Foto: Danny Cohen
Talvez tenha tido azar, o aclamado "jovem prodígio" canadiano Mac DeMarco para não me ter caído no goto à primeira. À época, a do lançamento do álbum 2 (2012), começava a esgotar-se a receptividade para aquela zona nebulosa, entre o denominado hypnagogic e as memórias da ingenuidade proto-indie dos primórdios da britânica Cherry Red Records. Aquele registo inscrevia-se precisamente nessa tendência densamente habitada, a dos jovens prolíferos que resumem essa hiperactividade a gravar novas canções em regime caseiro. Isto quando não estão a fumar marijuana. Do que retenho das três - não mais que cinco - audições é que, não sendo um mau disco, faltava-lhe o golpe de asa para se destacar em terreno concorrido.
Se antes tinha sido "vítima" da má fortuna, agora DeMarco goza de uma segunda oportunidade, coisa rara nestes dias em que a quantidade (não confundir com qualidade) da oferta é excessiva para a escassez do tempo disponível. Aconteceu com o novo Salad Days, e foi o suficiente para que o agora emigrado em Brooklyn, provocasse "aquele" clique. Assim intitulado com a expressão inglesa para o período juvenil da inexperiência, o álbum surge na ressaca de uma longa tournée e do crescendo de exposição de alguém que, já se percebeu, não está disposto aos sacrifícios do estrelato. Por consequência, os onze temas de Salad Days são uma reacção, não irada como seria expectável da idade do autor, mas sim enfadada. Mais que isso, e embora ainda concebido em ambiente doméstico, o disco está recheado de canções que já não são meros esboços, conhecedoras de todos os Malkmus, os Richman, e os Lawrence deste mundo, mas acima de tudo reflexo dos progressos de Mac DeMarco como compositor. Na maioria nota-se até o desenvolvimento de uma técnica própria na guitarra, com malhas tendencialmente elípticas, mas eficazmente melódicas. Neste particular, detectam-se afinidades com um Kurt Vile. Porém, se este, obcecado por um concepção de perfeccionismo, satura os espaços, DeMarco é mais simplista e reduz as canções à sua essência. Fica a ganhar a pureza da pop de guitarras, num disco ainda com espaço para a curiosidade "Chamber Of Reflection", tema baseado em sintetizadores primitivos e numa atmosfera entre os cerimoniais dos Beach House e o dramatismo exacerbado de Arthur Russell. Uma possível pista para o futuro? A ver vamos...
[Captured Tracks, 2014]
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