"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

domingo, 6 de junho de 2010

Singles Bar #46




A.R. KANE
Lollita
[4AD, 1987]

Estreados com um single que celebrava a distorção em prole da pop açucarada, os A.R. Kane assinalaram com o segundo registo naquele formato um breve passagem pela 4AD, então a editora que abrigava alguns dos mais arrojados projectos avant-pop. Na demanda do "som perfeito", contaram com a ajuda do produtor da "casa" - Robin Guthrie dos Cocteau Twins. Desta ligação efémera resultaram apenas três temas, reunidos no 12" Lollita. O tema-título assenta numa base de guitarra acústica e tapete sonoro ambiental. O torpor induzido desde o primeiro instante é apenas ameaçado pelo riff liquifeito do refrão. Embalado pela voz planante de Rudy Tambala, "Lollita" é primeiro assomo da pop idílica em que a dupla londrina se especializou no curto par de álbuns, fundamentais mas menosprezados, que compõem a sua obra. O primeiro b-side - "Sado-Masochism Is A Must" - distingue-se do anterior pela investida na electricidade, com generosas camadas de guitarra em cascata aplicadas sob estática que, no fundo, mais não são do que o reflexo da imagem de marca do produtor.  Ambos os temas comungam do gosto pela abordagem às preversões sexuais que marcou todo o percurso discográfico do projecto. No final, "Butterfly Collector" é uma das criações mais radicais de toda a carreira dos A.R. Kane. Inicia-se em regime contemplativo, como que antecedendo o contingente shoegazer que espreitava ao virar da esquina, para se diluir gradualmente numa descarga de ruído industrial. Tema atípico, "Butterfly Colector" acaba por representar o espírito aventureiro pelo qual sempre se pautaram os A.R. Kane, uma banda com tanto de pioneira como de negligenciada.


"Lollita"


"Butterfly Collector"

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