"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

terça-feira, 8 de junho de 2010

Discos pe(r)didos #40





CINERAMA
Va Va Voom
[Cooking Vinyl, 1998]

Em 1997, com os The Wedding Present (TWP) em banho-maria, David Gedge decide mudar de rumo. Juntamente com a companheira de então Sally Murrell a formar o núcleo duro, e uma série de colaboradores avulsos, forma os Cinerama. Pouco depois surge o primeiro álbum e, com ele, a evidência da mudança estética. Para os seguidores mais ferrenhos dos TWP, Va Va Voom representa um violento choque, abdicando em absoluto das guitarras ríspidas características da anterior banda de Gedge. O próprio ostenta agora uma nova forma de cantar, segura, terna, sem o angst por vezes berrado de outrora. Os onze temas que compõem o disco enveredam por uma toada elegante e sóbria, próxima das manifestações da pop mais sofisticada e classicista. Das melodias ternas despontam subtis arranjos de cordas, órgãos viscosos e, aqui e ali, uma guitarra wah-wah. Imaginamos as canções de Va Va Voom a servir de música de suporte a uma película filiada na tendância nouvelle vague, ou então a outra qualquer desenrolada no cenário de elegância da Swinging London. Desta propensão cinemática intencional deriva, precisamente, o nome dado ao projecto.
Mas, se musicalmente os Cinerama representam um corte abrupto com a dureza dos TWP, nas letras continuam a dispor do mais cruel analista das relações a dois que o Reino Unido pós-punk pariu. Logo no inaugural "Maniac", Gedge renega, inconsolável, o "fim de caso" que a voz feminina, no início do tema, decreta. "Hate" é o nosso bom David em modo de cinismo visceral, declarando ódio amragurado com uma ternura que faria inveja ao próprio Morrissey. O título do cúmulo da auto-comiseração, com o imploratório "Me Next" por perto, vai para "Ears", com Gedge a confessar a inevitibilade de escutar o provável alvo de uma amor platónico nos seus momentos mais íntimos. A presença, metade angelical, metade erótica, de Emma Pollock (The Delgados) só aumenta o realismo voyeurista até um nível  próximo do embaraço. Dotado escritor de canções de amor, Gedge é também capaz de destilar em palavras a sua faceta positivista e apaixonada. São os casos do tratado de devoção de "Barefoot In The Park", da volúpia incontrolável de "You Turn Me On", ou do convite à dança em grandes salões do opulento "Dance, Girl, Dance".
A aventura Cinerama haveria ainda de render mais um par de álbuns e um sem-número de singles, nos quais Gedge aproveitou para refinar a fórmula iniciada em Va Va Voom. Em 2003, com o fim do relacionamento com Murrell, decretaria também o fim do projecto. Da formação entretanto aumentada e estabilizada emergeriam os renovados TWP que, de há meia dúzia de anos para cá, continuam a dar vazão à criação deste David Gedge amadurecido.


"Maniac"


"Hate"


"Ears"

1 comentário:

Shumway disse...

Este realmente continua mesmo perdido, o que é pena, pois é um grande disco, tal como "Disco Volante".

Abraço