"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Ao vivo #57

















Greg Dulli @ Santiago Alquimista, 02/11/2010

Antes de passar aos factos, compete-me lamentar que aquele que mais justamente poderá ser apontado como o sobrevivente da "geração grunge", com trabalho válido contínuo, mereça apenas a atenção de escassas dezenas de fiéis, ainda para mais com a acústica sofrível a que o Santiago Alquimista já nos habituou. Podem alegar a avalanche de concertos que eu não me conformo, pois tenho a certeza que o "azeiteiro", um tal de Vedder, teria à sua espera, no mínimo, três coliseus. Resta-me a triste constatação de que o mundo em que vivemos é um mundo injusto.
Quem não acorreu e quem abandonou a função ainda a meio, perdeu a revisão da carreira, em formato semi-acústico, daquele que canta como poucos as coisas do amor, com desejo, traição, e desespero acoplados. Ao longo de mais de hora e meia, Greg Dulli brindou-nos com o constante ziguezaguear pela carreira de mais de vinte anos, sem esquecer nenhuma das bandas pelas quais deu ou dá a cara: The Afghan Whigs, The Twilight Singers, e The Gutter Twins. Sem a imponência da banda completa da passagem destes últimos pelo mesmo local, surge em trio, com duas guitarras, um violino e um violoncelo em alternância, o ocasional piano já em encore, e uma comunicabilidade ímpar. No quinhão dos Whigs - que inclui "Let Me Lie To You" e "Debonair", justamente as "eleitas" deste que vos escreve -, a transposição para o novo formato perde em transpiração aquilo que ganha em humanismo. Assim se percebe melhor a complexidade destas canções, para muitos - já ouvi dizer - meras descargas rock com um pingo de alma soul. Dos Twilight Singers, Dulli traz na bagagem um trio de temas novos, a integrar, segundo nos foi dito, num álbum para muito em breve. Poderei estar enganado, mas notei nestes um pendor mais rockeiro que subverte o charme que presidiu à fundação do projecto. Mais previsíveis, talvez porque mais próximas da sua forma original, as canções dos Gutter Twins realçam uma certa religiosidade que faz as delícias dos convertidos mais recentes. No capítulo das versões, o amargo de outrora deu lugar ao amadurecido, ponderado e, eventualmente, apaixonado Dulli do presente, com um par de temas bem demonstrativos do actual estado de espírito: "A Love Supreme" (John Coltrane) e "She Loves You" (The Beatles).
Ligeiramente desequilibrado na qualidade dos temas apresentados, tal como tem sido a carreira do seu protagonista, mormente na última década, o concerto prima pelo empenho e pelo brio que se mantém ao longo toda a sua duração. Tal demonstração de fé na música popular, quer seja o rock'n'roll, a soul, ou as indefinidas correntes jazz-blues, merecia o aplauso não de dezenas, mas sim de milhares. Quem sabe, se da próxima...

5 comentários:

hg disse...

Concordo em absoluto com a tua crítica. Se me permites vou partilhar.

M.A. disse...

Partilha, partilha. Eu é agradeço. Só não lhe chames "crítica". ;)

hg disse...

Eh pá! Então e chamo-lhe o quê?! :)

M.A. disse...

Resenha. É menos sinistro. :)

O Puto disse...

Cá por cima o cenário foi mais ou menos o mesmo, mas, tal como disse Dulli, "I don't care for the ones who didn't come; I'm interested in those who are here".