"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Good cover versions #84















PAUL QUINN & EDWYN COLLINS - "Pale Blue Eyes" [Swamplands, 1984]
[Original: The Velvet Underground (1969)]

Perdoem-me a heresia, mas, sem qualquer desprimor para os dois primeiros trabalhos dos The Velvet Undeground, ultimamente ando mais inclinado para atribuir ao terceiro - e homónimo - álbum o estatuto de obra magna da banda. É certa e sabida a herança ao nível da influência do "disco da banana" (1967), embora tenhamos que reconhecer que em certa medida é um exercício de estilo da decadência encenado por Andy Warhol, o qual ainda impingiu à banda a presença gélida de Nico, com a inerente aura fatal. Também é verdade que White Light/White Heat (1968) é o apogeu da experimentação dos Velvets, por via da formação académica de John Cale, embora seja um disco que, pelas suas características, exija predisposição para a audição.

Já o terceiro The Velvet Undeground, e primeiro após a partida do erudito galês, é o disco em que Lou Reed se liberta de quaisquer as amarras, assume o comando absoluto, e revela-se como mestre escritor de canções. Ao todo são dez as canções, ternas, melancólicas, românticas, e reduzidas à essência, e entre elas sobressai "Pale Blue Eyes". Quase o paradigma da pura canção de amor, este tema é desprovido de qualquer adiposidade, reduzindo-se à linha de guitarra delicada, à pandeireta apenas para marcar compasso, e à voz de Reed num estado de encantamento que lhe era desconhecido. O simplismo da produção, quase como se o tema tivesse sido gravado dentro de um armário, é uma mais-valia ao nível do intimismo e da proximidade com o ouvinte.

Entre os muitos herdeiros - e talvez dos primeiros reconhecidos como tal - dos Velvets destaca-se Edwyn Collins, que ao leme dos Orange Juice cometeu a proeza de conjugar o minimalismo dos nova-iorquinos com os ritmos funk e soul. Seu já velho comparsa dos tempos de escola em Glasgow, colaborador pontual nos coros dos Orange Juice, e vocalista dos promissores mas efémeros Bourgie Bourgie, Paul Quinn tem a voz indicada para extrair de "Pale Blue Eyes" a essência da beleza em forma de canção pop. A versão que ambos fazem é reverente, é certo, mas ao mesmo tempo muito personalizada, aspirando à grandiosidade por oposição à discrição do original. Collins remete-se à guitarra, que fiel ponto por ponto exala uma surpreendente luminosidade que estava totalmente ausente da quase letargia da génese. O resto, que aqui se traduz pelo papel principal, é a voz de Quinn, cantor dado ao dramatismo acentuado, que realça o romantismo da canção, não sem injectar também algo de iminentemente trágico.



1 comentário:

O Puto disse...

Desconhecia esta maravilhosa versão. Obrigado, caro M.A.!