À parte ser hoje um bastião do actual fuzz-pop, tanto nas facções dreamy como noisy, a Slumberland Records tem também desempenhado um papel fulcral na reedição de pequenos tesouros dentro deste espectro da pop ao qual prestam serviço há mais de 20 anos. Por enquanto, e até algo estranhamente, ainda não foi contemplado Everyone Must Touch The Stove (1995), álbum único dos Lorelei, uma das bandas da primeira fornada da editora. Oriundos de Washington D.C., e por isso conterrâneos mas também contemporâneos dos emblemáticos Black Tambourine, os Lorelei cedo divergiram da toada dreamy destes para uma abordagem mais experimentalista. O seu contributo para a história é um disco composto por uma dezena de temas estilhaçados, que lançam algumas pistas para o meio post-rock subsequente, mas que nunca perdem o sentido melódico. De salientar o trabalho do guitarrista Matt Dingee, a espaços familiar com o dos Wedding Present da melhor safra. Não será por acaso que David Gedge consta entre os entusiastas de Everyone Must Touch The Stove.
Talvez pela motivação originada por uma nova vaga fuzz, sabia-se já que as esporádicas reuniões dos Lorelei em palco se tinham tornado mais frequentes. Daí até à gravação de um disco foi um passo, e Enterprising Sidewalks aí está, para mostrar às novas gerações que quem sabe não esquece. Menos rico na variedade de instrumentos (maracas, marimbas, tímpanos, e outros "exotismos") que o distante antecessor, o novo disco assenta basicamente na santíssima-trindade rock. No entanto, os novos temas mantêm intacta a vontade de fugir à previsibilidade, funcionando cada um deles como uma entidade distinta nas suas diferentes ambiências. Ao nível da ruideira, os Lorelei continuam generosos, privilegiando agora a projecção dos sons, criando uma aura vagamente spacey. Portanto, mais que nunca, fazem jus à afirmação de alguém que um dia disse que poderiam ser uma banda do colectivo Elephant 6 que andou a ouvir Bailter Space no lugar de The Beach Boys.
"Hammer Meets Tongs" [Slumberland, 2012]
1 comentário:
Tenho andado muito atento às edições e reedições da Slumberland e é, actualmente, uma das minhas editoras favoritas. O álbum dos Allo Darlin' é uma delícia, por exemplo.
Enviar um comentário