"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Discos pe(r)didos #35

 

THE OCEAN BLUE
The Ocean Blue [Sire, 1989]

Ao ouvir pela primeira vez The Ocean Blue, álbum de estreia deste quarteto descoberto por Seymour Stein, patrão da Sire Records com responsablidades na apresentação dos Smiths aos ouvidos ianques, qualquer um é levado a afirmar estar perante uma banda britânica da era dourada do indie-pop. No entanto, o combo denominado The Ocean Blue é constituído por músicos oriundos de Hershey, Pennsylvania, mas com uma profunda identificação com as sonoridades mais emotivas e letradas que, à data, chegavam do Reino Unido. Não admira pois que, para a gravação deste debute, tenham rumado a Inglaterra, onde, sob a batuta de John Porter (produtor dos Smiths) registaram uma dúzia de temas exuberantemente melodiosos.
O trio inaugural de canções, todas elas extraídas como singles, é ilustrativo do código genético dos Ocean Blue. "Between Something And Nothing" abre com um breve dedilhado digno de um Johnny Marr. Ao fim de breves instantes, o tema evolui para um épico outonal ao melhor estilo Bunnymen. Da mesma matéria prima se fazem temas posteriores, como "The Circus Animals" e "Ask Me Jon", o que nos leva a desconfiar que a alusão aos motivos marítimos no nome do colectivo tem uma origem óbvia. Por sua vez, "Vanity Fair" é descaradamente secura The Smiths em modo jangle pop. No balanço folksy, este mesmo tema estabelece ligações aos R.E.M. dos primórdios, eventualmente a única fonte de inspiração  norte-americana do quarteto nesta fase. Entidade distinta é "Drifting, Falling", marcado pela opulência de um saxofone. Fosse a voz de David Schelzel mais rugosa e este tema encaixaria sem estranheza no repertório dos Psychedelic Furs. Por outro lado, a postura austera evita paralelismos mais evidentes com a jovialidade dos Haircut100. Editado num período de transição das tendências indie pop, The OB antecipa inclusive a onda baggy que em breve assolaria as ilhas britânicas, tal como expresso no groove sacado de um órgão Hammond em "Frigid Winter Days". Embora enredado nas suas referências, The OB resiste com distinção ao rótulo de exercício de copismo, muito por obra da capacidade da banda em retirar ensinamentos díspares em proveito próprio, e do lirismo romantizado impregnado de uma frescura ingénua característico da escrita de Schelzel. Neste particular, a simplicidade atroz de "Love Song" é exponte máximo.
No regresso aos Estudos Unidos após as sessões de gravação, um cancelamento de última hora impediu que elementos da banda fossem passageiros do avião, já célebre pelos piores motivos, que explodiu sobre a cidade escocesa de Lockerbie. Esse feliz acaso permitiria aos Ocean Blue aprimorar a fórmula nos registos subsequentes de uma carreira que se prolonga até aos dias de hoje. Porém, nenhum desses discos reproduz o retrato de uma era com a mesma frescura da estreia.

The Ocean Blue "Drifting, Falling"

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