"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

sexta-feira, 30 de março de 2007

CINCO VEZES GA

Ga Ga Ga Ga Ga é o insólito título escolhido pelos texanos Spoon para o seu sexto álbum de originais a editar a 10 de Julho.
Longe vão os tempos em que as canções dos Spoon soavam invariavelmente a Pixies e/ou Nirvana. Em Gimme Fiction, o álbum de 2005, Britt Daniel punha a descoberto o Prince que tem dentro de si e o mundo ficava mais perto de reconhecer o seu pequeno génio.
Pelos alinhamento já avançado, tudo leva a crer que os Spoon vão reincidir no elemento funky que tão bons resultados obteve no antecessor. E eu estou ansioso por saber ao que se refere o loiríssimo Britt Daniel num tema intitulado "Black Like Me"...

quinta-feira, 29 de março de 2007

TACANHEZ ETERNA

"Once I had my heroes
Once I had my dreams
But all of that is changed now
They've turned things inside out
The truth is not so comfortable, no
And mother taught us patience
The virtues of restraint
And father taught us boundaries
Beyond which we must go
To find the secrets promised us, yeah
That's when I reach for my revolver
That's when it all gets blown away
That's when I reach for my revolver
The spirit fights to find its way"

(Mission of Burma in "That's When I Reach For My Revolver", 1981)

Este excerto de um hino esquecido da década de 1980 é a minha dedicatória a todos aqueles que pagaram € 0,60 + IVA para fazerem daquele ser sinistro de Santa Comba Dão o vencedor do concurso da Maria Elisa...

DISCOS PE(R)DIDOS #6

NEUTRAL MILK HOTEL
In The Aeroplane Over The Sea (Merge, 1998)

Passados que estão quase dez anos sobre a edição original do segundo e derradeiro disco dos Neutral Milk Hotel (NMH), é para mim incompreensível como continua tão negligenciado pela maioria do povo consumidor de boa música. Felizmente, a minoria que teve a felicidade de se cruzar com In The Aeroplane... presta-lhe uma devoção só ao alcance das obras maiores.
Parte integrante do colectivo Elephant 6 sediado em Athens (Geórgia), no qual estavam também integrados os Apples in Stereo, The Olivia Tremor Control e Elf Power, caracterizado pela partilha não só de uma certa filosofia como de membros entre as bandas, os NMH gravitavam à volta do excêntrico Jeff Magnum: fundador, letrista e compositor de excepção.
Obra seminal do neo-psicadelismo indie que hoje dá cartas, In The Aeroplane... é, em certa medida um disco conceptual: sem intervalos entre as onze peças que o compõem, alternando momentos de pendor acústico com outros mais "a abrir", tendo como ponte autênticas fanfarras que nos remetem para as marchas fúnebres da Louisiana.
As letras, cantadas com uma paixão que a fragilidade da voz de Jeff Magnum só enaltece, foram, segundo o próprio, inspiradas por sonhos recorrentes com uma família judia na Holanda durante a 2.ª Grande Guerra e da forma como procuravam alguma beleza no meio do horror. Mas a ambiguidade é suficiente para permitir distintas interpretações por parte dos ouvintes.
Após a aclamação crítica, Magnum dissolveu a banda de forma inesperada e nunca justificada e remeteu-se a um longo silêncio, apenas quebrado muito esporadicamente por prestações ao vivo onde as composições de In The Aeroplane... são presença obrigatória.
No entanto, o seu legado está hoje bem presente na fornada de bandas de geeks que dominam hoje o gosto de muitos melómanos, como The Shins, Arcade Fire ou Okkervil River.

terça-feira, 27 de março de 2007

TANTO BARULHO POR NADA...

