"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Hormonas de baixa fidelidade



















Se John Peel ainda fosse vivo, temos a certeza que, ao contrário do comum dos mortais, não lhe passaria despercebido cada novo registo dos Half Man Half Biscuit ou dos The Fall. Aliás, até seria bastante provável que, nas suas emissões radiofónicas, os difundisse com o entusiasmo e a frequência que lhe eram habituais. Sem novos discos para divulgar, presume-se que os finados Hefner fossem revisitados com alguma assiduidade. Afinal de contas, o guru da "rádio indie" britânica nunca escondeu a sua afeição por bandas que fazem música desengonçada, privilegiando a crónica jocosa de costumes em relação ao primor técnico da execução. Partindo deste pressuposto, caso Ele fosse vivo, estamos em crer que cairia de amores pelos The Pheromoans, um sexteto que, na linha de uma longa tradição tipicamente inglesa, cumpre ambas as premissas e, diria, vai até mais além.

Oriunda da cidade costeira de Brighton, esta banda já cá anda desde meados da década passada, tendo até à data lançado quatro álbuns de distribuição algo restrita. Só com o último - o recente e mui recomendável Does This Guy Stack Up? - espreitaram para além da barreira da obscuridade e me chegaram aos ouvidos. Sem uma colagem óbvia às referências supracitadas, o quarto longa-duração dos The Pheromoans é um tratado crítico do quotidiano inglês, não dispensando um humor cáustico que passa pela auto-indulgência. Na dúzia de temas que ameaçam desintegrar-se a cada instante, tal o "amadorismo" imposto, e sem enjeitar algum experimentalismo, sobre o trio de instrumentos tradicional do pop-rock, impera um órgão infantilóide com reminiscências das edições da editora Cherry Red dos primeiros tempos, em período pós-punk. A voz arrastada e desafinada de Russell Walker, aqui e ali possuída pelo desvario, bem como a deliberada naïvité, acabam por resultar como factores de credibilidade às breves tiras do dia-a-dia, quase como se estas nos fossem relatadas pelo vizinho do lado. Por conseguinte, na sua voluntária imperfeição, Does This Guy Stack Up? contém em si mais sinceridade que os últimos 30 discos de cada das últimas 20 tendências hipster todos juntos.

 
"Grab A Chair" [Upset The Rhythm, 2012]

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