"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Ao vivo #120
















Laraaji & Sun Araw @ Teatro Maria Matos, 20/05/2014

Nos programas irrepetíveis a que o Maria Matos já nos habituou, são já habituais as colaborações entre gente da actualidade das franjas da música popular. A última dessas propostas teve lugar na última terça-feira, e juntou paisagistas sonoros de duas diferentes geraçções, embora ambos estejam na ordem do dia. O mais velho é Laraaji, músico septagenário de formação académica radicado em Nova Iorque que tem como nome de baptismo Edward Larry Gordon. Figura do ambientalismo a tanger a new age, atravessa uma fase de redescoberta depois de no passado ter impressionado o figurão Brian Eno, com o qual chegou a colaborar com a sua citara adaptada a ferramenta electrónica. Substancialmente mais jovem, Cameron Stallones tem sido ultra-produtivo como Sun Araw, projecto de texturas moldáveis e inclassificáveis, numa nebulosa para a qual convergem o psicadelismo, o kraut, o tropicalismo, e até a pop.

O concerto conjunto consiste em três partes distintas mas ininterruptas, duas delas reservadas a cada um dos nomes do cartaz em separado, e a parte central dedicada à colaboração propriamente dita. Cabe ao texano migrado em Los Angeles a abertura, acompanhado do habitual manipulador electrónico Alex Gray. Na guitarra e nos teclados, Stallones liberta notas, à partida desconexas, que esbarram nas perturbações daquele. Gradualmente, do caos aparente nasce algo, um emaranhado de sugestões sensoriais sublinhadas pelo estilo único da guitarra, esta com uma soberba amplificação que ganha com as boas condições de acústica do Maria Matos. Da estranheza inicial, portanto, a dupla conquistou os sentidos da assistência, e preparou-a para o banho de misticismo prometido por Laraaji. Quando este entra em cena, torna-se o mestre de cerimónias, conduzindo a massa sonora para uma toada planante. Explorando, além da cítara, uma panóplia de percussões (sininhos, espanta-espíritos), permite aos Sun Araw um papel mais discreto, mas determinante na quase subida aos céus: Stallones limita-se a um silvo contínuo, Gray é mais reservado nas interferências. O todo, porém, é inseparável nas suas partes. Já em solitário, talvez a música de Laraaji peque pelo excessivo apelo ao misticismo, e pelo recurso às vocalizações de origem indefinida. É nesta derradeira parte do concerto que se escapa por um triz à actual conotação pejorativa do rótulo new age, embora este seja um momento extremamente didáctico no que concerne às potencialidades de uma citara.

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