AU REVOIR SIMONE
The Bird Of Music
(Moshi Moshi, 2007)


Para que não haja equívocos, esclareço desde já que, o barulho a que se refere o título deste post está relacionado com as reacções entusiastas ao álbum de estreia das Au Revoir Simone (ARS) que tenho detectado nos mais diversos meios, e não à música praticada pelo trio, ideal para séries de televisão armadas ao pingarelho, como Grey's Anatomy, The OC ou Six Feet Under (3.ª e 4.ª séries)
Esta música, feita à base de sintetizadores baratos e caixa de ritmos, raramente levanta acima do nível do solo e pende um bocado para o enfadonho. Excepção feita a"A Violet Yet Flammable World", onde as belas vozes do trio constroem um tema muito acima da média.
Curiosamente, a editora das ARS é a mesma dos Tilly and the Wall, uma banda com o triplo do interesse e sem metade dos encómios. Quem quiser, se ainda tiver paciência para as CSS, pode verificá-lo já para a semana na primeira parte do concerto destas no Lux.
Ainda assim, e apesar de não ter achado The Bird Of Music o que para aí se apregoa, num campeonato do bocejo onde os Air são campeoníssimos e os Postal Service têm acesso directo à Champions League, as ARS andam ainda longe dos lugares europeus.

JAMC @ SBSR

É oficial: os ressuscitados Jesus and Mary Chain estão confirmados no cartaz da edição deste ano do Festival Super Bock Super Rock.
O dia reservado para a actuação da banda escocesa é 4 de Julho, o mesmo em que actuam The Rapture, Maxïmo Park, LCD Soundsystem e Clap Your Hands Say Yeah.
Sendo assim, e esfumada que parece a hipótese de ver os JAMC no Alto Minho, lá terei de desembolsar € 40,00 para a Música no Coração e gramar com os putos dos Linda Martini pela enésima vez...

segunda-feira, 26 de março de 2007

EM ESCUTA #8

PANDA BEAR
Person Pitch (Paw Tracks, 2007)

Noah Lennox a.k.a. Panda Bear é membro fundador dos Animal Collective (AC) e reside actualmente em Lisboa, facto já sobejamente comentado nos media ligados a esta coisa da música popular, ao ponto de alguém ter afirmado que Person Pitch exibe uma certa "lisboness", o que quer que isso seja. Para mim, este deve ser um conceito semelhante à mística benfiquista, da qual todos falam e ninguém sabe dizer ao certo o que isso significa.
Se Lisboa ficasse na Califórnia concordoria sem hesitar com este iluminado, pois o ponto de partida para a confecção deste belo disco é a música dos Beach Boys da fase Pet Sounds/SMiLE, tanto nas harmonias vocais, como na grandiosidade do som spectoriano exibido. Esta referência ganha contornos tão evidentes que, no longuíssimo e genial "Bros", ficamos na expectativa de que a qualquer momento possa irromper o refrão de "I Know There's An Answer".
Contudo, Lennox cita os seus heróis não de uma forma meramente copista, revelando um savoir faire na manipulação dos mais diversos sons e um especial cuidado no detalhe, características que fazem de Person Pitch uma obra que, apesar de ancorada no passado, revela uma contemporaniedade ímpar.
E se um certo experimentalismo aplicado a sons familiares é uma das imagens de marca dos AC, aqui acaba por funcionar como o único senão de um disco quase perfeito, fazendo com que as diferentes partes de alguns temas não "colem" tão bem como o desejado. Deste facto, o melhor exemplo é "Good Girl", ao qual subtrairia o ruído electrónico mesclado com coros tribais da abertura para construir uma das mais belas canções dos últimos tempos.
Não sendo, como alguém já disse, o melhor disco "dos" AC, Person Pitch é companhia altamente recomendável para os dias solarengos que se aproximam, seja em Lisboa ou em qualquer outro lado.

quinta-feira, 22 de março de 2007

WHERE HAVE THEY BEEN?


