"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Marcado a vermelho
















Há coisa de um quarto de século, para os órfãos dos The Smiths, o romantismo pop encontrava nos The House of Love dignos sucessores. Neles pontificavam igualmente um letrista/vocalista (Guy Chadwick) e um jovem guitarrista (Terry Bickers) excepcionais. Descobertos pelo ouvido clínico de Alan McGee, que através da sua Creation Records lhes lançou um par de singles fulgurantes e um óptimo álbum de estreia em 1988, cedo despertaram a cobiça das multinacionais, que viam neles uma banda capaz de atingir a grandeza dos irlandeses U2. A mudança de escalão não foi benéfica, com um segundo álbum substancialmente inferior ao de estreia, e as tensões entre os dois principais elementos a agudizarem-se numa espiral de drogas. Bickers abandonou o barco em circunstâncias pouco amistosas, deixando a banda incapaz de responder a hegemonia Madchester, com um terceiro registo pouco mais que medíocre. A redenção chegaria, talvez tarde demais, quando "o momento" dos House of Love parecia já ter passado, com o muito menosprezado tratado de pop melancólica que é Babe Rainbow (1992), eventualmente a sua obra-prima, cujo insucesso levou Chadwick a colocar um ponto final na carreira da banda.

Lambidas as feridas do passado, resolvidos os problemas de drogas e de egos, e talvez contaminados pela onda de reuniões, sem propriamente se fazer anunciar, Guy Chadwick e Terry Bickers decidiram voltar a trabalhar juntos sob a designação The House of Love. Foi com alguma surpresa, mais pelo inesperado que pela sua qualidade, que lançaram Days Run Away (2005), um disco sensaborão de temas indistintos que apenas serviu para turvar as boas memórias de uma vasta horda de fiéis. Rapidamente o disco e a reunião caíram no esquecimento, o que fez com que só muitos anos depois e sem grande alarido tenham lançado o sucessor She Paints Words In Red. O que é uma pena, pois este é disco que honra o melhor do passado da banda na viragem de oitentas para noventas. Suprido de alguma da urgência da juventude que aflorava naquele, diria até que funciona como uma versão amadurecida de Babe Rainbow, com um conjunto de temas sóbrios, ternos e calorosos. A voz e as letras de Chadwick exibem a sapiência apreendida com os anos; Terry Bickers, mais preocupado com a sublimação das melodias que com os pedais de efeitos, cumpre todos os requisitos que fizeram dele um dos mais notáveis - embora discreto - guitarristas da sua geração. Feito de uma pop de travo clássico, este é o disco dos House of Love em que a devoção pelos Beatles se torna mais evidente. Em particular no trabalho de Bickers, que, qual George Harrison, não se coíbe de embelezar alguns temas com floreados de aroma oriental. Certo e sabido é que She Paints Words In Red não irá alterar o rumo do mundo, mas seria uma tremenda injustiça se, pelo menos nos quadrantes afectos às grandes canções pop, neste tempo que elas escasseiam, não obtivesse alguns louvores de entusiasmo.

 
"A Baby Got Back On Its Feet" [Cherry Red, 2013]

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