"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Who's in control?
















Penso que não é preciso ser-se um visitante assíduo deste pasquim para já se ter percebido que, por cá, já fizemos as pazes com a Austrália. Com efeito, já não é de hoje que andamos a celebrar que, num ápice, a grande ilha tenha sido pasto de um bom número das maiores aberrações musicais do passado recente, e se tenha tornado terra fértil nos mais obtusos - por norma, os mais estimulantes - projectos. O que de lá tem vindo, nos últimos dois/três anos, tem ainda a particularidade de ter a rejeição das convenções como único denominador comum. Portanto, não é fácil estabelecer paralelismos, por exemplo, entre os Total Control e qualquer dos seus contemporâneos australianos. Foi este colectivo que, em 2011, quis (e conseguiu!) transportar a new-wave para o espaço sideral. O disco em questão chamava-se Henge Beat, e era um bom argumento para quem defende que ainda há alguma palavra a dizer em matéria da exploração do caldeirão post-punk.

Ainda melhor argumento para aquela tese é o novo Typical System, disco que nos leva a crer que a banda tenha dissecado ao pormenor do tríptico de álbuns inicial e fundamental dos britânicos Wire. As afinidades estéticas até nem são propriamente evidentes, mas há também nestes novos Total Control uma vontade de subverter as convenções da canção pop que é de assinalar. Em consequência, é um disco extremamente variado, característica que poderá também ser efeito das diferentes sensibilidades envolvidas, já que os elementos da banda ainda se ocupam com projectos paralelos bastante díspares, que vão da electrónica tout court ao hardcore mais ortodoxo, passando pelo rock mais sujo e disfuncional. Não se adivinhando se por por postura arty, se por militância convicta, Typical System tem em si algo de niilista, quer nos processos pouco óbvios, quer nas frases do tipo slogan que quase todas as canções repetem. Um passo à frente do seu antecessor, refreia o frenesim electrónico numa espécie de minimal wave revisitada, devidamente alternada com um bom número de temas mais orgânicos e abrasivos. Nestes, há nos Total Control uma austeridade que os aproxima da tensão dos Iceage. Mas, se os dinamarqueses são uma espécie de poseurs impenetráveis, os de Melbourne são condescendentes com o ritmo, nomeadamente por meio de um pulsar motorik que marca o compasso de quase todos os dez temas. Resumindo a coisa para os cépticos, Typical System é um disco de fontes facilmente identificáveis, mas combinadas com uma argúcia nada óbvia, algo só ao alcance das bandas com sangue na guelra. Como tal, tem a particularidade, de renovar a frescura e revelar novos detalhes a cada audição.

[Iron Lung, 2014]


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