MY TEENAGE STRIDE
Ears Like Golden Bats (Becalmed, 2007)

Passado o deserto de edições relevantes do início de ano chega a Primavera, e com ela as surpresas agradáveis sucedem-se em catadupa. Esta é uma delas: uma banda que eu desconhecia totalmente mas que, antes deste, tinha já editado dois outros álbuns, embora como uma espécie de alter ego do mentor Jedediah Smith.
Agora, como uma banda a 'sério', mais propriamente um quarteto com elementos provenientes dos quatro cantos dos US of A, apresentam-nos uma obra pop arrebatadora onde, como alguém já disse, os fantasmas do Orange Juice, The Go-Betweens e da geração C86 pairam de forma cintilante.
Finalmente a recuperação dos eighties parece ter tomado o rumo certo... Um must para os apreciadores do melhor indie pop!
My Teenage Stride no MySpace

quarta-feira, 21 de março de 2007

EM ESCUTA #7

KLAXONS
Myths Of The Near Future (Polydor, 2007)

Estariam os Klaxons longe de imaginar os equívocos que iriam gerar quando, há coisa de um ano atrás, meio por brincadeira, definiram a música que praticam como nu rave. Logo aí, a imprensa britânica tentou criar uma nova tendência musical, como se estas coisas não fossem de nascimento espontâneo.
Após umas quantas audições de Myths..., que se revela de fácil assimilação, quer pela familiaridade dos sons, quer pela curta (ainda bem!) duração do disco, podemos colocar o som dos Klaxons num limbo entre Jilted Generation e Fat Of The Land, ambos dos Prodigy, sem descair deliberadamente para a vertente techno do primeiro, nem exibir a sujidade do segundo. E as ligações à geração rave ficam-se por aqui... Além do mais, Myths... parecer ser uma obra mais destinada ao consumo de cervejola em doses industriais do que ao pastilhanço, um pouco como a miudagem de hoje.
Falando da música propriamente dita, pode dizer-se que estamos perante um disco funcional que de certeza irá durar mais do que uma estação. A aura futurista e misticista exibidas tanto no nome do disco, como na maioria dos temas, também ajuda a criar um certa curiosidade. Pena foi que a vertigem do excelente "Magick", tema que me pôs de olho nos Klaxons, não tivesse sequência de monta na estreia em formato grande. Dado o potencial comercial entretanto alcançado, a produção do álbum parece mais comedida e a jogar pelo seguro, ao ponto de algumas temas, como o mais recente single "Golden Skans", aparecerem embrulhados num certo glamour, nitidamente a piscar o olho a públicos mais fashionistas.
Não apresentado neste debute a obra que vai salvar a pop britânica, os Klaxons têm aqui um disco que não envergonha, ao mesmo tempo que exibem uma ligeira postura arty despretensiosa que só lhes fica bem.
(Pode ter sido impressão minha, mas num momento ou outro, ouvi ecos do disco de estreia dos Franz Ferdinand... se é que isso interessa...)

segunda-feira, 19 de março de 2007

CREATION RECORDS 1983-1999

Durante o seu período de vida, aquela que eu considero ser a melhor editora indie de sempre, publicou algumas das mais importantes obras discográficas que me acompanharam ao longo dos últimos 20 anos.
Numa tentativa de fazer uma espécie de tributo quer à editora, quer a Alan McGee, seu mentor, a listagem de canções que se segue é aquilo que eu consideraria ser a compilação ideal dos 16 anos de actividade da Creation, com a particularidade de incluir os My Bloody Valentine, coisa que não acontecia na compilação oficial (birras do senhor Kevin Shields, dizem).
Por forma a tornar a hipotética compilação o mais sintética e representativa possível, estabeleci previamente três critérios:
- número de faixas limitado a 18 (número razoável para uma compilação);
- apenas uma faixa por banda/artista;
- alinhamento das faixas pela ordem que me parece mais lógica para serem ouvidas.
Confesso que a selecção não foi fácil... Agora aguardo as vossas sugestões/comentários...

