Alva Noto @ Teatro Maria Matos, 27/11/2012
Nome incontornável da chamada electrónica minimalista e territórios adjacentes, Alva Noto parece gozar de um culto sólido dentro destas fronteiras. Se dúvidas houvesse, elas ficaram desfeitas ontem pela excelente moldura humana que compunha a plateia do Maria Matos, justamente em dia de semana e dia de concerto na capital de um "fenómeno" que ainda estou para entender. Falando pela generalidade, diria que, por muito altas que fossem as expectativas, poucos esperariam um dos melhores concertos a que esta cidade assistiu nos tempos mais recentes. Ou melhor, não um simples concerto, mas um espectáculo pluridisciplinar, no qual som e imagem desempenham papel de igual importância, talvez só possível de realizar na sua plenitude com as magníficas condições oferecidas pela - não tenham dúvidas! - melhor sala de espectáculos lisboeta.
Nascido Carsten Nicolai, este músico alemão tem já obra significativa, tanto em solitário, como em colaborações com músicos de sensibilidades idênticas ou nem por isso. Ao Maria Matos trouxe Unvrs (2011), o seu último álbum, com o propósito de demonstrar o porquê de ser tratado como artista audiovisual. Ao desconforto inicial provocado pelas interferências quase industrias e pela imprevisibilidade das batidas, segue-se um período de relativa percepção dos múltiplos sons que são oferecidos aos sentidos (por algum motivo se fala em micro-electrónica). Daqui em diante, até à imersão, para não dizer o total abandono, na peculiar linguagem de Alva Noto é apenas um instante. Para tal, muito contribuem as projecções em tela gigante, que nos expõem aquilo a que chamaria "as entranhas da música" em diferentes gráficos que vão reagindo aos sons debitados. A cada trecho, estes gráficos são-nos apresentados em diferentes planos, sempre no sentido do geral para o pormenor, proporcionado a verdadeira experiência "sound + vision". Recusando a frieza com que é conotado, Alva Noto faz-nos ainda perceber que é um espectador atento da alienação do mundo actual com uma bizarra e divertida peça, na qual se sucedem, à velocidade dos ritmos, toda e qualquer sigla de três letras conhecida, devidamente acompanhada do respectivo logotipo e do nome pronunciado num francês robótico. Este é o típico número que fará sempre mais sentido vivido do que contado, como praticamente todo o espectáculo, impossível de teorizar em palavras que serão sempre escassas.
Ao fim de uma hora, perante a ovação geral de uma plateia por fim na posse dos seus sentidos, Alva Noto regressa ao palco disposto a presentear-nos pelo aplauso. Antes não o tivesse feito, pois o curto trecho apresentado - não mais que uma reinterpretação dos instantes finais do concerto - não flui o tempo suficiente para nova viagem aos interstícios dos sons. Contudo, este é apenas um pormenor que retira brilho a um espectáculo de altíssima nota em todos os critérios.
2 comentários:
Ainda ontem tinha espreitado o site do Maria Matos e visto o anúncio deste concerto. Não conheço. A minha queda para concertos vai andar em regime low-cost e o MM é uma opção. A excepção que vou abrir para o ano vão ser os Yo la tengo na Aula Magna.
Olha que eu soube que ia, por boa vontade de umas amigas que tu conheces, poucas horas antes. Já conhecia mas fiquei a conhecer melhor e a gostar mais. Tenho a certeza que também irias gostar.
Então apontamos para Ben Frost, não?
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