"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Sowing seeds


Há 25 anos, neste mesmo mês de Novembro, o mundo conhecia aquele que acabaria por se revelar o mais influente disco deste último quarto de século. Psychocandy sucedia a quatro promissores singles, e era o corolário de que toda a verborreia arrogante dos irmãos Jim e William Reid, geralmente em concertos curtos e caóticos, era para ser levada a sério.
No fundo, a receita até parecia bastantes simples: umas pitadas do espírito libertário dos Velvet Underground, a concepção da pop segundo os girl-groups de sessentas por via dos Ramones, atitude niilista herdada do punk, tudo embalado no wall of sound de Phil Spector. Porém, os ingredientes combinados, e afogados num mar de feedback, resultam em algo absolutamente novo e revolucionário. À parte o cariz inovador, Psychocandy é também um compêndio na arte de conceber grandes canções pop, daquelas que perduram no tempo com a mesma frescura das primeiras audições. Sujo, sexy, tenso, irado, neurótico, sombrio, amargo, rebelde, melancólico, introspectivo, Psychocandy é também um mostruário de emoções em conflito. Fica para a posteridade como o pico da turbulenta carreira dos Jesus and Mary Chain (JAMC), curiosamente o único concebido enquanto banda não limitada aos manos Reid. Nesse formação militavam ainda Bobby Gillespie, líder de sempre dos Primal Scream, e Douglas Hart, hoje um realizador de videoclipes reconhecido. O kit de bateria do primeiro limitava-se a timbalão e tarola, reza a lenda que o baixo do último tinha apenas duas cordas. Com esta secção rítmica reduzida aos serviços mínimos, sobra espaço para William encher de ruído e Jim espalhar coolness.
Produzido pelos próprios JAMC com um orçamento apertado, Psychocandy acabaria por deixar um traço indelével em toda a música de propensões sónicas produzida desde então. Sem quaisquer pruridos, os Sonic Youth atribuem aos JAMC parte da responsabilidade pela viragem pop, com os resultados que se conhecem. Já os My Bloody Valentine, encontraram em Psychocandy as bases fundadoras daquilo que ficaria conhecido como shoegazing. Por fim, convém olhar indiscriminadamente para a actual América indie e detectar as sementes espalhadas pelos irmãos Reid um pouco por todo o lado. Nada mal, para mera manifestação artística de dois putos problemáticos de East Kilbride, um subúrbio cinzento e opressivo de Glasgow.

"Never Understand" [Blanco y Negro, 1985]

4 comentários:

O Puto disse...

Excelente descrição e merecida homenagem a um grande disco!

O Puto disse...

Fica uma dúvida no ar: que lhes teria acontecido se tivessem permanecido na Creation?

M.A. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
M.A. disse...

Na altura a Creation talvez não tivesse ainda as condições para lhes dar a visibilidade que acabaram por ter. Mas, de certa forma, permaneceram ligados ao Alan McGee, não só porque este era o manager, mas também porque porque a Blanco y Negro era dirigida pelo Geoff Travis, ao que consta, amigo do McGee.

Abraço!