1. OASIS "Live Forever"
2. THE JASMINE MINKS "Cut Me Deep"
3. BIFF BANG POW! "She Paints"
4. SLOWDIVE "Alison"
5. TEENAGE FANCLUB "What You Do To Me"
6. MY BLOODY VALENTINE "You Made Me Realise"
7. SUGAR "If I Can't Change Your Mind"
8. FELT "All The People I Like Are Those That Are Dead"
9. SUPER FURRY ANIMALS "The Man Don't Give A Fuck"
10. THE BOO RADLEYS "Wish I Was Skinny"
11. ADORABLE "Sunshine Smile"
12. THE PASTELS "I'm Alright With You"
13. NIKKI SUDDEN "Jangle Town"
14. THE JESUS AND MARY CHAIN "Upside Down"
15. SWERVEDRIVER "Son Of Mustang Ford"
16. THE HOUSE OF LOVE "Christine"
17. RIDE "Dreams Burn Down"
18. PRIMAL SCREAM "Higher Than The Sun"

domingo, 18 de março de 2007

SINGLES BAR #6

THE DELGADOS
Pull The Wires From The Wall (Chemikal Underground, 1998)

Quando tive conhecimento da dissolução dos Delgados em 2005, pairou sobre mim aquela sensação amarga que, uns anos antes, tinha sentido a propósito do fim dos Afghan Whigs: mais uma boa banda que acaba sem nunca ter tido o reconhecimento merecido.
Sem ser a oitava maravilha do mundo, esta banda escocesa produziu uns quantos álbuns dignos de umas quantas audições e, sobretudo, um punhado de singles capazes de sensibilizar qualquer indie kid.
De entre todos esses singles, destacaria "Pull The Wires...", canção daquela beleza frágil e melancólica e de quietude ligeiramente bucólica. A harmoniosa voz de Emma Pollock encaixa na perfeição sobre aquela secção de cordas discreta, a evitar grandiloquências épicas supérfluas.
Curiosamente, um dos grandes entusiastas da banda foi o saudoso John Peel que, além de ter convidado a banda para inúmeras sessões (reunidas no CD duplo The Complete BBC Peel Sessions de 2006), tinha "Pull The Wires..." entre os seus temas de eleição nos últimos anos de vida.
Como compensação pelo fim inglório, resta-nos o consolo de os Delgados terem mantido viva a editora Chemikal Underground, fundada pela própria banda e responsável por algumas edições de relevo na profícua e eclética cena musical de Glasgow, como Mogwai, Arab Strap, Aerogramme e, obviamente, The Delgados.

UM REGRESSO INESPERADO

Quando fazemos referência ao post-punk norte-americano, por norma, vêm-nos à memória os movimentos No Wave e Mutant Disco, ambos com sede em Nova Iorque e com poucos pontos de intersecção com igual período da música britânica.
No entanto, e operando a partir de Los Angeles, houve pelo menos uma banda naquele país, de sua graça Savage Republic, contaminada pelo mesmo espírito de experimentalismo que as influências do kraut rock infligiam à música dos PiL (com quem chegaram a partilhar concertos).
Alternado canções mais convencionais com peças instrumentais, com uma percussão tribal sempre presente, e apresentando formações variáveis, os Savage Republic tinham no guitarrista Bruce Licher o elemento de coesão. Além disso, Licher era igualmente responsável pelo art work dos discos.
Quando cessaram funções em 1990 eram já um nome de grande culto no underground, sem no entanto fazerem grandes cedências, quer ao nível da música, quer ao nível da intervenção política. Ecos da sua música podem ser escutados em discos dos Slint, Tortoise, GY!BE, e mais recentemente nos Wilderness.
Vem tudo isto a propósito de uma boa notícia de que tive conhecimento de forma acidental através da web: os Savage Republic regressaram ao activo em 2005 e estão presentemente em digressão pela Europa (Portugal não incluído). Além disso, e coisa rara nestes regressos, têm uma nova edição discográfica: o EP Siam, editado pela Neurot Records, casa dos Neurosis.
Savage Republic no MySpace

quinta-feira, 15 de março de 2007

DISCOS PE(R)DIDOS #5

ELLIOTT SMITH
Either/Or (Kill Rock Stars, 1997; Domino, 1998)

