"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Rip it up and start again


Aproxima-se a passos largos a altura dos balanços finais de ano. Mas, antes disso, é tempo de pensar nas prendinhas musicais para o Natal daquelas pessoas que nos são realmente queridas. Pela parte que me toca, já tratei todas as questões burocráticas no sentido de oferecer a mim próprio ...Coals To Newcastle, a "caixa" definitiva dos escoceses Orange Juice (OJ), recentemente chegada às boas lojas com selo de uma Domino Records investida em repor bandas descatalogadas que urge (re)descobrir. No caso dos OJ, não há fome que não dê em fartura, pois a editora londrina disponibiliza de uma assentada todo o valioso legado da banda idealizada e liderada por Edwyn Collins entre 1979 e 1985. Ao todo, e para além de um livro rico em informação e profusamente ilustrado, ...Coals To Newcastle contém seis CDs e um DVD. Nas rodelas musicais podem encontrar a recente compilação The Glasgow School, com temas dos primórdios da banda, as gravações das várias BBC Sessions, e os quatro álbuns de originais, todos eles acrescentados com faixas extra [You Can't Hide Your Love Forever (1982), Rip It Up (1982), Texas Fever (1984) e The Orange Juice (1984)]. No DVD, para além da gravação de um concerto, podem encontrar o par de videoclipes gravados pela banda, e ainda algumas aparições televisivas.
Surgidos em Glasgow em pleno período pós-punk, conjugando de forma inaudita o funk mais desempoeirado, o sentir da soul, a pureza pop dos Byrds, e a insurreição dos Velvet Underground, os OJ foram, meio sem querer, os principais responsáveis pela criação do "som indie pop". Juntamente com os Aztec Camera e os Josef K, no catálogo da seminal mas caótica Postcard Records de Alan Horne, seguindo o espírito da Motown, personificaram o Sound of Young Scotland, algo que causou mossa junta das gerações de músicos vindouras da Escócia. Edwyn Collins nunca escondeu o sucesso e, como tal, o casamento com as multinacionais foi inevitável. O que se seguiu foi uma sucessão de grandes discos e discos bons, todos eles comercialmente falhados, quer seja pelas convulsões internas, pelas políticas editoriais, ou simplesmente por causa das tendências dominantes junto do grande público. À parte as referências avulsas dos Wedding Present e do omnipresente John Peel, bem como de uma escassa falange de devotos, os OJ quase caíram no esquecimento. Já com este século em andamento, com a curiosidade de músicos e público focada no período abordado no livro de Simon Reynolds com o mesmo título deste post, felizmente, tanto Edwyn Collins como os Orange Juice começaram a ser citados amiúde por um número crescente de neófitos.
Para aguçar o apetite do eventual incauto, ou do adepto franz-ferdinandiano à beira da descrença, deixo-vos com um filmezinho de uma pop borbulhante. Tal como outros da autoria do malogrado Derek Jarman, tem um ligeiro traço homo-erótico. No caso, até bastante ligeiro...

"What Presence?!" [Polydor, 1984]

2 comentários:

strange quark disse...

Não sou muito adepto de caixas porque raras são as bandas que me merecem o gasto substancial de dinheiro em toda a sua discografia. Neste caso, acho que irei reconsiderar... sempre são só 6 discos...

M.A. disse...

Só 6... ;)

Ainda agora me ando a lamentar por não ter comprado uma edição japonesa do "You can't hide..." que vi numa loja aqui há tempos. A caixa vai ser a compensação.