"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Do amor e outros demónios

















De algo que Alex Zhang Hungtai já não se livra é das comparações aos pioneiros Suicide. Não que essa forte influência seja algo que o rapaz, nascido em Taiwan mas residente na cidade canadiana de Montreal, que grava desde há meia dúzia de anos como Dirty Beaches tente sequer desmentir. Com efeito, no brilhante Badlands (2011), são notórios os ecos do trabalho daquela dupla nova-iorquina, com a mesma obsessão por um Elvis decadente num lote de canções turvas que parecem saídas da Twin Peaks imaginada por David Lynch. No entanto, antes de o arrumar nesse espartilho redutor, é necessário ouvir o seu trabalho prévio ao disco que o projectou para um público mais vasto, substancialmente mais experimental e abstracto, bem como os registos de pequeno formato que desde então tem lançado em quantidade assinalável.

Se ainda assim não ficarem convencidos de que o rapaz tem algo mais para dar, sugiro a audição do novo Drifters/Love Is The Devil, disco duplo, mas não excessivamente longo, essencialmente gravado em Berlim, que abre muitas novas possibilidades a uma carreira que - acreditem - já experimentou diversas linguagens. Menos próximo do formato canção que o antecessor, o novo álbum exige maior paciência na sua assimilação, algo que com o tempo e correndo bem pode evoluir para autêntica devoção. Ainda assim, recorrendo mais amiúde à voz, talvez a metade intitulada Drifters seja mais imediata. É, no entanto, um lote de canções de forte densidade, uma espécie de synthpop nocturno e sufocante a tender para o industrial quando recorre à colagem de "sons de campo". Este factor, somado ao título, às várias referências a cidades, e às diferentes línguas utilizadas, sugere ser um registo de memórias de viagens. Já Love Is The Devil, quase integralmente instrumental, explora todas as potencialidades cinemáticas da música de Zhang Hungtai, ele que, registe-se, já compôs música para diversos projectos independentes. Mesmo na quase total ausência de palavras, a melancolia reinante e as múltiplas sugestões de solidão levam-nos a acreditar que esta metade seja uma catarse de algum desgosto amoroso. Não sendo o conjunto dos dois discos a mais fácil audição para quem ficou preso a Badlands, estou em crer que a já robusta falange de seguidores aqui no rectângulo luso possa alargar-se. Saibam porquê a seguir:

"Casino Lisboa" [Zoo Music, 2013]

1 comentário:

Miss C. disse...

Muito bom!