Ainda ontem aqui dávamos conta da passagem cá pelo burgo de Calvin Johnson, natural de Olympia, e provavelmente o maior embaixador do espírito indie que parece imperar no noroeste dos states. Com principais epicentros naquela cidade do estado de Washington, na vizinha Seattle, ou em Portland, mais a sul no Oregon, é impressionante a resistência na independência de um infindável número de músicos e bandas daquela região chuvosa, vai para mais de três décadas. Para estes cultores do underground, da baixa-fidelidade, e da filosofia do-it-yourself, não terá sido benfazeja a visibilidade excessiva e a consequente ressaca dos movimentos riot grrrl e grunge. No entanto, há muito afastada a incidência dos holofotes, ainda hoje a "cena" do West Pacific vai dando importantes sinais vitais.
Uma das últimas revelações vindas daquelas paragens são os Posse, trio de Seattle que não comunga das características da malta das camisas de flanela de há mais de vinte anos. Senhores do seu nariz, auto-editam os seus discos, o primeiro dos quais, homónimo, data de 2012 e é uma boa amostra de indie pop irrequieta. Para o recente e altamente recomendável Soft Opening, os Posse reduziram consideravelmente os níveis de adrenalina, inscrevendo-se agora naquela tendência das bandas de guitarras para um distanciamento enfadado, vulgo slacker rock, de que os Pavement foram quase paradigmáticos. Nos oito temas deste novo álbum são notórias as referências àquela banda lendária, bem como aos Yo La Tengo e aos Sebadoh de outros tempos. Falar de uns Real Estate desprovidos do romantismo ou de uns Galaxie 500 mais despertos também não é totalmente descabido. O melhor de tudo é que, apesar de admitir as suas influências, Soft Opening é disco com a frescura suficiente para fazer as delícias dos cultores desta tendência. Parte da sua magia provém da dinâmica da alternância das vozes boy/girl da dupla de guitarristas Paul Wittmann-Todd e Sacha Maxim. Quando é esta a assumir o protagonismo, as canções ganham um cunho mais melódico. Já quando é ele a tomar conta do microfone, ganha-se em secura e em sarcasmo carregado de azedume. Registe-se ainda que, não obstante a catalogação inequivocamente indie dos Posse, Wittmann-Todd é um daquelas guitarristas que, à boa maneira de um Doug Martsch dos Built to Spill, não tem qualquer pudor em subverter as convenções ao dinamitar alguns temas com solos moderadamente longos.
[Beating a Dead Horse, 2014]
[Beating a Dead Horse, 2014]
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