"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Ao vivo #55
















Foto: Tim Williams

The Necks @ Teatro Maria Matos, 16/06/2010

Piano, contrabaixo e bateria é uma combinação que imediatamente associamos ao jazz. Porém, quando se fala de The Necks, o género musical nascido em Nova Orleães há coisa de um século só faz sentido quando precedido do grau superlativo do adjectivo free. Rezam as crónicas que, em concerto, este trio australiano, a dinamitar as convenções genéricas há quase 25 anos, raramente se repete. Se assim é, sinto-me um felizardo por ter assistido a uma prestação deveras cativante, onde a estranheza só é detectada por ouvidos fechados a qualquer ruptura com os padrões. Deve ser esse o caso das duas jovens sentadas ao meu lado que, ainda Lloyd Swanton não tinha acabado de pousar o contrabaixo ao fim do primeiro trecho, e já saltavam da cadeira como que movidas por uma mola gigantesca.
O concerto compõem-se simplesmente de dois longos trechos (a rondar os 40 minutos de duração cada), intercalados por um intervalo de 15/20 minutos. O primeiro começa em lenta progressão minimalista, com os instrumentos a entrarem à vez, evitando atropelos. Nesta parte detecta-se o empenho no detalhe por cada um dos músicos. Gradualmente, os sons colidem e, sem sobressaltos, arrastam-nos numa deriva aparentada do kraut-rock, uma das influências nunca disfarçada pelos The Necks. No trecho apresentado após o intervalo, a mudança rítmica é mais abrupta, com o trio a evoluir rapidamente de sons esparsos para um aparente caos de efeitos hipnóticos. Aqui, com os sentidos toldados, é com deleite que se verifica a mestria dos músicos, capazes de sugerir imagens oníricas a partir da deliberada indisciplina, em particular o baterista Tony Buck, dono de uma precisão que vai para além do sobre-humano.

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