Confesso que apenas muito pouco tempo antes da sua morte é que dei o devido valor ao génio de Elliott Smith. Confesso e penitencio-me por isso.
Já antes tinha ficado impressionado ao ver Elliott Smith completamente desenquadrado na cerimónia dos Óscares de 1998 a interpretar "Miss Misery", canção do filme Good Will Hunting de Gus Van Sant nomeada para a estatueta. Fiquei impressionado mas ainda assim não o suficiente para querer saber mais sobre aquela figura.
Mas, como antes tinha dito, por volta de 2003, apenas uma canção foi suficiente para o inevitável clique: "Speed Trials", faixa de entrada nesta obra sublime. Canção de uma pureza desarmante que me fez comprar Either/Or no dia seguinte à primeira audição.
E depois da audição integral os motivos de satisfação foram mais que muitos: "Ballad Of Big Nothing", "Pictures Of Me", "Rose Parade", "2:45 AM", tudo canções perfeitas que exprimem a mais profunda tristeza. Sim, porque Either/Or é um disco triste. A par de Pink Moon de Nick Drake dos mais tristes que conheço. Não daquela tristeza deprimida e poseur, mas de uma tristeza natural e honesta, cuja audição reconforta em vez de sufocar.
A música que acompanha as palavras de Smith, sem grandes floreados, apresenta-se igualmente no mais puro dos estados: quase só guitarra acústica e uma bateria básica aqui e ali. E é neste ponto que reside mais um dos trunfos de Either/Or: a produção de Tim Rothrock e Rob Schnapf (responsáveis pela descoberta de Beck) resume tudo ao essencial, o que dá a sensação de termos os músicos a tocar para nós na sala lá de casa.
Para os apreciadores de Elliott Smith e viciados em versões, como é o meu caso, fica uma sugestão: façam o favor de ouvir a deliciosa versão de "Ballad Of Big Nothing" que os Thermals fizeram para o tributo To: Elliott, From: Portland. Acho que o Homem também gostaria.

FILHO ÚNICO

A recém nascida Filho Único, nova promotora de espectáculos criada por Nelson Gomes e Pedro Gomes, até há pouco tempo programadores musicais da Galeria Zé dos Bois (ZdB), dá-nos uma grande alegria logo nos seus primeiros meses de vida: Bonnie 'Prince' Billy a 5 de Abril no Club Maxime (Lisboa). Um dia antes, o alter-ego de Will Oldham passa pelo Theatro Circo em Braga.
Mas há mais: Panda Bear (11/04 @ B.Leza), Ghost (03/05 @ Lux Frágil) e Charalambides (13/05 @ ZdB).
O nascimento de muitos irmãos para este 'filho único' é que se deseja por estes lados. Para ver se o panorama melhora de uma vez por todas...

quarta-feira, 14 de março de 2007

THE CONNECTION WAS MADE

Alguns anos antes de os Liars terem dado o pontapé de partida para a interminável recuperação da música do período post punk, já os londrinos Elastica tinham descoberto o filão desse período de ouro da música popular.
Incluídos no caldeirão do brit pop que em meados da década passada ditava regras, os Elastica não exibiam qualquer apego às lendas dos sixties como muitos dos seus contemporâneos, antes preferindo prestar homenagem àqueles que, no final da década seguinte, tinham aberto novos mundos à experimentação e ao conceito do it yourself. No entanto, os nomes que evocavam não eram aqueles que tinham uma pulsão dançante mais vincada, mas antes a facção mais arty da coisa: Wire e The Fall. A reverência era tal que, "Connection", a sua canção mais conhecida, pilhava descaradamente "Three Girl Rhumba" dos Wire, o que lhes valeu uma acusação de plágio por parte dos elementos da mítica banda.
"Connection", "Waking Up", "Stutter", "Line Up" e "Car Song" serão apenas os exemplos mais evidentes de mestria encontrados no álbum homónimo da estreia lançado em 1995, do qual poderiam ter sido extraídos tantos singles quantos os temas do disco, tal a homogeneidade exibida.
Depois de um período conturbado, no qual Justine Frischmann exerceu cada vez mais o controlo da banda, e em que se registaram as saídas de Annie Holland e Donna Matthews (a outra força criativa), era lançado finalmente The Menace (2000), segundo e derradeiro disco dos Elastica. Obra assombrada pelo fim da relação amorosa de Frischmann com Damon Albarn (Blur), The Menace revelou-se um disco mais confessional e experimental que o seu antecessor. Pontos altos são o intimismo sussurado de "My Sex" e a colobaração do herói Mark E. Smith (The Fall) em "How He Wrote Elastica Man", versão adulterada de um tema do próprio ao qual os Elastica foram buscar o nome de baptismo. Após o relativo fracasso deste seu segundo lançamento a banda comunicava o cessação da actividade em 2001.
Para todos aqueles que hoje veneram Yeah Yeah Yeahs, Giant Drag ou The Long Blondes, Elastica é um disco obrigatório.

