THE HOUSE OF LOVE
Destroy The Heart
[Creation, 1988]
Com um nome como The House of Love, retirado de um título da escritora francesa Anaïs Nin, adivinha-se a carga erótica contida nas canções da banda que mais agitou o meio indie de finais de oitentas. Essa era uma característica antagónica ao teor normalmente assexuado dos temas dos The Smiths, dos quais os londrinos chegaram a ser apontados como herdeiros junto de um público letrado e sensível. A apurar o olho clínico que se lhe reconhece, Alan McGee detectou-lhes o potencial, e juntou-os à família Creation Records, então na eminência de se tornar a mais excitante editora independente do Reino Unido. Com este selo lançaram dois temas retumbantes em formato single, ambos prenhes de um romantismo exacerbado: "Shine On", que seria posteriormente regravado numa versão mais pomposa mas inferior, e "Christine", espécie de ponte entre a jangle pop e o shoegaze. Lançaram ainda um álbum homónimo, que inclui o último destes temas, cuja óptima recepção deixou as multinacionais em alerta para a inevitável mudança de divisão.
Como carta de despedida da Creation, "Destroy The Heart" é o justo reconhecimento por quem primeiro acreditou na banda, já que é o mais fulgurante dos muitos temas bestiais que os House of Love registaram nesta primeira fase. Numa urgência condensada em menos de três minutos, o vocalista Guy Chadwick e o guitarrista Terry Bickers justificam as comparações à dupla criativa Morrissey/Marr, o primeiro num hiper-romantismo bigger than life, o último capaz de uma gama de riffs variados e crepitantes. Porém, num registo mais vivaz do que era comum nos de Manchester, e muito por culpa da bateria cavalgante, os House of Love estão perto de inaugurar o estilo celebratório do clássico primeiro álbum dos Stone Roses. Apenas perto porque a matéria de que é feito "Destroy The Heart" é algo grave, um pouco à semelhança do que faziam os Hüsker Dü da fase derradeira, depois da fúria hardcore ter dado lugar à tendência para a pop profusamente emocional e passivo-agressiva. Contrastando com a grandiloquência entremeada pelo fade in inicial e o mais abrupto fade out do final, o vídeo promocional é de um minimalismo alarmante, algo em voga no circuito indie de então, e que os House of Love já haviam experimentado para promover o tema "Christine".
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