"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Ao vivo #60















Foto: Sarah Cass


Japanther + Shellshag @ Galeria Zé dos Bois, 20/01/2011

Essa coisa do rock'n'roll é juventude. É subversão. É rebelião. É diversão. É energia. É adrenalina. É transpiração. É uma data de coisas que, geralmente, emanam dos subterrâneos e chegam à superfície descodificadas em produtos de consumo em massa. Não que os nova-iorquinos Japanther venham um dia a ser referência para fenómeno em larga escala. Eles próprios são já uma reactualização dessa instituição punk-pop intitulada Ramones (com micro-versão de "Blitzkrieg Bop" incluída). Mas o que é indesmentível é que, nos dez anos já que levam a agitar pequenas salas apinhadas, abriram caminho para pequenos cultos como Wavves, No Age e mais um punhado de nomes ligados à secção mais poppy do chamado shitgaze

Em happenings que tendem para a indisciplina, os resultados podem variar entre o triunfo absoluto e o desastre completo, dependendo, quase exclusivamente do mood da assistência. Ontem, quis o acaso que o duo em palco e a imensa turba que lotou o "aquário" da ZdB, e não arredou pé por um instante, se alinhassem num propósito comum - celebrar o espírito libertário do rock'n'roll. A cargo da parelha de agitadores, sob a forma de pequenos petardos contagiantes, ficou o revisitar de seis décadas de tal ofício. Ele houve ortodoxia punk-rock, com direito a versão de Black Flag; ele houve surf-rock tal como entendido por putos fodidos de NYC que nunca viram uma praia; ele houve canções pop escorreitas que não mereciam ser relegadas para pequenos nichos de curiosos; ele houve balanço em dose massivas para sacudir corpos com excesso de energia; ele houve libertação do ennui juvenil. E houve muito humor: do mais inteligente e corrosivo, nas letras que debatem uma série de clichés da cultura pop estandardizada; e do mais inane, tanto nos pequenos trechos pré-gravados que medeiam as canções, como nas tiradas absurdas da dupla nesses mesmos interlúdios. O único pecadilho a apontar será, porventura, a duração excessiva de um concerto com estas características, o que faz com que o entusiasmo inicial esmoreça pelo cansaço, deixando a pairar uma sensação de repetição.

Também um duo, mas substancialmente mais contidos na subversão, os Shellshag alinham por um indie-rock mais canónico, num espectro mal definido que pode ir dos Pixies aos Royal Trux. Acusam ainda alguma insegurança, sobretudo o guitarrista, que não consegue disfarçar uma timidez pouco de acordo com o exercício do ministério rock. Mas nota-se que há por ali talento, engenho e, acima de tudo CANÇÕES. Umas vezes melódicas e sexy, outras cacofónicas e iradas, mas sempre fiéis à crença da baixa-fidelidade. Uma agradável surpresa que se tinha revelado recentemente via myspace, e cumpre, embora ainda sem distinção, em palco.

3 comentários:

eduardo disse...

Japanther foi uma puta de uma festa, ou como afirmei no fim do concerto, uma sessão de terapia de boa disposição, e ainda tocaram o "Boys Don't Cry" a meu pedido.

Shellshag foi porreiro mas falta ali qualquer coisa. Certos acordes remeteram para Dinosaur Jr.

Aqui no Porto ainda tivemos direito aos Throes, duo na linha dos Lightning Bolt. Boa onda.

M.A. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
M.A. disse...

Cá não houve "Boys don´t cry", mas houve "Rise above", como já referi.

Daquilo que ouvi no myspace, fiquei a achar que os Shellshag têm boas canções. Ao vivo falta, de facto, qualquer coisa. Talvez precisem de se soltar um bocadito. E sim, têm qualquer coisita dos Dino e dessa malta.