segunda-feira, 12 de março de 2007

BANDAS DAS NOSSAS VIDAS

MICHAEL AZERRAD
Our Band Could Be Your Life - Scenes From the American Indie Underground 1981-1991


Para aqueles que pensam não ter havido vida no indie norte-americano antes dos Pixies, dos Nirvana ou dos Pavement, recomenda-se vivamente a leitura desta edição de 2001 da autoria do jornalista musical Michael Azerrad, cujo título foi retirado das primeiras palavras da canção "History Lesson, Pt. II" dos Minutemen.
Num retrato exaustivo, conhecedor e apaixonado, o autor dedica um capítulo a cada uma das bandas consideradas fudamentais no período em causa: Beat Happening, Big Black, Black Flag, Butthole Surfers, Dinosaur Jr., Fugazi, Hüsker Dü, Minor Threat, The Minutemen, Mission Of Burma, Mudhoney, The Replacements e Sonic Youth.
Como podem verificar, à excepção destes últimos, não são bandas que na altura tenham gozado de grande culto deste lado do Atlântico, mas que constituem um legado inestimável que urge reconhecer.
Se estiverem para aí virados, leiam e vão de seguida comprar toda a discografia dos Hüsker Dü. É um acto de justiça!

LOW NO ALQUIMISTA

Está anunciado no sítio oficial da banda do Minnesota: os Low irão dar um concerto no Santiago Alquimista (Lisboa) a 2 de Junho, um dia após a sua passagem pela edição deste ano do Primavera Sound de Barcelona.
Antes disso, a 20 de Março, irá ser lançado Drums And Guns, o seu oitavo álbum. O disco, inicialmente anunciado como The Violet Path, segundo declarações do líder Alan Sparhawk, tem como pano de fundo histórias de crime de sangue. A produção, à semelhança do que acontecera com o anterior The Great Destroyer, ficou a cargo do "Midas" David Fridmann.

domingo, 11 de março de 2007

EM ESCUTA #6

ARCADE FIRE
Neon Bible (Merge, 2007)

Cerca de dois anos e meio após da edição do excelente Funeral é já possível afirmar que esse disco não era perfeito, o que não deverá ser visto como redutor, e que os Arcade Fire acabaram por não ser os salvadores da música pop como alguma imprensa estabeleceu. Mas, defeitos menores à parte, é um dos grandes discos da década e deixou mossa, pelo que será legítimo ter grandes expectativas em relação a este Neon Bible.
Quem, como eu, tinha a remota esperança que a urgência e excelência de temas como "Laika" tivessem continuidade neste novo capítulo da vida do grupo de Montreal vai sair de Neon Bible com uma ligeira sensação de desapontamento. Em vez disso, com o recurso aos préstimos de uma orquestra húngara, o lado pomposo, épico e orquestral saem a ganhar na maioria dos temas. No entanto, o som abafado presente na maioria da obra levanta algumas questões em relação às opções da produção.
Coincidência, ou não, aqueles que muitas vezes são os temas dos quais pode depender o sucesso de um disco, são em Neon Bible os momentos menos conseguidos: o tema de abertura ("Black Mirror"), o tema-título e o primeiro single ("Intervention"). Neste último chega mesmo a ser confrangedor detectar as fragilidades da voz de Win Butler perante tamanha magnitude.
Num todo onde a sensação de déja vu é um fantasma omnipresente, os momentos de redenção acabam por ser os mais atípicos no "som Arcade Fire". Primeiro com a adição dos banjos a conferirem um travo folky a "Keep The Car Running" e, perdida lá no meio do disco, a beleza da springsteeana "(Antichrist Television Blues)". Com alguma condescendência, poderemos ainda destacar "No Cars Go", o tema mais catchy e funcional de Neon Bible e onde, por uma vez, o violino não tem aquele som de assobio irritante.
Mesmo assim, honra seja feita aos Arcade Fire que, preparados para entrar no estádio, encerram o seu ingresso no território arena rock com o exercício lo-fi de "My Body Is Cage", o que prova que ainda não renegaram de todo as suas raízes e deixa alguma esperança para um futuro que se espera melhor.

