MODEST MOUSE
The Moon & Antarctica
[Epic, 2000]
Apenas descobertos pelo grosso dos melómanos europeus há coisa de meia dúzia de anos, os Modest Mouse eram desde há muito uma referência obrigatória para o público indie norte-americano. De tal forma que, ainda a década passada estava no seu dealbar, e sem as facilidades de divulgação hoje concedidas pela internet, e a banda dos arredores de Seattle era já assediada pelas multinacionais. Curiosamente, contrariando a máxima do fundamentalismo indie, a estreia dos Modest Mouse numa editora grande dá-se com o seu disco mais denso, complexo e impenetrável. Mas também o de efeito mais perene e viciante, depois da assimilação que sucede à sensação de exaustão deixada pelo primeiro contacto. Muita da carga dramática de The Moon & Antarctica advém da riqueza estonteante da letras, concebidas como uma reflexão profunda sobre a inevitabilidade da morte num mundo cínico, hipócrita, e à beira da paranóia colectiva. Alguma perspicácia permite-nos detectar nas letras uma afinidade com os primeiros romances de Douglas Coupland, ou até com a atracção pelo absurdo dos tutelares Pavement. Contudo, o letrista personalizado que é Isaac Brock esquiva-se airosamente da relativa espiritualidade do escritor canadiano, e consegue ser mais inteligível que Stephen Malkmus.
Os temas que compõem The Moon & Antarctica, em número de quinze, podem dividir-se em três sequências não completamente delineadas: uma primeira mais introspectiva, uma intermédia mais desesperada, e uma final mais redentora. Próximo da hora de duração (algo extenso para os parâmetros actuais), o disco frui-se num ápice, tal a intensidade com que o constante carrossel de emoções e sensações se gruda aos tímpanos. Apesar de hoje serem reconhecidos pela urgência que imprimem em cada tema, mormente reflectida na voz de Brock, os Modest Mouse de há dez anos revelavam-se mais inventivos nos números mais contidos, de maior pendor acústico. É nestes temas que a experimentação vai mais longe, revelando novos detalhes a cada audição, seja a percussão invertida do soberbo "Gravity Rides Everything", as interferências electrónicas na melancolia de "The Cold Part", ou as cordas em estado líquido de "Lives". Já os temas mais exuberantes ("Dark Center Of The Universe", o longo e nuclear "The Stars Are Projectors", "Paper Thin Walls") estão a meio caminho da esquizofrenia derivada do post-punk a que os Modest Mouse nos habituaram nos últimos anos. Equidistante das duas tendências está o inaugural "3rd Planet", tema bipolar de mudanças rítmicas abruptas. A habitual bizarria fica a cargo de "Tiny Cities Made Of Ashes" que, movido pela propulsão de um baixo funky, soa a antepassado remoto de algumas manifestações hip-hop "bastardas" de tempos recentes.
"Gravity Rides Everything"
"Dark Center Of The Universe"
"The Cold Part"
4 comentários:
curioso que este disco possui as etiquetas da Matador e da Sony. Deduzo que terá sido uma questão de licenciamento, tendo levado posteriormente ao contrato com a Epic que pertence à Sony.
De qualquer forma, é um grande disco!
Efectivamente, o disco é da Epic/Sony. Poderá é ter havido um contrato de distribuição diferente para a Europa. Ou então um acordo semelhante ao da Sub Pop com a Geffen na "transferência" dos Nirvana.
Tal como essa maioria que referes, só os conheci através do "Good News...", que continua a ser o meu preferido, mas este também é um grande disco.
Simplesmente 5 stars.
Abraço
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