SUPER BOCK SUPER ROCK 2007Na ressaca dos três dias extenuantes do 13.º (e melhor de sempre) SBSR, confesso que já sinto saudades. As linhas que se seguem são a minha opinião muito sucinta e honesta sobre a prestação das diversas bandas que passaram pelo palco do Parque Tejo nestes três dias inesquecíveis. Vou aqui tentar evitar tecer qualquer tipo de comparação entre actuações. Além deste tipo de comparações serem extremamente injustas devido às condições específicas de cada concerto (horário, som, luzes, público), são o trabalho da imprensa diária, sempre ávida de novos heróis e novos vilões. 3 de Julho Após a chegada ao recinto e a habitual volta de reconhecimento, durante a qual os Gift tentavam provar de forma vã que não são nada enfadonhos, deu-se a primeira aproximação ao palco para assistir ao concerto dos Klaxons. Apresentando uma indumentária mais sombria do que o habitual, os putos coqueluche tiveram uma entrada meteórica devidamente sublinhada pelo público já bastante numeroso para aquela hora. Lá pelo meio a coisa amainou um bocado, ganhando vida renovada na parte final do concerto onde não faltou o soberbo "Magick". Primeiro triunfo do festival, que poderia ter sido mais rotundo se tivesse ocorrido a uma hora mais tardia.
Apesar de ter aproveitado para jantar durante a prestação do Magic Numbers, deu para perceber que a pop solarenga do quarteto britânico teve melhor acolhimento do público do que aquele que eu esperava. Muito bonito e competente.
Também (apenas) competentes foram os Bloc Party. Aquela que era até há pouco uma das bandas mais queridas do público portuga parece ter perfeita consciência das debilidades do seu segundo álbum, dando um especial destaque aos temas de Silent Alarm. Não faltaram por isso "Banquet", "Like Eating Glass", "Helicopter" e "So Here We Are", para gáudio de milhares. A curva do entusiamo teve uma variação semelhante à dos Klaxons e as insuficiências da voz de Kele Okereke estiveram mais evidentes do que em Paredes de Coura.
Mas se os Bloc Party eram os cabeças de cartaz deste primeiro dia, os Arcade Fire foram, como se esperava, as estrelas da noite. A pompa da maioria dos temas de Neon Bible funciona muito bem em palco ("Intervention" nem assim se safa) e provoca um efeito sobrenatural sobre o público. Foi muito bom terem tocado "Antichrist Television Blues" (não esperava, confesso), de longe o melhor e mais atípico tema da bíblia de neon. Só foi pena que, entre os poucos (e pouco rodados, pareceu-me) temas tocados de Funeral não tenha havido "Laïka". A voz de Régine Chasagne em "Haïti" não foi das melhores coisas que se ouviram para os lados do SBSR, mas não conseguiu manchar um concerto a roçar a pefeição. E como eu disse há uns meses atrás, o estádio é deles não tarda nada... 4 de Julho O dia mais esperado deste SBSR começou a meio da actuação dos Linda Martini. Apesar dos escassos minutos a que assisti, deu para perceber que a banda ostenta um crecente à-vontade em palco. Não sendo particularmente imaginativos, têm uma atitude bastante louvável. Só é pena aquela voz sofrível a debitar "poesias" à maneira das bandas da Linha de Cascais. Com aquele enrolanço na pronúncia dos "tt" e tudo...
Ainda não passaram dois anos sobre a edição do primeiro (e bem recebido) disco dos Clap Your Hands Say Yeah e parece que foi há uma década, tal a indiferença a que foram votados durante o concerto. Para piorar o cenário, a voz de cana-rachada de Alec Ounsworth parece não ter caído no goto dos presentes. Pareceram-me um pouco deslocados do resto do cartaz, o que é uma pena, pois mereciam algo mais. Ainda assim, provaram mais uma vez que "The Skin Of My Yellow Country Teeth" é uma das melhores canções de "dança esquizofrénica" dos últimos anos.
A pop arty dos Maxïmo Park constitui uma caso à parte no actual cenário musical made in Britain. A maior virtude destes rapazes é a forma como conseguem evidenciar diversas referências de boa memória sem cair no mero copismo. Entoando letras de fino recorte, Paul Smith foi uma das figuras (e das vozes) do festival: comunicativo, simpático e bem-humorado. Apesar de um menor balanço nos temas mais downtempo de Our Earthly Pleasures, "Apply Some Pressure", "Grafitti", "Girls Who Play Guitars", ou "Our Velocity", garantiram o triunfo.