quarta-feira, 7 de março de 2007

SINGLES BAR #5

BILLY BRAGG
A New England (Charisma, 1983)

I don't want to change the world
I'm not looking for a new England
I'm just looking for another girl

Com estas singelas palavras, retiradas do refrão do seu primeiro single a solo, Billy Bragg definia o móbil primordial do rock'n'roll: as miúdas.
Admirador de Bob Dylan e dos Beatles em doses iguais, Billy Bragg, que antes tinha militado na banda punk Riff Raff, foi desde a primeira hora o grande patriota, amante dos ideais de esquerda, mas que aqui deixava bem claro que antes do cantor de protesto estava o homem, o rocker... Como suporte sonoro à verve de Bragg nos 2 minutos e 15 segundos deste belo exemplar de escrita, os mínimos recursos: apenas uma guitarra eléctrica (!), o que poderá soar estranho e rude a ouvidos menos preparados
Curiosamente, dois anos mais tarde da edição original de "A New England", uma afiliada de Bragg (a molograda Kirsty MacColl) levava uma versão aos lugares cimeiros das charts britânicos.
Mas o bardo também acabaria por ter os seus 15 minutos de fama: primeiro através de split single de caridade com os Wet Wet Wet (!!!), em que levou uma versão de "She's Leaving Home" (The Beatles) ao lugar mais desejado do top, e já em inícios dos anos noventa quando "Sexuality", na qual colaborava o amigo Johnny Marr, se tornou um hit a uma escala mais global.
Mas, para o protest singer, o momento de maior realização terá sido em finais da década passada a filha de Woody Guthrie convidou Bragg para musicar e gravar letras que o pai deixara. Para essas sessões contou com a colaboração dos Wilco e o resultado pode ser apreciado nos dois volumes de Mermaid Avenue.

MACACADAS - A 2.ª PARTE

O próximo dia 23 de Abril é a data marcada pela Domino Records para a edição de Favourite Worst Nightmare, o segundo álbum dos Arctic Monkeys - aquela banda que, na melhor tradição britânica iniciada pelos Kinks e com seguidores em The Jam e Blur, faz pequenos retratos do quotidiano da juventude em formato canção.
Depois de meio mundo se ter rendido ao registo anterior, por cá, as letras de fino recorte de Alex Turner e os brilhantes vídeos contaminados pelo realismo do cinema inglês (de Ken Loach a Mike Leigh) não foram suficientes para convencer as mesmas luminárias que, há quase duas décadas, torceram o nariz aos Stone Roses.
Será que é desta? Ou será que vão ter de esperar uns quinze anos como os Roses?

segunda-feira, 5 de março de 2007

DISCOS PE(R)DIDOS #4

THE WEDDING PRESENT
Seamonsters (RCA, 1991)

