"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A vida no arame














É assim de alguns anos a esta parte. Anda meio mundo ocupado na procura da oitava maravilha do mundo, do Santo Graal salvador da música popular. Perante este estado de coisas, são cada vez menos aqueles que se dão conta das actividades das bandas com carreira feita, mesmo quando estas se chamam Wire e são responsáveis por uma das marcas mais indeléveis, embora dissimulada, na pop dos últimos trinta anos. Isto a propósito da chegada ao mercado - no início desta semana - do formato físico de Red Barked Tree, o 12.º álbum de estúdio da banda londrina. Sem qualquer espécie de exagero, arrisco apontar o novo disco como a sequência lógica do tríptico que, em finais da década de 1970, assinalou um dos capítulos mais entusiasmantes do período pós-punk. Era algo que o anterior e apenas interessante Object 47 (2008) ensaiava timidamente e este vem consumar. Diria até que Red Barked Tree é bem capaz de ombrear com aqueles três em termos de arrojo. 
Longe vão os tempos dos abstraccionismos noisy da reunião (uma de muitas) de começos do novo século. Desta feita, e segundo o estratega Colin Newman, houve uma intenção deliberada de fazer as coisas de forma simples. Contudo, tratando-se dos Wire, a "simplicidade" não nos priva de alguns números de um rock visceral e contundente, outros de uma pop sofisticada que rejeita rótulos, ou ainda estilhaços punk, facção arty-distanciada-mas-nada-pedante. E, claro está, a habitual ambiguidade das letras, que libertam uma estranha aura sinistra de mistério e obrigam a atenção redobrada. Exemplos? Oiçam, no mesmo tema, e sobre uma malha descaradamente groovy, Graham Lewis entoar um enigmático "Please take your knife out of my back, and when you do, please don't twist it", para logo a seguir atirar com um semi-conclusivo e vitriólico "Fuck off out of my face, you take up too much space". Fica o aviso de que isto é apenas o começo:


"Please Take" [Pinkflag, 2011]

3 comentários:

strange quark disse...

Ora aqui está um nome, o de Colin Newman, que desde há um tempo (para aí uns 2 ou 3 anos atrás) ando para arranjar o respectivo In the Fishtank. Na altura não fazia ideia que era uma série. Quanto a devaneios dos Wire, confesso a minha ignorância de que andavam ainda a fazer algo.

strange quark disse...

Espera aí que ando baralhado... afinal fui ver aos meus registos e era o disco "My Pet Fish" da Malka Spigel (com a colaboração do Newman, obviamente). Quando arranjei o último do Sparklehorse e Fennesz sei que me vinha sempre à cabeça o disco da Malka, daí a confusão agora. Isto já é fish a mais para a minha cabeça... :)

M.A. disse...

Apesar de todos os pára-arranca, os Wire têm estado bastante activos nos últimos 10 anos (com uma paragem pelo meio, obviamente...). Ainda não há muito tempo, até tive a oportunidade de pôr uma cruz à frente do nome deles na minha lista das "853 bandas para ver antes de morrer".

A Malka Spiegel, tal como o Colin Newman, está nos Githead, de que já falei aqui há atrasado.

Abraço.