na comparação com o anterior regista-se um relativo abrandamento da sonoridade, em favor de uma maior focagem na ortodoxia das canções (pop, obviamente), ainda que, paradoxalmente, realce o espírito lo-fi que já aflorava em Cokefloat!. No entanto, ainda abundam os temas buliçosos, herdeiros directos da escola punk-pop que tem nos americanos Superchunk figura tutelar. Por contraste com estes petardos de adrenalina, uma mão cheia de temas são contemplativos o bastante, pese embora façam uso e abuso da fórmula quiet-loud-quiet. É nestes, e no ennui que lhes está subjacente, que o título Youth Culture Forever ganha outro significado que não o literal. Ou seja, na moderada amargura da voz de Phillip Taylor, estão expressos os primeiros desgostos de uma juventude em estado terminal, e também a constatação da inevitabilidade da idade adulta. Tema atípico no alinhamento, feito de canções breves e imediatas, é o derradeiro "War Cry", longo de perto dos doze minutos, uma boa parte dos quais ocupados com devaneios guitarrísticos carregados de feedback. Este número de maior complexidade pode indicar pistas para um próximo trabalho, isto se acaso os PAWS não quiserem saborear a juventude que se esvai até ao último instante.
"Tongues" [FatCat, 2014]
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