Herdeiros predilectos dos fãs órfãos dos Smiths, os Wedding Present tinham como imagem de marca primordial as guitarras chocalhadas e canções com títulos enormes, características que levavam os detractores da banda a afirmar que as canções eram todas iguais.
No entanto, em Bizarro (1989) iniciariam uma transformção na sua sonoridade que viria a atingir a plenitude neste que é um dos dez melhores discos dos anos noventa.
Para operar a revolução, nada melhor do que contratar os préstimos de Steve Albini que, em apenas dez dias de gravação, conferiria ao som da banda uma magnitude e uma rugosidade até aí desconhecidas.
O disco até começa de forma suave com os primeiros acordes de "Dalliance", que entretanto vai crescendo até atingir uma muralha de som intransponível. "Corduroy", já anteriormente editado em single, apresentava-se aqui numa nova versão ainda mais poderosa que o original: o "refrão" era apenas um riff monstro.
Em pólos opostos estão "Suck" e "Octopussy": o primeiro o tema mais raivoso e tenso de todo o disco, o segundo a encerrar Seamonsters num raro momento de candura.
Além da evidente metamorfose sónica, outro dado relevante são as letras e a voz de David Gedge, mais maduras e mais fortes que nunca. A matéria-prima da verve de Gedge, essa, era mais uma vez a dor-de-corno.
Curiosamente, e apesar de ter antecido Nevermind em alguns meses, Seamonsters é muitas vezes catalogado como o álbum grunge dos Wedding Present. É certo que a música aqui contida deve muito a referências norte-americanas, mas de grunge terá tanto como Bandwagonesque dos Teenage Fanclub, por exemplo.

domingo, 4 de março de 2007

SINGLES BAR #4

THE WALKMEN
The Rat (Record Collection, 2004)

Nascidos das cinzas das bandas Jonathan Fire*Eater e The Recoys e oriundos de Nova Iorque, os Walkmen foram à data da edição de Bows + Arrows, o seu segundo álbum, apressadamente e erradamente arrumados na prateleira da florescente cena do novo rock por esses dias em vigor naquela metrópole norte-americana.
Como se pode constatar pela simples audição desse álbum na íntegra, bem como do subsequente A Hundred Miles Off (2006), o terreno onde os Walkmen se movem é outro: embora sem grandes afinidades musicais com os Joy Division ou os Echo & The Bunnymen, exibem por outro lado letras de forte carga lírica e uma imagem que prima pela ausência de imagem, o que era traço característico desses pesos-pesados de outras eras. Arriscaria mesmo dizer, e apesar da abundante clonagem em tempos recentes, que os Walkmen são a banda nascida neste século que melhor adapta e recria a "filosofia" do mítico quarteto de Manchester.
Quanto a "The Rat", além de ser a faixa mais emblemática de Bows + Arrows e o maior "hit" dos Walkmen até à data, consegue ser uma espécie de "How Soon Is Now?" dos novos tempos, igualmente uma ode à auto-reclusão como forma de lidar com a timidez.
No entanto, o experimentalismo de Johnny Marr e os maneirismos de Morrissey são aqui substituídos por guitarras trepidantes, órgão e um vocal carregado daquela melancolia raivosa que os Hüsker Dü não desdenhariam.
Uma autêntica revelação na altura e o tema responsável por todo o meu (grande) interesse pelo trabalho desta banda.

quinta-feira, 1 de março de 2007

NÃO OLHEM PARA TRÁS!

As iniciativas Don't Look Back levadas a cabo pela All Tomorrow's Parties com alguma regularidade, e as quais consistem na recriação ao vivo de álbuns seminais na íntegra, têm este ano mais três grandes grandes concertos em prespectiva: Slint (Spiderland), Sonic Youth (Daydream Nation) e The House of Love (álbum homónimo de estreia).
Mas tudo isto irá acontecer em Londres e em salas de pequena lotação...
Por isso, talvez seja mais importante para os melómanos portugueses saber que a ATP vai ter representação no Primavera Sound a decorrer entre 31 de Maio e 2 de Junho em Barcelona.
É lá que os Melvins se atiram a Houdini, os Comets on Fire tocam Blue Cathedral e os Slint tocam o seu genial álbum de 1991.
Só por estes últimos já valeria a pena uma ida à Catalunha, mas há mais: Low, Modest Mouse, Isis, Grizzly Bear, Dirty Three, Pelican, Band of Horses, Explosions in the Sky... e isto apenas no palco ATP...