E o cenário estava montado para o acontecimento do ano: The Jesus and Mary Chain. Após os problemas com a guitarra de William Reid que marcaram o inaugural "Never Understand", os JAMC arrancaram as primeiras demonstrações de delírio com "Head On" logo a seguir. A estranha apatia da maioria do público nas filas da frente, permitiu-me desfrutar em lugar previligiado de pérolas com "Cracking Up", "Just Like Honey", "Some Candy Talking", ou "Reverence" (arrebatador, a encerrar). Nem a entrada em falso de "Some Candy Talking" foi capaz de perturbar a coolness de Jim Reid, um figurão digno de reverência. Estranhamente não houve nem "Darklands", nem "April Skies"...
Não há qualquer dúvida que James Murphy sabe quais os ingredientes certos para fazer delirar o público mais heterogéneo. Os LCD Soundsystem são uma máquina de fazer dançar, seja com temas sofríveis ("North American Scum", "Daft Punk..."), medianos ("Tribulations"), ou soberbos ("All My Friends"). Até na devida vénia aos heróis do passado o homem soube não cair na previsibilidade, com a interpretação do mais ou menos obscuro "No Love Lost" dos Warsaw. Só um senão: entre as virtudes que possa ter, James Murphy não é um cantor brilhante, pelo que, aquele "New York I Love You...", a encerrar, era dispensável.
5 de Julho
No dia de encerramento do SBSR, apesar do cansaço acumulado, consegui reunir forças para chegar a horas de aassistir a 2/3 do concerto dos X-Wife. Depois da experiência irrepetível de Paredes de Coura, cada nova actuação da banda a que assisto é um avivar da memória desse momento tão grato. Com a mais-valia que trouxe a introdução de um baterista, a máquina parece cada vez mais oleada e João Vieira é o frontman que este país não merece.
Falar dos Gossip é falar de Beth Ditto. É injusto para o resto da banda mas, a voz e a imagem da menina sobrepõem-se a tudo o resto. Muito suor, muito groove, e o público rendido. Talvez noutro horário (ou noutro local) o efeito tivesse sido ainda mais demolidor.
Só a entrada em palco com "Young Liars" foi suficiente para dissipar qualquer cepticismo em relação ao aguardado concerto dos TV on the Radio. Mais uma vez, como no dia anterior, aquele publicozinho imberbe que povoava a frente do palco não foi obstáculo capaz de travar o entusiasmo de alguém com mais de três décadas nas pernas. Felizmente não estava sozinho nos delírios com contornos de celebração de "Wolf Like Me" e "Staring At The Sun". Se alguns viram um génio na véspera, ei vi-o neste mesmo dia: chama-se David Sitek e é bem mais discreto, por sinal.
Pelo canto do olho, durante o período do merecido descanso, deu para perceber que o circo Scisor Sisters quase descambava para a pornografia. No país de onde vêm é-se detido por bem menos...
Fui um claro entusiasta do primeiro disco dos Interpol mas, confesso que Antics nunca me conseguiu encher as medidas. Por isso as expectativas para a primeira vez da banda nova-iorquina em solo luso dividiam-se entre a esperançado e o receoso. Felizmente correu tudo pelo melhor, num concerto obviamente marcado pelas canções no álbum que aí vem e, em que, os dois registos anteriores foram democraticamente recordados. Houve até um ligeiro arrepio na espinha quando, de enfiada e já no encore, os Interpol presentearam a assistência com os seus dois melhores temas de sempre: "NYC" e "Stella Was A Diver...".
Foi muito bom, ainda que por breves instantes, constatar que os Underworld continuam iguais a si mesmos na arte de fazer dançar com uma música que se ouve com igual deleite.
Já em piloto-automático, e ao som dos Underworld, houve rumagem ao Incógnito para a "festa Interpol". E em boa hora, pois permitiu trocar umas ligeiras impressões com o simpatiquíssimo Tunde Adebimpe que ali se encontrava com outros dois membros dos TVOTR. Também por lá estava Paul Banks, o vocalista dos Interpol, mas não me pareceu lá muito virado para grandes conversas.