"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Polimania















Foto: Robert Semmer

No compartimento das boas memórias ainda reside aquela primeira parte de um concerto dos Liars, quando uma banda totalmente desconhecida deixou deslumbrada mais de metade da assistência. Chamavam-se Deerhunter, e no cardápio traziam aquilo que haveriam de ser os temas do shoegazy Cryptograms (2007) à mistura com os espasmos noisy de um primeiro álbum. Logo nesse dia procurei aprofundar o conhecimento com a aquisição de uma cópia promocional daquele segundo longa-duração, com perto de meio ano de avanço relativamente à sua edição oficial. De então para cá, a banda alargou largamente o número de devotos com Microcastle (2008) e Halcyon Digest (2010), discos preenchidos por uma pop sonhadora com laivos de psicadelismo atmosférico. Para dar vazão a uma evidente hiperactividade, bem como ao complexo de múltipla personalidade, nos intervalos entre álbuns foram lançado música avulsa, muitas das vezes para oferta gratuita. Isto já para não falar dos projectos paralelos do vocalista Bradford Cox e do guitarrista Lockett Pundt: Atlas Sound e Lotus Plaza, respectivamente. Parecendo contraditório, o que é certo é que, na sua inconstância estética, os Deerhunter têm sido uma das bandas mais coerentes das nascidas no século em curso.

Se um par de álbuns seguidos sob um prisma semelhante era demasiada imobilidade para uma banda tão habituada à mudança, o novo Monomania trata de dar novo volte-face no percurso dos Deerhunter, talvez o mais radical de todos os registados. Não sendo propriamente o disco garage que os próprios anunciaram e alguns outros rotularam, é verdade que se caracteriza por um crueza suja, registada em baixa-fidelidade, que não lhe conhecíamos. Normalmente, as guitarras são ríspidas e distorcidas, e a voz de Bradford Cox, na sua habitual esconjura dos demónios, assume-se como quase animalesca. A ter sido premeditado, diria que Monomania são os Deerhunter a lutar contra si próprios, e contra o rótulo que lhes foi colado por via da discografia recente. Um pouco à semelhança do que aconteceu com os vizinhos georgianos R.E.M. com Monster, o seu disco "sujo" depois da aceitação do mainstream. No caso de Monomania, um par de temas mais intimistas esconde-se no meio da dissonância dominante, resgatando ainda alguma da fantasmagoria do passado recente. Talvez seja pouco para muitos dos acólitos da anterior encarnação da banda, que eventualmente poderão ser alienados pela dificuldade de assimilação do novo álbum. Já os pacientes, com a insistência nas audições, poderão desfrutar de outro excelente disco de uma das mais peculiares bandas do nosso tempo.

 
"Monomania" [4AD, 2013]

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