Foto: Rez Avissar
Real Estate + U. S. Girls @ Galeria Zé dos Bois, 19/02/2010
É já demais evidente que, nos states, uma geração de jovens músicos mostra vontade em revitalizar uma "cena" indie que, na década finda, entrou em estado de progressiva letargia. Para tal, no estilo clássico do "género", socorrem-se das melhores memórias da música popular e de um forte cunho pessoal para criar algo único. Do rol, já demasiado extenso para nomear, uma das bandas mais gratas a este escriba dá pelo nome de Real Estate, um quarteto de putos da "saloia" New Jersey. Da sua música, emanam velhos quadros familiares, tais como a melancolia espectral dos Galaxie 500 ( e dos Desolation Wilderness, já agora) e a luminosidade surf dos Beach Boys. No entanto, sem que para isso necessitem de especial originalidade, os Real Estate esquivam-se com engenho à neurose dos primeiros e à alegria festiva destes últimos. Remetem-nos assim para o imaginário das bandas de baile contratadas para animar os fins de tarde (de fim de Verão) na esplanada de uma qualquer praia longínqua. Sucede que, apesar da baixa média etária dos seus integrantes, os Real Estate ostentam um inesperado savoir faire na assimilação das suas referências, provocando, com estas canções puras e de uma honestidade atroz , uma sensação de nostalagia por um um tempo e um espaço, que a terem existido, desaparecem sem deixar rasto. Como que enfeitaçada pela languidez que brota do palco, a turba que lota completamente a exiguidade da ZdB alheia-se durante hora e meia do desconforto que a situação possa causar e não arreda pé. As baixas temperaturas tiveram o seu contributo, é certo. Mas o mérito da proeza vai quase inteirinho para o poder de sedução dos simpáticos Real Estate, com os quais tenho já reencontro marcado à beira do Mediterrâneo em finais de Maio.
Com o "aquário" da ZdB já apinhado, optei (e bem) por ficar a confraternizar do lado de fora durante a prestação de U.S. Girls (alter ego de Megan Remy). De longe, chegavam-me amostras de uma cacofonia em regime lo-fi que incorpora elementos étnicos, drones, e desvarios abstraccionistas vários. A sensação que fica é de que a função deverá ser mais prazenteira para quem a executa do que para quem a ela assiste.
2 comentários:
O concerto dos Real Estate ultrapassou as minhas expectativas. Em disco aborrecem-me ligeiramente, mas ao vivo, passo a passo, concentrados apenas na música e sem tiques de vedetismo (ainda tenho os Wavves na cabeça) deram um concerto em crescendo e que terminou em alta. Muito bom!
Quanto à loira do ruído... concordo contigo. E não adianta acrescentar nada de nada.
O disco dos Real Estate agradou-me apenas moderadamente às primeiras audições. Presentemente, depois de alguma insistência, confesso-me viciado ao ponto de o considerar um dos melhores do ano passado. Quanto ao concerto, esperava toda aquela humildade, de resto sugerida pela música. Mas admito que toda aquela destreza e a simpatia dos putos me apanharam completamente desprevenidos. E que bom que foi...
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