"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Animal à solta
















Embora o termo indie ainda seja usado e abusado nos tempos que correm, raramente o vemos associado ao verdadeiro conceito de independência surgido na Grã-Bretanha post-punk de finais de setentas. Talvez o grande cisma tenha ocorrido em plena explosão "alternativa" da primeira metade da década de 1990, quando um bom número de produtos subitamente vendáveis não resistiram à tentação das ofertas da indústria. Como consequência, a independência genuína foi remetida a um nicho underground, do qual raramente eclodem projectos com franca visibilidade, sem que para isso tenham de sacrificar os princípios. O caso recente mais notório é o dos nova-iorquinos Parquet Courts, que tiveram a ousadia de lançar o seu primeiro álbum (American Specialities, de 2011) apenas em registo cassete de tiragem bastante limitada. Já nos formatos convencionais, Light Up Gold (2012) tinha a particularidade, tal como o antecessor, de ser auto-editado. Fruto do passa-palavra, este segundo álbum, com artwork fiel aos princípios do-it-yourself, mereceu aprovação dos Parquet Courts para uma distribuição mais alargada por parte da What's Your Rupture? apenas porque também editora embarca em idênticos processos aos da banda, nomeadamente com o lançamento frequente de 7" de tiragem limitadíssima.

Relativamente ao disco que fez dos Parquet Courts uma das bandas mais excitantes da actualidade, muitos, com algum cepticismo, o reduziram a um descendente directo dos Pavement. É um facto que o tom de Andrew Savage em muito se assemelha à ironia quase dandy de um Stephen Malkmus, mas menosprezar aquele ennui - característico e algo em desuso - próprio da era post-hardcore revela alguma preguiça nas análises. As comparações talvez refreiem com o novo Sunbathing Animal, apenas com ecos tímidos daqueles patronos indie, e a querer apontar à emulação de alguns históricos da cidade que acolheu os Parquet Courts, vindos do Texas. Assim, um bom número dos treze temas é ensombrado pelo fantasma dos Television, incluindo longos devaneios instrumentais de rigor assinalável e tiradas curtas e secas ao melhor estilo da displicência de um Tom Veralaine. Menos presente, mas também facilmente detectável é o minimalismo atonal de uns Velvet Underground. Não se fixando exclusivamente em Nova Iorque, os Parquet Courts dão um salto à Londres arty dos Wire, mais por via da secura que domina o disco, do que propriamente pela via estética. Antes de se julgar Sunbathing Animal como apenas mais um somatório de boas referências, convém referir que o cunho pessoal da banda está ainda bem patente na mesma deriva post-harcore que caracterizava o antecessor. Talvez mais cerebral que enérgico, este novo álbum tem ainda um bom número de petardos da adrenalina que fizeram dos Parquet Courts uma das maiores revelações em cima de um palco a que assisti nos últimos anos.

Dear Ramona by Parquet Courts on Grooveshark
[What's Your Rupture?, 2014]

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