"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

domingo, 13 de abril de 2014

The future is unwritten


















Mais ou menos por esta altura do ano, em 2011, o mundo pop/rock era sacudido pela pedrado no charco de Past Life Martyred Saints. Este era o segundo trabalho, e primeiro com distribuição e divulgação decentes, de Erika M. Anderson, que adoptava o nome artístico abreviado de EMA, moça com passado ligado a bandas da facção noise/drone. As marcas desse passado não estavam totalmente ausentes de Past Life..., e eram até um ingrediente muito peculiar na subversão da ortodoxia das canções. Por outro lado, essas interferências eram factor de incremento da crueza dos temas, na sua maioria a ruminar com as memórias de um passado irreversível na interioridade do Dakota do Sul, deixado para trás quando a autora rumou à terra das oportunidades da Califórnia.

Três anos passaram, e este foi o tempo suficiente para EMA maturar ideias que apresenta no novo e ansiosamente aguardado The Future's Void, disco claramente mais polido mas igualmente cru na sua abordagem muito pessoal. Não obstante essa limpeza deliberada, a visceralidade ainda é um ponto forte, bem patente na densidade dos sintetizadores de "Satellites" ou na opressão da batida de "Neuromacer". Há claras reminiscências dos sons "alternativos" de noventas, tangencialmente no número considerável de semi-baladas confessionais capazes de fazer a inveja de Dee Dee "Dum Dum Girl" Penny, mas sobretudo no travo grungy de "So Blonde", com ecos de uns Hole da melhor forma ou até de uma PJ Harvey dos primórdios. Este último é uma visão algo irónica, mas essencialmente ambígua, do glamour californiano, e provavelmente o único tema que se desvia da linha temática de The Future's Void, na essência um álbum conceptual em torno do vazio e da impessoalidade das vidas na sociedade actual, vividas na frieza da internet e das redes sociais. A rejeição de EMA por esta suposta modernidade leva-a, inclusive, a admitir a nostalgia pelos temores de um passado não muito distante: "I remember when the world was divided by a wall of concrete and a cube full of iron", diz em "Satellites". Correndo o risco de rapidamente perder a actualidade, e além disso ao abordar algo já amplamente discorrido, EMA ganha a aposta sobretudo pela intensidade com que se envolve em cada tema, normalmente com significativa maleabilidade na voz. Sendo o futuro da artista, ainda relativamente jovem, uma incógnita, dois discos desta pujança de enfiada não é algo de que muitos contemporâneos se possam orgulhar.

 
"Satellites" [Matador, 2014]

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