"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Ao vivo #96














Amplifest 2012 @ Hard Club - Porto, 28/10/2012

Pelo segundo ano consecutivo, e num espírito de verdadeira independência, o Amplifest tem sido responsável pela vinda a este país de bandas e sonoridades normalmente arredadas dos cartazes dos festivais "corporativistas", isto apesar do culto sólido em seu redor. A minha estreia, ainda que só por um dia, foi motivada pela grande atracção de encerramento, e só foi possível graças à generosidade de algumas benditas almas a quem daqui se endereçam os mais sinceros agradecimentos. À parte os cabeças-de-cartaz, a oportunidade serviu também para satisfazer a curiosidade sobre alguns conhecidos e outros totalmente desconhecidos, como se retira das parcas linhas a seguir.

Após o habitual reconhecimento do terreno, e de alguns cumprimentos a amigos e conhecidos, aventurei-me pela sala 2 do Hard Club, onde me deparei com os ingleses Necro Deathmort já em plena função. Afecta das tonalidades negras, esta dupla conjuga elementos díspares como o industrial, o drum'n'bass, algumas pinceladas do chamado gótico, e até o metal menos tradicional, sem que, contudo, haja qualquer comprometimento com alguma das filiações. Conseguem, por isso, agradar às diferentes "tribos" presentes, criando na sala um ambiente algures entre o solene e o dançante.

Ainda que reduzidos a metade, era alguma à expectativa para a recepção aos Oxbow, apropriadamente rebaptizados para a ocasião de Oxbow Duo. Como esperado, a presença de Eugene S. Robinson faz valer a sua imponência, não só pela pela presença física como pela capacidade performativa, na qual, neste formato, penso que seriam de evitar as insistências na característica postura "macho". Pormenores à parte, o homem ostenta uma voz capaz de sublinhar a violência das palavras até um nível quase cinemático, como se imagens fossem projectadas à nossa frente. Não derivando muito de um registo spoken word, com um ou outro urro lancinante, Robinson encontrou no guitarrista Niko Wenner parceiro à altura, capaz de, sozinho, sustentar toda a intensidade instrumental do concerto. É certo que se perdeu a adrenalina noisy que a banda completa propiciaria mas, em contrapartida, ganhou-se uma crueza de processos que evidencia o elemento bluesy da música dos Oxbow.

Depois de uma breve descrição ouvida em antecedência, os ouvidos ansiavam pela proposta dos italianos Ufomammut. Num primeiro momento, o trio deriva por uma sonoridade spacey que convida ao entorpecimento dos sentidos. Depois deste princípio prometedor, vão evoluindo para territórios menos atractivos do sludge-metal, até caírem num emaranhado de repetição e previsibilidade. O abandono foi prematuro, até porque o estômago precisava de estar recomposto para o próximo acto.

Por fim, com a sala apinhada e muita ansiedade a pairar, chegavam os Godspeed You! Black Emperor, o numeroso colectivo canadiano que nos abandonou durante quase uma década mas que, nem por isso, parece ter perdido fiéis. Cada prestação dos GY!BE é uma espécie de cerimónia, e a do Hard Club não foi excepção, com os instrumentos a entrarem à vez, até se unirem num uníssono capaz de extrair a mais encantadora beleza do cenário da maior destruição imaginável. Com o novo álbum ainda fresco nos ouvidos dos presentes, "Mladic" foi já recebido como se de um "clássico" se tratasse, convidando, inclusive, no trecho intermédio de inflexões étnicas, a um tímido e inesperado ensaio de dança no público. Recebido com igual entusiasmo foi o segmento inicial do já histórico "Sleep", este num limbo entre o árido e o idílico, como só os GY!BE são capazes. Com a audiência rendida, a mais de hora e meia de concerto passa num ápice, e após o abandono gradual do palco, ninguém arreda pé na esperança de um regresso. Este acontece mas, porém, para frustração de público e banda, a tentativa de encore sai encurtada por problemas técnicos com uma das guitarras, o que impede a execução da peça musical com o rigor e a precisão que hoje os GY!BE ostentam. O incidente levou um dos membros do colectivo a tecer um paralelismo com o estado sócio-político de Portugal e da Europa, demonstração da consciência inconformista dos GY!BE apesar da quase total ausência de palavras na sua música. Feito o merecido e prolongado aplauso, fomos todos para casa, ainda aterrados com as visões do Apocalipse, mas conscientes de uma ténue luz de esperança.

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